Capítulo 30

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O assassinato de Bethany, caiu como uma bomba em meu colo. Alguém desrespeitou a minha vontade de deixá-la viver, foi lá e a matou friamente. Tô triste por ela, mas não é por isso que estou sentindo um peso no peito, uma angústia na alma, é porque não consigo tirar da cabeça que foi uma pessoa muito próxima a mim que fez isso. Por outro lado, não quero acreditar que entre àqueles que amo, existe um assassino frio e calculista que esperou tudo se acalmar e voltou para matar uma mulher idosa a facadas. Só que todos que eu conheço tinham motivos suficientes para querer ela morta.

Ontem quando saímos da floresta, fomos direto pra casa da família do Dom, ele estava louco para contar a mãe e as irmãs sobre o Bryan, porém quando chegamos lá, todos estavam sedados, até a pequena Danik. Bethany tinha colocado uma grande quantidade de sonífero na sisterna que distribui água para todas as casas da vila. Dominic ficou possesso, mas felizmente consegui acalmá-lo e o xamã com a magia do seu cajado, trouxe todos volta sem nenhuma sequela. Entretanto, como já era muito tarde da noite, resolvemos deixar a nossa pequena reunião pra hoje, e todos seguiram seu caminho. Eu, fui pra casa com a Jess e o Bryan, Rubi e Dante pra deles, Willa pra dela, e o Dom ficou pra dar auxílio a família e a sua filha que não queria mais sair dos braços do pai e não parava de chorar, tadinha. O velho sumiu no ar, voltou para o seu lugar de descanso, mas não antes de me devolver o meu faro de loba e me dar uma pequena réplica do seu cajado pra eu usar quando precisar invocá-lo. O cajado que Dante achou no antiquário que era da minha avó, é do xamã da família do Dom e ontem mesmo ele devolveu a eles.

-Eu acho que ela só teve o que mereceu. -Dominic me entrega uma caneca de café preto, bem quente.

Me empertigo na cadeira.

-Então posso tomar isso como uma confissão? Foi você que a matou? -mantenho meu tom de voz equilibrado, para não demostrar o quanto estou chateada com essa situação.

Ele arrasta uma cadeira, sentando-se bem de frente para mim, segura minha mão e olha bem dentro dos meus olhos. Olhos azuis contra olhos negros.

-Não, não fui eu. Vontade não me faltou, mas antes de qualquer sentimento ruim, de qualquer coisa, eu te amo e a respeito, principalmente as suas vontades.

Engulo em seco porque não era essa resposta que esperava dele. O conheço muito bem pra saber que ele não gosta de ser acusado de algo que não fez e nem que desconfiem dele.

Seus dedos precionam os meus com delicadeza e os levo aos lábios sem dizer nada.

-Então, fui riscado da sua lista de suspeitos? Tô absorvido?-indaga juntando as sobrancelhas pretas, num tom brincalhão.

Franzo a testa.

-Hã?

-Conheço bem demais o amor da minha vida. Sei que você já fez uma lista de suspeitos e que não vai descansar até descobrir quem matou aquela mulher. Acertei?

Concordo com um balançar de cabeça.

-Vou te ajudar nisso. -ele diz me lançando um sorriso cúmplice.

Ergo uma sobrancelha, incrédula.

-Sério?

-Sim. Somos um só, tô com você pro que der e vier.

Abro um sorriso de orelha a orelha. Pensei que fosse ficar nessa sozinha, já que todos tem motivos para odiar Bethany, inclusive eu. Mas mesmo depois de tanto tempo e apesar de conhecê-lo melhor do que a mim mesma, Dominic ainda consegue me surpreender.

-Mas... -ele coloca uma mecha do meu cabelo, que se desprendeu do coque malfeito que fiz no alto da cabeça, atrás da minha orelha. - sabe o que vai fazer quando descobrir quem é o assassino ou a assassina?

Travo com a caneca a meio caminho da minha boca. Soube de madrugada sobre a morte de Bethany e ainda não tinha parado para pensar nisso.

-Não. -murmuro com o coração apertado.

-Não? E só for alguém que você gosta muito?

Arfo, colocando a caneca em cima da mesa com um baque.

-Não tenho a mínima ideia do que fazer. -confesso esfregando os olhos, deixando os ombros caírem, como se tivesse um grande peso sobre eles.

Domimic traga o ar frio da manhã calmamente e volta a segurar minhas mãos entre as suas. Seus longos dedos cruzando-se com os meus, me passando conforto e segurança.

-Tenho certeza que tomará a decisão certa. -ele afirma.

-Estou pronto! -Bryan anucia, entrando na cozinha. Ele usa umas roupas antigas do pai, da época em que o Dom e eu nos conhecemos. Uma calça jeans, uma camiseta branca e a famosa jaqueta preta. Por um instante tenho um dejavu e me recordo do dia em que vi Dominic pela primeira vez. O olhar penetrante, o andar despreocupado, com a confiança de quem sabe que arrancava olhares por onde passava. Vejo a mesma coisa no Bryan agora. Como é possível um filho ser a cópia fiel do pai?

-Então vamos né? -Dominic fica em pé e estende a mão para mim.

Fico olhando para ela, mas não a toco.

-Vão na frente, eu vou depois. Preciso resolver umas coisas antes. -aviso. Olho de um para o outro. Bryan continua com expressão neutra, meu filho parece muito feliz em conhecer o pai e a família dele. Ele sempre achou muito solitário sermos só nós três e agora descobre que tem pai vivo e duas enormes famílias. Com certeza ele tá nas nuvens.

-Mais Kim... -Dominic começa de cara fechada, com o brilho dos olhos se apagando.

-Você consegue dar conta. Explique os meus motivos que me levaram a esconder o nosso filho por todos esses anos, tenho certeza que elas vão entender, sua mãe e suas irmãs são pessoas boas. Conte tudo a elas, nos mínimos detalhes e não demorarei muito a me juntar a vocês. -o interrompo determinada antes que ele tente me fazer mudar de ideia.

Ele comprime os lábios numa linha fina, coçando a barba por fazer, vira de costas e sai pisando duro, sem ao menos me dá a chance de lhe dizer o que vou fazer antes de ir pra casa da mãe dele.

-Até mais tarde, mãe. -Bryan se curva e implanta um beijo em minha testa.

-Até, meu amor. Você vai amar sua avó e suas tias. Elas são pessoas maravilhosas. -passo a mão em sua face carinhosamente.

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Os resquícios da noite anterior estão espalhados por toda parte. As tochas apagadas fincadas no solo, o símbolo desenhado no chão onde Rubi ficou deitada, ainda mantém o brilho forte, e muito sangue seco ao redor.

Ativo meu faro de loba e inalo tudo ao meu redor com força total e tirando o cheiro normal da floresta e o sangue seco, não consigo sentir mais nada. O que é estranho, geralmente meu faro me oferece mais coisas, mais sensações e dado ao que aconteceu aqui eu tinha que sentir mais.

Caminho mais um pouco, olhando tudo com atenção e encontro uma pequena poça de sangue coagulado afastada das outras. Me agachado ao lado dela e a toco só com as pontas dos dedos. É da Bethany. Fecho meus olhos, me preparando para ver o que aconteceu através do meu faro, mas sou interrompida.

-Não vai funcionar.

Ergo a cabeça de uma vez e vejo o velho me encarando de cima.

-Por que? -retiro os dedos da poça e os limpo numa folha de carvalho.

-O que fez isso estava protegido por magia, você não vai conseguir ver seu rosto na imagem. Mas posso te mostrar. Você deixa?

Faço que sim e ele se aproxima de mim e toca a minha testa com a ponta do cajado. Após uma leve pressão na cabeça, começo a ver o que aconteceu com Bethany como se estivesse assistindo a um filme em preto e branco.

-Meu Deus! -exclamo horrorizada.


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Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora