Não são nem seis horas e já estou acordada andando pela cozinha preparando o café da manhã. Pra falar a verdade nem dormi direito. Passei a noite rolando na cama de um lado para o outro. Voltar à essa cidade é como regressar ao passado e ontem quando me deitei, que descansei a cabeça no travesseiro fui invadida por lembranças. Lembranças que lutei nesses setes anos para deixar longe da minha mente, do meu coração. Não posso me permitir sentir de novo porque se não, isso será a minha ruína e dessa vez não terá volta.
Faço suco de laranja, panquecas, cozinho o leite e preparo café puro sem creme. Depois de tudo pronto, ponho em cima da mesa e arrasto uma cadeira para me sentar. Fico encarando o enorme diamante do meu anel de noivado, me perguntando se é certo o que estou fazendo.
Levanto o olhar e quase tenho um ataque cardíaco. Uma mulher está parada na entrada da porta da cozinha, me observando. Ela segura em uma das mãos algumas flores silvestres.
-Eu te assustei, querida? - pergunta com voz calma e tranquila , enquanto limpa as solas dos sapatos sujos de lama num pano de chão.
Respiro fundo tentando regular minha respiração. Eu queria responder que sim, que quase tenho um infarto, mas apenas pergunto quem ela é.
-Sou Alberthany. A simbologista da Lua Negra. -ela deixa as flores em cima da bancada da pia e vem até mim com a mão estendida.
Me inclino pra frente e aperto-a.
-Kimberly. -digo.
Ela sorri.
-Mas pode me chamar de Bethany.
-Simbologista? -me largo de volta na cadeira.
Ela assente.
-Estudo símbolos antigos desde criança. Conheço cada um deles e seus significados.
Levo minha xícara a boca e tomo um pequeno gole do meu café.
-Legal.
Bethany volta a se ocupar com as flores e fico observando-a de costas.
Ela é alta, magra, esguia. Tem olhos claros bem expressivos e observadores -assustadores até -, rosto pequeno e enrugado, pescoço fino e se movimenta com muita elegância. Usa tailleur preto com um coque no alto da cabeça.
-A Lua Negra a convocou também? -puxo assunto pra tentar saber mais antes da reunião começar.
Ela concorda com um aceno de cabeça sem se virar.
-É por causa dos lobos assassinados? Ruby me disse que seus corpos estavam numa posição estranha como se tivessem formando um símbolo.
-Eu sei. Vi as fotos. E eles estavam mesmo formando um símbolo.
-Estavam? E já sabe o que significa?
-Estou trabalhando nisso. -ela respondo num tom de como quem diz: Estou trabalhando nisso e por enquanto não posso dizer nada, não insista.
Bebo mais um gole e me preparo para levantar quando Ruby entra na cozinha só de camisola. Ela nos deseja bom dia com expressão sonolenta e olha pra mesa de boca aberta.
-Uau, Bethany. Dessa vez você se superou. -arranca um pedaço de panqueca e joga na boca. Depois pega outro.
-Não fui eu. -Bethany responde num tom seco. Algo me diz que ela não gosta muito da Rubi.
Ruby para a mão antes de levar o segundo pedaço a boca e se vira para mim.
-Foi você? -ela me pergunta, incrédula. — Nunca te vi fritar um ovo sequer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)
WerewolfSete anos após os acontecimentos que aterrorizaram sua vida, Kimberly Whitmore se vê envolta num novo mistério. Lobos estão sendo assassinados a sangue frio e Kim terá de descobrir o verdadeiro assassino antes que isso leve a uma guerra mortal entre...