Toque

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— Está melhor, Lydia? — Ele perguntou com a voz doce, preocupada, após longos minutos de silêncio, eu estava deitada em uma cama grande e ele estava abaixado, perto de mim.

— Por que vocês foram lá depois de um ano? Se não me tiraram antes, por que vieram agora? — Ignorei a falsa preocupação de Stiles e perguntei, arfando, ainda com dificuldade de respirar, encarando o teto claro.

— Nós nunca paramos de procura-la, você não tem ideia de como tudo virou um caos quando você sumiu.

— Então fala, conta o que aconteceu e me convença de que não está mentindo. —Permaneci sem o encarar, me perguntando se era uma boa hora para chamar Allison.

— Não sei por onde começar. — O sussurro, aparentemente cabisbaixo do garoto, me fez encara-lo por um instante, irritada.

— Como eu fui levada? Scott só disse que eu estava com você e que bateram na sua cabeça. — Cuspi o nome de Scott, enojada por proferir aquilo e vi Stiles estremecer.

— Você tinha ficado na minha casa até de madrugada e eu estava a levando para casa, já estávamos chegando e paramos para conversar. — Ele suspirou no meio da fala. — Você estava linda com um vestido azul e animada porque me fez não sair com a Malia naquele dia e ficamos vendo todos os filmes bobos que você queria. — Stiles soltou uma risada baixa, como se lembrasse e eu senti minha garganta fechar, pois flashes daquele dia me invadiram. — Aí veio uma dor aguda na minha cabeça, só tive tempo de ver sua expressão de pavor e tudo ficou escuro. Quando abri os olhos, estava caído no chão e um homem a segurava, você gritava muito, me chamava.

Ele parou de falar e eu me senti desconfortável de um jeito estranho. Não queria acreditar no que ele dizia, não podia, mas sua voz grave parecia sincera, a expressão era de culpa e algo em meu subconsciente gritava que eu me lembrava daquele desespero, que lembrava de vê-lo caído no chão, sem que eu pudesse me refugiar em seus braços.

— O homem que estava com você correu até um carro preto, bateu na sua cabeça até você desmaiar e te colocou lá. — Observei que as mãos de Stiles tremiam. — Fui para o Jeep, que estava perto, persegui o carro e não consegui ligar para ninguém porque meu celular tinha descarregado. Eu o segui por vários quilômetros, até que ele parou perto da floresta e te levou para lá. Desci do Jeep e continuei seguindo, não sabia o que fazer, mas precisava tentar, então corri atrás do homem, na esperança que conseguisse bater nele, mas foi aí que ele virou e me deu um tiro.

— Um tiro? — Pateticamente, repeti o que o garoto falou, o que Scott também tinha dito.

Stiles, visivelmente transtornado, ergueu o corpo e levantou um pouco a blusa. Em seu abdômen, do lado esquerdo, tinha uma pequena cicatriz, mais funda e rosado do que o resto de sua pele, redonda e se destacando no corpo muito pálido.

Se ele estivesse mentido, como teria uma marca de tiro?

— No tempo que eu fiquei caído, perdi vocês de vista. Continuei a procurando por horas, me perdi na floresta e segundo Melissa, desmaiei porque perdi muito sangue. — Ele revirou os olhos e pela sua expressão, pude perceber que julgava aquilo como besteira. — Scott me encontrou no dia seguinte, passei a noite lá, no meio do nada e aquela foi a primeira vez que me arrependi de não ter me transformado em lobisomem. Nunca tinha desejado isso, mas se eu fosse rápido o suficiente, forte o suficiente, se me curasse, nada disso teria acontecido. — Ele encarou o chão e eu voltei a olhar para o teto. — Se você não tivesse comigo naquela hora, se fosse qualquer outra pessoa, isso não teria acontecido.

Ainda tinha muitas perguntas, aquilo não explicava porque fiquei tanto tempo lá, mas desisti de perguntar qualquer outra coisa. O silêncio pairou sobre nós, pois eu estava ocupada com meus questionamentos internos e ele parecia entretido com as mãos trêmulas.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora