Capítulo 3

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Saí da escola louca de raiva. Quem esse cara pensa que é? Que pai mais insolente. O que ele tem de bonito, tem de mal educado e mimado. Tem a quem puxar a pequena Clarisse. Por isso que a menina está daquele jeito, a mãe morre e o pai é claramente desequilibrado.

Entro no carro bufando. Coloco meu celular no suporte e ligo para Ludmyla, preciso desabafar.

- Oii!

- Oi Lud. Onde você está?

- Hoje sai mais cedo da escola, estou no shopping comprando um sapato. E você? Está saindo da escola agora?

- Sim, o que vai fazer mais tarde?

- Tenho umas provas para corrigir, porque?

- Trás suas provas para minha casa que te ajudo a corrigir enquanto a gente conversa, preciso desabafar amiga.

- Nossa, o que houve? Ah meu Deus você já foi demitida?

- Não, se bem que não sei se duro mais nesse trabalho, bom te explico lá em casa. Vou passar no mercado e comprar sorvete pra gente tá?

- Você sempre me compra com sorvete! Haha. Tá bom. Amiga. Tô terminando. Te encontro lá na portaria do seu condomínio ok?

- Tá ok, beijos, te amo.

- Tambem te amo, beijocas.

E assim ela desliga.

Corro para o supermercado e compro um sorvete de leite ninho com calda de chocolate, amo esse sabor de sorvete no pote. Aproveito e compro chocolates, pães, mussarela e presunto. Coloco tudo no carro e vou para casa. Chego na portaria e Lud já está lá. Ela entra no carro e sigo até a garagem do nosso prédio.

O condomínio onde moro tem vários prédios de três andares, com ruas intercalando, e cada prédio tem sua garagem. Tem no centro do condomínio duas áreas de lazer enorme e coletiva a todos com piscina e quadras de jogos. Uma praça com comércios pequenos. E a área dos salões de festa para aluguel. Comprei esse apartamento com o dinheiro que recebi de herança de minha avó. Amo morar aqui.

Minha avó morreu a alguns anos e deixou herança para seus netos. Não era muito, mas deu para comprar um apartamento para mim, o que facilitou pois morei perto da faculdade e agora estou morando perto do trabalho. Minha família mora no interior e sempre que dá vou visitá-los.

Entramos e enquanto Ludmyla senta e já vai separando as provas na mesa, guardo as coisas e sirvo duas taças de sorvete.

Me sento ao seu lado no sofá.

- E ai? Me conta o que aconteceu? Tô morrendo de curiosidade.

Conto para ela tudo o que houve, seu rosto muda de nervoso, para espantado e depois ela ri e por fim volta a nervoso de novo.

- Amiga você acha que esse deus grego mimado, vai te prejudicar mesmo?

- Não sei Lud. Ele parecia um doido, gritou e falou em um tom bem ameaçador. Não quero perder meu emprego.

- Calma menina, talvez não dê em nada. Ele só estava nervoso. Tem gente que não aceita críticas aos próprios filhos. Você só deve fazer seu trabalho e pronto. Mas tenho que te falar uma coisa.

- O que?

- Que ideia estúpida foi essa de falar mal de uma aluna para um pai?

- Eu não sabia que ele era o pai dela né amiga.

- Mesmo se não fosse, sua louca. De todo jeito quando for falar mal de aluno conta para mim e não para outro pai. Sabe o quanto eles são chatos e acham que os filhos são anjos celestiais iluminados.

- Eu sei, me desculpe, o pior foi minha falta de sorte, contei logo para o pai da menina, mas fazer o que. Só espero que nada dê errado daqui para frente.

- Eu também. Amo ter você trabalhando na mesma escola que eu, não quero que se mude. E a dona Marlene é muito boa. Não ia te demitir tão fácil assim.

- Realmente, espero que esteja certa. E o Jonathan? Como vocês estão?

Minha amiga soltou uma risada nervosa e começou a me contar sobre suas escapadas com o Jonathan, o segurança da escola, que ela estava apaixonada. Eles encontravam às escondidas porque era proibido romance entre funcionários, o que eu achava ridículo, já somos adultos, não poder namorar dentro da escola tudo bem, mas fora dela?

Enquanto eu a ouvia contar do seu amor pelo segurança, não consegui me concentrar direito. Estava com medo de ser mandada embora, e com muita raiva de mim mesma. Porque fui tão burra de abrir a boca? Esse pai é um dos piores tipos pelo jeito. Mas me abri porque achei que ele era tranquilo e entendia a dificuldade que é ser professora, mas a culpa foi minha de ter a boca tão grande também.

Depois que terminamos de corrigir a prova, coloquei um colchão no chão da sala e colocamos almofadas e travesseiros e ligamos um filme de comédia romântica que eu e ela amávamos. Quando acabou o filme Ludmyla já estava dormindo.

Eu demorei a dormir, estava ansiosa e preocupada, minha sala era muito tranquila e achei que não teria problema nenhum este ano, pelo jeito estava enganada. Detesto discussões e na maioria das vezes levo bastante para o lado pessoal e o que aquele pai me disse me levou a questionar de verdade meu trabalho e minha formação. 

Nunca tratei Clarisse mal e independente de suas birras eu procurei conversar e tentar entender o que se passava com ela, mas ela não dava espaço para conversas e parecia revoltada com a escola e eu entendo agora muito bem o porque.

O certo seria sermos informados por ele desde o início que a menina estava passando por um momento complicado que nos exigia a dar mais atenção a ela. Lembro da expressão que o pai fez em me olhar, como se estivesse revoltado e descontando em mim, parecia a expressão que via em sua filha todos os dias pelas duas semanas, que ela está em minha sala. Acredito que eles estejam na fase de se sentirem injustiçados por perderem alguém que ama, até porque ela devia ser nova. Essa injustiça não senti com minha avó, porque ela viveu uma vida longa e saudável, já sendo bem idosa quando veio a falecer.

Fico revirando no colchão e depois de horas pensando caio no sono, com a imagem na cabeça de um pai revoltado, me ameaçando.

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Espero que estejam gostando. ❤️

Uma pestinha me trouxe o amor (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora