Violência

991 73 144
                                    


Sangue.

Aquele líquido vital, quente e espesso cobria meu corpo, deixando minha roupa melada, grudenta.

Eu queria saber quanto tempo tinha se passado, se era manhã ou noite, mas a única coisa que sabia, era que fazia pouco tempo desde o experimento do doutor.

Merlyn assistiu tudo, sorrindo, enquanto eu gritava, sem nenhuma anestesia, sentido o bisturi penetrar minha pele, cutucando meu interior, expulsando sangue de meus órgãos feridos.

O trapo que chamavam de cama, era extremamente desconfortável, minha coluna berrava, no entanto era impossível sair daquela posição; me mover era um luxo que a dor não permitia, estava aprisionada em meu próprio corpo.

Encarava o teto, a tinta desgastada, podia jurar que nas elevações irregulares do gesso tinha silhuetas de rostos desesperados, agoniados, gritando enquanto me encaravam com os olhos de tinta desbotada.

— Parem de me olhar! — Gritei com as silhuetas do teto. A única parte que eu era capaz de mover, era meu rosto, então lutei para fazer uma expressão perigosa, para espantar aquelas silhuetas. — Saíam daqui! Eu também estou sofrendo!

— Lydia, Lydia— A voz doce e decepcionada invadiu meus ouvidos. — Quando vai parar de brigar com o quarto?

— Saía você também! Quero ficar sozinha, Allison! — Gritei com ela, sem sequer me importar em virar a cabeça para olha-la.

— Shh, coitadinha da Lydia, será que você não entende que eu só existo na sua cabeça?

— Se está só na minha mente, estou mandando que desapareça!

— Nem mesmo nessa situação vai deixar sua arrogância? — Pude perceber que a voz se aproximava e então, o rosto de Allison surgiu quando ela encostou na minha cama. — O que eles fizeram dessa vez?

Eu preferia mil vezes quando a Allison estava viva, pois essa caçadora, que se solidificava no meu quarto quando eu estava por muito tempo sozinha, era extremamente irritante.

Ela tinha uma expressão debochada e curiosa, cutucou minha cabeça com o dedo fino e logo em seguida passou a mão pela ferida ainda aberta no meu ventre.

Resmunguei, ainda sem mover, sabendo que só pioraria minha dor e fechei os olhos com força, sem encarar Allison e sem dizer uma única palavra.

— Pelo visto você quer ficar quieta, mas não tem importância, eu tenho mesmo muito o que falar. — Não reagi a sua voz e então escutei seu suspiro. — Você tem que planejar logo como vai sair daqui.

— Você sabe que é impossível.

— É impossível se continuar sendo estúpida, tentando cavar o chão com a mão! Você era mais inteligente, Martin, está me decepcionando muito.

— E você está me irritando.

— Estou te ajudando, é diferente. Você por acaso desistiu de se vingar deles? — Finalmente abri os olhos e os revirei até encontrar Allison, que estava sentada no chão, grudada no ferro da cama. — No início você só falava disso, como ia mata-los.

— Eu ainda vou. — Falei com firmeza e fúria.

Allison sorriu.

— É isso que eu gosto de ouvir, determinação, mas você precisa se planejar. Acha que vai ser fácil matá-los assim? Não podemos esquecer que são seres sobrenaturais.

— Eles são estúpidos, Scott nem sequer vai reagir e depois de matar o Alfa, o resto vai ser fácil.

— Mas para isso precisa sair daqui.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora