Uma pestinha me trouxe o amor (Completo)

Capítulo 16

Helena

Corro para tirar Clarisse de perto de Analice e aviso que Analice ficará de castigo quando voltarmos do recreio. Olho para Clarisse que chora e digo que irá ficar tudo bem ela fecha a cara.

- Você não é minha mamãe, ela morreu, não vai tomar o lugar dela. Você é feia, mamãe era linda, sua bruxa!

Ela então se solta de mim e corre para se sentar em um banco afastado do parque, vejo suas lágrimas escorrendo e decido deixar ela sozinha, afinal não sei o que dizer a ela, estou meio pasma e sem reação, não imaginei que um vídeo bobo assim iria ter essa repercussão. Tudo bem, ele não é bobo assim, mas chegarem ao ponto de me chamar de vadia e acreditarem que eu estou com Augusto, só porque bati na cara dele e carreguei ele bêbado para dentro?

Alguns minutos depois o sino toca e eu levo a turma de volta em fila para a sala, por onde passo as professoras me encaram e cochicham uma com as outras, tenho vontade de gritar e xingar todas elas, mas vou gritar o que? Causar um escândalo chamaria mais ainda a atenção para mim e no final ainda poderia ser demitida. Minha vontade é sair correndo e chorar, me desculpem mas odeio ser julgada, ainda mais por ser vadia, sendo que nem beijo eu dei nesse homem. 

Uma cena de um beijo picante com o Augusto vem na minha mente e eu a corto imediatamente, sentindo raiva de mim mesma, como posso pensar em uma coisa dessas agora? Os alunos entram na sala, Analice senta em um canto de castigo e Clarisse senta em outro chorando silenciosamente. Ah não tem como piorar meu dia!

Fazemos a atividade e no final os alunos se aprontam para sair. Coloco eles sentados perto das mochilas e espero o sinal. Quando ele toca coloco os alunos em fila, cada um com sua mochila e levo ao pátio em frente a recepção, onde os pais buscam os filhos. 

Cada mãe que chega e me olha com desdém, desgosto ou vergonha, me faz sentir um aperto no peito, ninguém me pergunta nada, não sabem minha versão, não sabem de nada, mas julgam o que vêem no vídeo como verdade absoluta, sendo que neste vídeo não aparece em momento nenhum uma cena que comprove que eu e Augusto temos algo. Uma simples amiga poderia carregar um cara bêbado para casa. Mas sempre pensam no pior, esse povo de mente suja.

A babá de Clarisse busca ela e vai embora, sem falar muita coisa, acredito que ela viu o vídeo, afinal quem não viu, não é mesmo?

Débora é a pior delas, chega e pega Analice pelo braço.

- Débora, só um instante, preciso falar sobre Analice com você.

Ela para e se vira para mim, me olhando de cima com cara de nojo. Há! Quem estava dando em cima, quase se esfregando no Augusto semana passada? Agora está aqui me olhando como se fosse melhor do que eu, mais pura do que eu, sendo que eu nem tive nada com ele, que mulherzinha cara de pau. 

- O que quer falar da minha filha?

- O comportamento dela hoje, não foi correto, ela bateu na Clarisse duas vezes, sendo assim coloquei ela de castigo, gostaria que reforçasse o ensino em casa, explicando para ela sobre bater nos colegas, se possível.

- Minha filha não é de bater em ninguém, ela é super educada, deve ser um mal entendido. Não vou "reforçar" nada em casa, a educação dela em casa já é completa. - Ela diz reforçar com ironia na voz - Se ela implicou com a Clarisse deve ter um motivo.

- É porque mamãe, agora que você disse que a tia Helena é mamãe da Clarisse, ela...

Olhando para Analice a cortei respondendo calmamente. 

- Não sou mãe da Clarisse, sou apenas professora dela. Isso é um mal entendido.

- Mal entendido, puf! Eu entendo minha filha, ela está com ciúmes de que você fique mais a favor da Clarisse do que do resto da turma e sendo assim a favoreça, já que agora ela deve ser sua favorita.

- Não tem nada de favorita, eu não estou tendo relação nenhuma com o pai dela...

- Eu não me importo com suas saídas por ai, mesmo achando um desaforo ser um pai a sua escolha, só peço que isso não interfira na educação da minha filha. Vamos Analice.

Puxando a menina pelo braço, ela sai em direção ao estacionamento, sem me deixar responder. Mas ainda bem que ela foi, estava a ponto de perder a paciência com ela. Olho para minha mão e ela está tremendo de tanta raiva que sinto.

Vejo Débora abrindo o carro e sentando sua filha atrás, e uma pessoa surge andando pelo estacionamento, ela olha para o lado vendo ele passar, todo mundo observa ele chegar, ele anda calmamente pelos carros e depois pela calçada e por fim no pátio, até que para na minha frente. O pátio fica em um silêncio repentino.

- Precisamos conversar. - ele parece inquieto e enfia as mãos no bolso -.

- Estou ocupada, tenho que esperar todas as crianças serem buscadas. - Mal olho para ele, devo estar vermelha como um tomate, o que só deve estar fazendo as pessoas a nossa volta pensar mais errado de nós.

- Eu, eu vou te esperar no carro no estacionamento. - ele diz.

Agora devo estar roxa.

- Hum, ok. 

Digo meio rouca e logo limpo minha garganta. 

Ele se vira e sai andando, todos os olhares estão sobre nós dois. Mas que merda eu fui me meter.

Espero até que a última criança vá embora, entro em minha sala e pego minhas coisas. Mando mensagem para Ellen avisando  que vou enrolar e que ela vá para  casa de Angélica sua amiga, que  mais tarde passo lá e busco ela. Ela só responde com um ok. Ajeito as cadeiras, arrumo as atividades em ordem. Sim estou enrolando, não sei onde enfiar minha cara. Imagino o que ele deve ter ouvido por aí sobre este vídeo para ter vindo aqui me ver na escola. Será que vamos voltar a brigar? Não estou com cabeça para brigar. Estou a ponto de cair no choro.

Decido que não adianta mais enrolar e saio da sala. Praticamente todas as professoras já foram embora. A escola está vazia. Vou até o estacionamento e avisto o carro dele ao longe. Estava na esperança de que ele tivesse desistido e ido embora, depois de tanta demora minha, afinal, o que vamos conversar? O vídeo já está espalhado para todo lado, não tem como desfazer isso. As pessoas já me julgam. Já está tudo uma porcaria.

Caminho até seu carro e chego ao vidro do lado do motorista.

- Oi.

- Demorou bastante. Achei que não ia sair mais.

Fico calada. O que vou dizer?

- Vamos almoçar juntos? Precisamos conversar.

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Próximo capítulo promete.

Bjus.