Capítulo 21

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Augusto

- Ah mas que merda!

Coloco o dedo na boca para ver se alivia a dor e parece que não adianta.

- Droga de panela!

Corro atrás de um pano de prato mas nem sei onde isso fica, rodo a cozinha desesperado abrindo gavetas e portas, xingo várias vezes revoltado.

- Papai é feio xingar. Você tem que pedir desculpa cinco vezes, foram cinco palavão!

Suspiro exasperado. Tinha esquecido que Clarisse estava aqui. Hoje é sábado e Márcia a babá viajou. Ela me avisou um mês antes dessa viagem, mas é claro que eu esqueci e não me preparei, então inventei de fazer um almoço simples, bife, arroz e feijão, com salada. Parece fácil certo? Mas não é.

Meu dia começou uma bagunça...

Levantei cedo e me arrumei correndo, beijei Clarisse e fui para meu consultório de odontologia, chegando lá fui até a cozinha e peguei meu café. Me dirijo ao meu escritório ao final do longo corredor das salas e me sento a mesa para olhar as cirurgias marcadas, pois marcamos para sábado de manhã às cirurgias leves e procedimentos mais tranquilos, quando recebo uma ligação no celular de casa.

- Oi Márcia.

- Papai?

- Oi meu anjo, dormiu bem? A tia Márcia já te deu café da manhã?

- Papai, eu acordei e tia Márcia não tá aqui. Tô com medo porque não tem ninguém aqui. Minha barriga dói. Acho que é cocô.

- Como assim a Márcia não tá aí. Minha filha não tem ninguém ai? Tem certeza? Já gritou a Márcia?

- Já papai, eu tô com medo, vem embora.

Levanto da mesa em um rompante e derramo café em toda a mesa.

Mas que merda!

- Minha filha senta no sofá e fica paradinha, não se meche enquanto eu não chegar tá bom?

- Igual uma estátua papai?

- Ah, é isso mesmo. A brincadeira é que não pode sair do sofá. O papai tá indo.

- Tá bom papai, thau.

Ela desliga o telefone e eu entro em pânico.

Passo na mesa da secretaria e grito para ela cancelar tudo que eu tiver pra hoje, porque tive um problema familiar para resolver. Ela se assusta já que não sou de cancelar nada.

Corro para a garagem agradecendo porque um dia ensinei minha filha a usar a discagem rápida do telefone quando quisesse falar comigo. Como assim a Márcia não tá em casa?

Pego o telefone nervoso para ligar para ela, estou tremendo alterado, como ela deixa uma criança de três anos sozinha em casa? O que era essa emergência? Ela atende no terceiro toque.

- Márcia pelo amor de Deus onde você está?

- Indo para a casa de minha mãe seu Augusto, eu avisei que iria viajar para o senhor desde o mês passado.

- Mas não era mês que vem a viagem?

- Mas já é o mês que vem a que me referi seu Augusto e na data que combinamos. O que aconteceu? Clarisse está bem?

- Está tudo bem, boa viagem, me desculpa. Até segunda.

- Senhor eu só volto sexta feira que vem. Vim visitar minha mãe, ela fará a cirurgia hoje e vou passar a semana com ela.

- A semana?

- Senhor Augusto eu avisei isso também.

Tento me lembrar dessa conversa, mas não me lembro de nada específico para falar a verdade.

- Tudo bem, vou dar um jeito. Acho que esqueci. Melhoras para sua mãe.

Desligo o telefone e suspiro. Acho que ultimamente eu só sei suspirar frustrado. Meu Deus.

Ligo o carro e saio cantando pneu no estacionamento, estou desesperado, o que uma criança tão pequena pode aprontar em um apartamento sozinha? Quero nem imaginar.

Chego no condomínio e seu Joaquim abre a portaria, dou um tchauzinho a ele e entro no condomínio. Estaciono na minha vaga e tranco o carro correndo. Subo as escadas de dois em dois degraus. Chegando lá em cima giro a chave e abro a porta do apartamento e vejo Clarisse sentada no sofá, paradinha sem se mexer, feito, feito uma estátua!

- Papai eu ganhei! Não mexi, nem sai do sofá.

Alívio me consome e corro para abraça-la. Aperto ela em meus braços.

- Ai, tá me apertano demais. Para com isso.

Solto ela sorrindo. Ela aperta a barriga.

- Quero fazer cocô.

Solto uma gargalhada e levo ela até o banheiro.

...

Aperto o dedo dentro da boca resmungando.

- Desculpa , desculpa, desculpa, desculpa, desculpa. Pronto, não xingo mais - volto a vasculhar - Cadê esse pano de prato?

Clarisse se levanta da cadeira e vem andando até o armário, abre uma gaveta no canto e me estende um pano de prato. Meu Deus até a Clarisse lida melhor com essa cozinha do que eu.

Enfim termino o almoço e sirvo em um prato a comida e levo para Clarisse, depois sirvo meu prato e sento com ela a mesa. Sirvo suco em dois copos um de plástico para ela e um de vidro para mim.

Misericórdia!

Olho para Clarisse e ela mastiga com uma careta. Eu cuspo a comida no prato, Clarisse continua mastigando com sofrimento e depois engole seco.

- Papai não estou mais com fome.

Ela empurra a comida e eu começo a rir, tenho uma crise, Clarisse vê tudo e começa a rir também em dúvida, isso só me faz rir mais e no final engasgo e tenho que beber suco e respirar fundo para me acalmar.

- Essa comida está horrível.

-Tá mesmo. - ela concorda sem graça.

- Vou comprar uma pizza. - digo pegando meu celular e ligando no tele-entrega.

- Eba, pizza!

Só quero saber como vamos sobreviver uma semana só nós dois...

...

Passamos o final de semana todo a base de comida congelada, pizza, sanduíches e bolachas.

Chega na segunda e eu acordo inchado e redondo de tantas besteiras que comemos.

Acordo cedo pego a mochila de Clarisse enfio o que acho que ela vai precisar dentro, coloco um vestido nela, está muito frio para dar banho nela certo? Jogo uma blusa de frio por cima do vestido, prendo o cabelo dela em um rabo de cavalo, tranco a porta e desço com ela para o estacionamento, coloco ela na cadeira e coloco o cinto. Levo ela até a escola, no caminho ela canta músicas infantis e eu só escuto calado. Não sei como vou fazer pois tenho que trabalhar, hoje meu dia é corrido e Clarisse só estuda de manhã.

Chegando a escola, tiro ela do carro, levo ela pela mão e entro na recepção, deixo ela no pátio, ela avista a professora e corre para abraçar a Helena, o que me surpreende, para mim elas não davam certo. Eu a vejo linda, agachada retribuindo o abraço de Clarisse e antes que ela olhe para cima me viro e volto para o carro.

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Mais um capítulo pronto kkkk.
Espero que gostem.

Mil beijos doces 😘😘😘

Uma pestinha me trouxe o amor (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora