Capítulo 8

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Deslizo o celular para dentro do outro bolso da minha calça jeans e fico encarando meu reflexo no espelho, tentando entender o que acaba de acontecer. Dominic disse que vem me buscar, mas por quê? Eu sei que tínhamos combinado de ir juntos fazer uma ronda pela cidade e acabei enchendo a cara, só que não precisa vir até aqui me buscar. Rubi e eu podemos muito bem ir pra casa com o embuste, já que ele não bebeu.

Álcool, sentimentos reprimidos e o Dom por perto... Isso não vai dar certo. Preciso tentar ficar sóbria antes que ele chegue, como se isso fosse possível, mas não custa nada tentar.

Subo as mangas do meu casaco, abro a torneira de metal cromado, fecho as mãos em concha embaixo do jato forte de água e jogo no rosto.
Faço isso várias vezes e de nada adianta. Tô super, hiper, mega bêbada e só vou ficar boa amanhã.

Pego um papel toalha e passo nos olhos pra tirar o rímel borrado. Jogo o papel usado na lixeira e pego outro. Enxugo a testa, as bochechas, tiro o gloss dos lábios. Fico parecendo uma múmia de olhos azuis escuros.

Volto pro bar cambaleando um pouco, me apertando entre os outros.

Procuro Rubi e não a vejo.

—Onde foi que essa maluca se meteu? –murmuro, olhando pra todos os lados.

Se eu tivesse meu faro seria fácil rastreá-la, pois conheço bem o cheiro do seu shampoo de manga, do seu óleo corporal de amêndoas e do seu perfume de flor de algodão.

Faço meu caminho até o bar tentando não levar cotovelada ou cair.

Willa está toda agitada do outro lado do balcão. Anda de um lado para o outro preparando os drinques a pedidos. Uma fila enorme se estende ao longo do bar. Mais três barmans que não conheço se desdobram para atender todos os clientes. Bem que Rubi disse que esse é o lugar mais badalado da cidade e nem os rumores de que tem um serial killer na cidade fizeram as pessoas deixar de vir.

—Oi. Você viu pra onde a Rubi foi? Não encontro-a em lugar nenhum. –pergunto, quando me aproximo.

Willa aponta pra porta, que Aaron tinha entrado horas antes, com o queixo. Ela está preparando um Dry Martini. Mistura o gelo, o gin, e o vermute em um copo, põe a tampa e o sacode pra lá e pra cá com movimentos rápidos.

—Obrigada. –digo e vou até lá.

Fecho minha mão ao redor da maçaneta, giro-a, mas está trancada.

—Só pode ser brincadeira. –resmungo, imaginando o que deve está rolando lá dentro.

—É sempre assim quando um deles bebe. –Willa aparece ao meu lado de braços cruzados. —Quando estão sóbrios se odeiam e quando tão com umas quatro na cabeça, transam.

—Deu pra perceber. –reviro os olhos dando mais uma olhada pra porta.

—Venha, vou preparar uma Gim-Tônica pra você.

Balanço a cabeça, sentindo o mundo girar, me seguro na parede, respirando fundo. 

—Não agüento mais beber uma dose de álcool se quer.

—Não é forte. Só leva um pouco de gim, água tônica gaseificada e suco de limão. Vai te ajudar a melhorar um pouco.

Encaro-a, mordendo meu lábio inferior dormente. Willa me causa inquietação quando chega perto. Não sei se é porque seu jeito de falar e de olhar me lembra muito a Zoe ou se é porque tem algo a mais nela.

Ela levanta os braços em sinal de paz quando demoro a responder. Vejo uma tatuagem de uma frase que diz: "Ninguém em casa" em tinta preta com letras elegantes e cursivas na parte interna de seu braço esquerdo.

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora