Helena
Uma semana se passou e eu decidi mudar minha tática, sempre que Clarisse começa com seu acesso de fúria eu paro a aula pego uma cadeira e sento com ela no canto, olho em seus olhos e digo que se ela continuar assim ficará de castigo todas as vezes, e quando ela é boazinha e respeita a todos eu dou uma balinha para ela no final da aula. Você deve pensar que estou comprando ela, na verdade estou comprando a todos. Com medo de que meus alunos copiassem esse mal comportamento, toda aula prometo um brinde que só ganhará quem tiver um bom comportamento durante a aula, tem ajudado.
Também coloquei Clarisse sentada perto da porta onde ela sente que não esta em um local tão fechado. Preciso saber o porque desse medo, se ela sempre o teve, se é claustrofobia ou algo assim. Pensei em falar com o seu pai, mas depois da briga ele não voltou a escola e estou sem graça em chama-lo aqui, vai que ele questiona de novo meu trabalho. Se ele está quieto deixo ele por enquanto lá e aos poucos vou tentando fazer com que Clarisse se sinta mais confortável e menos nervosa.
A aula acaba e espero que os pais e babás busquem seus filhos, junto minhas coisas e vou para o estacionamento, para pegar meu carro, antes que eu chegue nele começo a sentir gotinhas caindo e corro. Mal chego e fecho a porta e escuto um estrondo, a impressão que tenho é que abriram uma válvula de água lá no céu. Ligo o limpador e saio dirigindo bem devagar, não dá pra ver quase nada. O sinal tá aberto, ou fechado? Penso. Acho que aberto. Dirijo assim um tempo até que resolvo que parar deve ser a melhor opção.
Ligo a seta para a direita e me preparo para encostar, diminuo e jogo o carro, escuto um barulho de freada e um barulho forte ao atingirem minha traseira. Não acredito! Respiro fundo, eu estava dando seta. Será possível? O carro atrás de mim joga seta também para a direita indicando que vai encostar. Termino de encostar meu carro e vejo que estamos perto de um toldo, desligo o carro.
A pessoa que bateu em mim sai do carro e corre para debaixo do toldo, é um homem, depois dizem que as mulheres que dirigem mal, vê se pode! Decido descer e ir correndo também para debaixo do toldo para ver como ele vai pagar o estrago no meu carro. Ah e ele vai pagar!
Me preparo, respiro fundo e saio correndo desesperada fechando a porta do carro no meio da corrida e indo em direção ao toldo, chegando lá dou uma sacudida no corpo, uma corrida de dez segundos e já deu pra molhar bastante.
- Ah não acredito, tinha que ser, só podia ser, haha, impressionante mesmo. - diz o homem debaixo do toldo sendo irônico em sua voz-.
Me viro para ele e levo um susto. Não pode ser, a vida está de brincadeira comigo. Augusto está ali me olhando com raiva e eu vou ficando nervosa a cada segundo em que olho seu sorrisinho irônico.
- Ah claro você, quem diria né? Impressionante mesmo, você sabe que quem bate atrás que está errado não é? Eu estava dando seta e você ainda bate no meu carro! - respondo com a raiva já dominando minha voz.
- 'Quem bate atrás que está errado' - ele imita minha voz de uma maneira muito espalhafatosa o que aumenta minha raiva - nesse caso você estava errada sim. Aqui não pode encostar é proibido, viu a placa não? Só encostei porque batemos!
- Quer que eu veja placa de sinalização com essa chuva? Querido estou custando ver se o sinal tá aberto ou fechado, já que enxerga tanto, porque não viu minha seta?
- Eu vi sua seta, o problema é que pensei que ia virar na próxima esquina e não encostar do nada e em local proibido de parar e estacionar!
- Quem está atrás deve ficar preparado para tudo e eu dei seta, já devia saber que eu faria algo, assim deveria ter diminuído.
- Haha, além de ser uma péssima professora, é pior ainda como motorista.
- Ah seu abusado, que direito você acha que tem de falar assim comigo? E nem adianta, bateu atrás vai ter que pagar. - Cruzo os braços e o olho em desafio, devo parecer uma criança, mas ele me tira do sério.
- Eu até poderia pagar, mas como se trata de você e aqui o local é proibido de encostar, vou esperar a chuva acabar para virem aqui averiguar a cena e falar quem é culpado, só pago diante um advogado.
Só pode ser brincadeira.
- Olha aqui, não tô nem aí se você é uma pessoa que não tem mais o que fazer mas eu preciso ir embora logo, já sei que foi você que bateu então te mando a conta. - Digo e saio andando para a borda do toldo para me preparar para correr de volta. Sinto sua mão segurar meu braço e me puxar de volta.
- Ah você não vai mexer nesse carro até a perícia chegar. - ele diz sério.
- Você ouviu que eu preciso ir embora? EMBORA! Você bateu atrás, você que paga.
- Não é para tirar o carro.
- Vou tirar o carro sim!
- Não vai não.
Ele me segura e eu puxo o braço me soltando, corro para a chuva e ele vem atrás e tenta me segurar, eu meto tapas para todo lado nele, ele segura meu braço e me leva para debaixo do toldo e eu dou outro tapa nele e saio para ir embora de novo. Então ele me agarra pela cintura e eu começo a bater as pernas desesperada. Quem ele pensa que é?
- Argh, me solta! Quem você pensa que é, me larga agora.
Ele me coloca de volta com os pés no chão e eu viro brava para ele. E então ele começa a rir. Sério isso produção? Ele tá rindo de mim.
- Haha olha sua cara, você parece um panda. Hahahahah. Tá tudo... Haha... Tá tudo borrado. E... E você bravinha, hahaha, parece um panda com raiva!
Passo o dedo debaixo do olho e sai tudo preto. Misericórdia! Corro para a beirada do toldo e ele vem atrás preocupado que eu estivesse indo embora. Paro e pego água da chuva com a mão e começo a lavar o rosto. Ele fica lá do meu lado olhando tudo. Então ele pega um lenço do bolso, molha na água e vem pra cima de mim, me afasto e ele impaciente mostra o lenço e aponta para mim. Relaxo. Ele vem e coloca sua mão no meu queixo e começa a limpar meu rosto. Sua mão é quentinha, como pode? Nesse frio e ele quentinho assim? Minhas mãos parecem pedras de gelo. Sem querer começo a imaginar essa mão quente em outros lugares, sinto meu coração acelerar e desejo que ele limpe logo. Seu rosto está mais ameno, até tranquilo.
- Pronto. Novinha em folha! Agora dá para ficar quieta ali debaixo comigo e esperar a chuva passar? E aí decidimos o que vamos fazer.
- Mas foi você que bateu em mim!
Sua cara começa a se fechar de novo. Respiro fundo.
- Tudo bem, só espero que essa chuva passe logo! - digo e volto lá pro fundo do toldo com ele.
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Uma pestinha me trouxe o amor (Completo)
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