Capítulo 13

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Peço as duas que entrem e fiquem me esperando na sala enquanto vou ao andar de cima.

Subo os degraus da escada, de dois em dois, aturdida.

Entro no quarto que foi da minha mãe sem pensar duas vezes, pois a ocasião me impede de lembrar o por quê que tanto evitei esse cômodo desde quando cheguei aqui. Tudo aqui me faz lembrar dela.

Abro o baú ao pé da cama, onde fica todo o arsenal de caça dela. Adagas de prata, espadas, facões, revólveres, pistolas, mapas de Havenwood Falls e cidades vizinhas, armas grandes, como uma espingarda calibre 12 e um rifle de longo alcance - um M24 muito usado no exército americano. Tem a distância eficaz de: 800 metros o tiro. Não sei como a Lua Negra consegue esse tipo de arma.

Escolho o rifle lembrando de tudo o que o meu instrutor de tiros me ensinou sobre armas grandes e letais.

—Calma, Kim. Você precisa se acalmar. -digo mentalmente quando me sento na ponta da cama para verificar se a arma está descarregada.

Inspiro e expiro, inspiro e expiro. Repito isso várias vezes até sentir que minhas mãos pararam de tremer.

Baixo o olhar pra arma nas minhas pernas.

—Vai dar tudo certo. Você vai encontrá-lo vivo. -murmuro com o coração batendo forte. Lembrando-me do caçador assassinado hoje de manhã.

O sinalizador de plástico amarelo está indicando que o pente está vazio.

Pego a caixa de balas dentro do baú e derramo todas em cima da cama. Com um movimento rápido e preciso encho um pente e o coloco de volta na arma. Tiro o dedo do gatilho e aciono a trava de segurança para não ocorrer acidente. Deixo-a de lado e me viro para encher um pente extra, quando termino prendo-o atrás no cós da minha calça jeans. Ponho um par de luvas de couro nas minhas mãos, fica melhor de manusear a arma com elas. Pego um mapa da floresta e saio do quarto.

—Por Gaia! -Eleonora exclama com suas sobrancelhas pretas levantadas quando me ver descendo a escada segurando a arma apontada para baixo. -O que vai fazer com isso?

—Trazer o Dom de volta pra casa e matar quem tentar me impedir de fazer isso. -respondo determinada.

Dominica dá uma risada, claramente sem humor, me pegando de surpresa.

—É sério que agora você se importa com ele? -ela cospe as palavras com amargura.

Eleonora agarra o braço da filha fincando as unhas na pele.

—Domimica, pare! Ela só tá querendo ajudar e nesse momento toda ajuda será muito bem-vinda.

—Olha, eu me importo sim com o...

—Verdade? Pois não pareceu quando o abandou sete anos atrás, sem tá nem aí pra enorme dor que fez meu irmão sentir e que ainda sente até hoje. Sabia que ele está muito doente por sua causa?

O rifle quase cai das minhas mãos, mas seguro firme na alça.

—Doente? -minha voz falha.

—Dominica Blackwell já chega! – Eleonora tenta arrastá-la em direção a porta.

—Não, mãe. Ela tem que saber!

Olho de uma para a outra.

—Saber o quê?

— Nós lobos, quando nos apaixonamos é para a vida toda e se somos rejeitados ficamos doentes do coração e aos poucos vamos definhando até morrermos. Foi assim que a "esposa" do meu irmão morreu.

—E- eu não sabia. –gaguejo.

—Mas é claro que não sabia. Você e sua família só sabem sobre como em nos caçar e nos matar!

Desvio o olhar envergonhada.

—Você passou dos limites. –Eleonora sibila empurrando-a com força para fora.

Sigo elas.

—Tem toda razão de me odiar.. –digo.

Dominica para e se volta para mim.

—...E não teve um dia nesses sete anos que eu não me odiasse por ter feito o que fiz. Vou ter que conviver com isso pro resto da minha vida, porque não dá pra voltar atrás, não dá pra fazer sumir sete anos de distância, sete anos de sofrimento. Mas por favor, me ajude a trazê-lo de volta para casa. É o mínimo que posso fazer por vocês, por ele.

Ela me estuda por alguns instantes como uma fera esperando o momento certo para atacar a presa.

—A última vez que o vi foi depois da reunião com a matilha. Ele disse que ainda conseguia sentir o cheiro da pessoa que estava na barragem das pedras e que ia tentar rastreá-la até onde desse. Pedi pra ir também, mas ele não deixou.

Respiro fundo, aliviada. Sem o meu faro para rastreá-lo, preciso de toda informação que tiver pra que eu possa ter um ponto de partida.

—Obrigada.

—Não fiz por você, fiz por ele.

—Mas mesmo assim, obrigada. –toco seu ombro, olhando no fundo do seus olhos.

Ela se retrai e sai na frente.

—A matilha inteira está procurando por ele, mas não estão conseguindo fareja-lo. Algo está nos impedindo de senti-lo. –Eleonora esfrega os olhos.

"Isso só pode ser coisa de magia." –penso.

—Ei, –seguro firme sua mão. —nós vamos trazer ele de volta a salvo.

Ela sorri.

—Você é uma boa garota. É diferente do restante da sua família. Obrigada.

***
Tranco a casa toda quando elas se vão e me preparo para vasculhar a mata de cima a baixo se for preciso.

O rifle é muito pesado, mas com a minha força de lobo parece que tô segurando um haltere de um quilo.

—Foco, força e fé. Foco, força e fé. –repito esse mantra indo em direção a floresta, quando um carro chega por trás de mim. Paro.

Rubi salta para fora.

—Kim?

Me viro, baixando o cano da arma pro chão.

—Oi, Rubi.

—Aonde tá indo com essa arma? –ela questiona de testa franzinda.

Meus olhos começam a arder com as lágrimas se formando ao redor.

—É o Dom...ele sumiu.

—Quê? –ela se aproxima.

—Ele sumiu desde manhã e estou indo ajudar nas buscas.

—Nossa, prima. Eu não sabia. Mas você vai assim? Sem nenhuma lanterna? Como vai fazer pra enxergar no escuro da floresta? Sabe usar uma dessas? –ela aponta com o queixo pra arma nas minhas mãos.

Faço que sim, dando de ombros.

—Fiz curso de tiro em Amsterdã, e, quanto ao escuro da floresta, tenho meus truques.

Ninguém sabe, mas eu também adquiri a visão do lobos e consigo enxergar no escuro como ele se tivesse sendo iluminado por várias luzes amarelas. E tudo começou depois que minha mãe morreu. É como se o estresse que passei com a sua morte tivesse despertado algo dentro de mim.

—Humm. –ela murmura como se suspeitasse que estou lhe escondendo algo. —Me espere, vou te ajudar. Só vou me preparar...

—Não tenho tempo. Já faz horas que ele sumiu e cada minuto que se passa pode diminuir as chances dele de... –minha voz falha e faço de tudo pra engolir o nó na minha garganta.

—Tá certo. Vá na frente que daqui a pouco te acompanho.

Assinto e me viro, erguendo os ombros. Sigo para dentro da floresta descida a trazer ele pra casa, vivo, ou morto.

Continua no próximo capítulo. Votem e comentem, meus amores. Bjuss!! Próximo capítulo:Quinta Feira.

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora