Capítulo 26 part. 2

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Passado o meu estado de choque, reuno todas as minhas forças para enfrentá-la. Agora mesmo é que não posso permitir que o ritual siga adiante, porque sei que não consigo lutar contra Dominic.

Corro os olhos pelo quarto a procura de alguma coisa que eu possa usar para distrair Bethany e dou com um lustre pendente de cristal em forma de gotas. O cabo de aço cromado que o prende no teto é fino, com certeza eu conseguiria parti-lo ao meio com as duas estrelas ninjas que ainda tenho dentro da minha jaqueta, mas como fazer isso sem que Bethany preveja?

Já sei! Vou distraí-la com perguntas. Deixar que ela pense que tem tudo sobre controle e no momento certo, ataco com tudo.

—Sei o que deve estar pensando; por que eu? O que fiz de errado pra merecer isso? Blá blá blá! Mas saiba que a vida é assim e a única coisa que nunca falha é a lei do retorno. –ela solta o livro e pega o cajado idêntico ao do velho.

Não faço ideia do que ela está falando.

Contraio os lábios, tentando manter a calma e ponho meu plano em prática.

—Então, por que tá ajudando o emissário? O que você ganha com isso? –pergunto.

—Meu filho de volta!

Pisco, pega desprevenida por essa resposta.

—Filho...? –indago perplexa.

—Aham. Que a sua família matou!

Agora as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. Bethany é só mais uma das milhares de pessoas que querem se vingar da Lua Negra e era por isso que a minha pobre mãe sempre fez questão em me manter longe dessa família, porque sempre vai ter alguém querendo vingança. Oh Deus! e em pensar que numa vida passada fui que fundei essa organização.

Como fico em silêncio, Bethany continua.

—Eles mataram meu filho e deixaram o corpo numa vala qualquer, não tive nem o direito de lhe dar um enterro digno. –seus olhos começam a brilhar com as lágrimas que se formam ao redor. —Sou professora de mitologia, história e ocultismo. Eu dava aulas numa Universidade em Toronto quando ouvi falar sobre uma cidadezinha no interior da Califórnia. Me disseram que nessa cidade tinha um conjunto de cavernas que ninguém nunca tinha encontrado o seu final. Tomada por uma curiosidade sem tamanho, mandei meu filho vir investigar se era verdade sobre as tais cavernas, mas ao chegar aqui ele conheceu uma jovem mais ou menos da sua mesma idade e ficou perdidamente apaixonado por ela. Os dois começaram a namorar e logo se casaram por exigência da família dela... –ela faz uma pausa e volta a me encarar com seus assustadores olhos, como se estivesse procurando por algo em mim. — A princípio pensei que sua mãe fosse uma espécie de bruxa, porque meu filho largou tudo em Toronto e mesmo sabendo que eu era contra, não hesitou em me largar também...

—Você disse... –sinto meu coração palpitar, minha garganta ficar seca —Tá falando do meu pai...?

Ela assente.

—Então você é minha...

—Não diga que sou sua avó, porque não sou! Podemos ter o mesmo sangue, mas nunca vou ser alguma coisa sua! Sempre repudiei o casamento de John com a sua mãe. Nunca a aceitei como minha nora, porque lá no fundo eu sabia que ela ia ser o fim dele... E não demorou muito pra eu descobrir o quanto estava certa.

Engulo em seco, conseguindo sentir daqui o veneno que ela depositou em cada palavra que saía de sua boca.

Minha mente dá voltas com mais essa revelação e quando consigo processar tudo, falo a primeira coisa que me vem a cabeça.

—Você é uma infeliz! –minha voz falha, mas tento segurar o choro. —Eu não tenho raiva de você, tenho pena. Ficar triste é natural, pois perdeu alguém que ama, assim como eu também perdi, mas guardar mágoa por todos esses anos é a maior das infelicidades.

Ela abre a boca pra falar com os lábios tremendo, mas a interrompo.

—Acha que também nunca sofri pela ausência do meu pai? Que consegui superar o grande vazio que ele deixou em minha vida?

—Não tente comparar o seu sofrimento com o meu, pois você nunca chegou a conhecê-lo! –ela rebate enxugando os olhos com as pontas dos dedos.

Como isso é possível? Essa mulher diante de mim é minha avó e eu sou a única coisa que restou do filho que ela tanto amava a ponto de guardar rancor da minha família por todos esses anos e mesmo assim consegue me odiar?

Então essa é a razão pela qual ela nunca ter me procurado antes. Eu sei que não é fácil perder alguém que se ama, mas poxa! Sou neta dela, como ela não consegue sentir amor por mim?

Baixo a cabeça, fincando as mãos na cintura, dando um suspiro. Não posso perder o foco aqui, ainda tenho que fugir.

—E como ressuscitar Gideon irá trazer meu pai de volta? –pergunto com voz neutra, escondendo o quanto ela me machucou por dentro com a sua indiferença em relação a ser minha avó.

Sem deixar o cajado e sem tirar os olhos de mim, Bethany se abaixa e pega o peso de papel do chão. Segura o objeto na palma da mão e aos poucos vai fechando os dedos ao seu redor e com a outra mão bate com a ponta do cajado no chão uma vez e o presente que meu pai deu a minha mãe vira cinzas.

Engulo em seco, mas a vontade que tenho é de fazer essa mulher sumir da minha frente, de nunca mais pôr meus olhos em cima dela.

—Era importante? –ela pergunta em tom de deboche, abrindo os dedos pras cinzas caírem no chão.

—Era pra duas pessoas que se amaram muito, mas elas já não estão mais vivas. –respondo.

—Oh que pena. Mas daqui algumas horas uma delas vai voltar a viver de novo... Ah e respondendo a sua pergunta, você nunca ouviu falar no "Levante dos Amaldiçoados?"

Balanço a cabeça que não.

—Pois saiba que ao ressuscitar Licaão, todos que morreram com a maldição do lobisomem também voltarão a viver.

—Não acredito. –murmuro de olhos arregalados.

—Pode acreditar, querida netinha.

Continua no próximo capítulo.
Votem e comentem.
Bjs e um abençoado feriado a todos! 😘😘






Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora