Capítulo 3

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De repente o escritório parece ficar pequeno. Dominic e eu estamos discutindo porque nenhum de nós quer trabalhar juntos. Dante observa a cena em silêncio, como se não soubesse o que fazer. Aaron sendo Aaron, ri dá situação.

-Parem! -Ruby explode de uma vez.

Dominic e eu nos calamos e olhamos pra ela surpresos.

-Qual é! Voltamos ao jardim de infância por acaso? Tem algo muito sinistro acontecendo em Ravenwood Falls e vocês ficam aí de mimimi? Um não querendo trabalhar com o outro! Nem parece que já se amaram um dia!
Precisam deixar suas diferenças de lado e tentar fazer isso dar certo para descobrimos o que realmente está acontecendo.

Dominic passa a mão na barba, olha para mim e depois pro meu anel de noivado.

-Você tem razão, Rubi. A gente já se amou um dia. Hoje ela é só uma completa estranha para mim.-ele pontua num tom acusatório.

Baixo a cabeça e fico fitando minhas botas pretas de montaria sem saber como reagir porque contra isso não existem argumentos, pois fui eu que o abandonei sem dá nenhuma explicação.

-Podemos voltar ao assunto que realmente interessa? -Dante pergunta, passando os dedos nos cabelos grisalhos.

Assinto e Dominic também.

Rubi se joga na poltrona me olhando feio.

-Os corpos ainda estão no necrotério? -pergunto, assumindo uma postura bem diferente da de minutos antes.

-Não. Eles não foram para o necrotério. -Dominic responde com o rosto virado para o outro lado.

-Não?

-Nossos costumes são bem diferentes dos de vocês. Quando um lobo morre a gente queima o corpo sem violá-lo. Para nós o que fazem no necrotério é violação de cadáver e falta de respeito  com o nosso ente-querido.

-Mas é preciso para o médico legista dizer qual foi a causa da morte, principalmente quando se trata de assassinato! -digo ficando de frente pra ele.

-Isso é verdade. -Rubi concorda.

Dominic se vira pro Dante, me ignorando.

-Não é comum ter assassinatos na matilha. E quando isso acontece geralmente é em confronto com alguma matilha rival. Sempre sobre um pra contar como aconteceu, de modo que nunca tivemos a necessidade de um legista para nos dizer como isso aconteceu. -explica.

Toco de leve no seu ombro e ele se retrai. Tiro a mão rapidamente.

-Vamos deixar o passado de lado e fazer isso dar certo por seu povo. Eles precisam de respostas e nós precisamos provar que não foi ninguém da Lua Negra. -peço de forma branda.

"Embora eu não acredite muito nisso." Penso comigo mesma.

-Posso mandar o médico legista ir até a sua comunidade examinar os corpos... Se você permitir, é claro. -Dante sugere com ar esperançoso.

Dominic hesita um pouco, mas acaba aceitando. Deixo ele acertando os últimos detalhes sobre a ida do médico legista até a comunidade Villa Lobos com o Dante e saio do escritório. Caminho a passos largos pelo corredor e vou para fora de casa. Me escoro na parede embaixo do alpendre e solto a respiração sem nem perceber que estava prendendo-a.

"Passar vinte e quatro horas por dia perto do primeiro amor da minha vida... isso não vai dar certo." - Penso fitando meu anel de noivado.

Rubi põe a cabeça para fora procurando por mim.

-Por que não me disse que era com o Dom que eu ia ter que trabalhar? -estouro com ela.

-Eu tentei te contar desde ontem, lembra? Mas você não deixou.

-Ele tá casado e tem uma filha. -murmuro, soando profundamente infeliz. -...Fico feliz que ele tenha conseguido seguir em frente depois do que eu lhe fiz. -emendo rapidamente quando me dou conta que pensei alto demais.

Rubi me encara com o seu famoso olhar inquisitivo.

-É mesmo? -questiona.

Assinto.

-Pois não é o que seus olhos dizem quando fala dele.

Dou de ombros, tentando soar natural.

-Sei que ainda é apaixonada por ele, Kim. Vocês viveram uma paixão de juventude do tipo que não é fácil de esquecer. Daquelas que é típico de cidade pequena. Que é improvável de acontecer por serem de mundos diferentes, mas que o universo parece conspirar a favor e acaba acontecendo mesmo assim. Você, vem de uma das famílias mais antigas de caçadores de lobos e ele, o próprio lobo.

Balanço a cabeça.

-Mas não era por isso que era improvável de acontecer. -digo. -Era improvável de acontecer porque eu era uma garota tímida, recatada e até um pouco ingênua e ele era mais velho, muito bonito, o garanhão da cidade. O cara que todas as garotas queria e que não queria nenhuma.

Rubi sorri.

-Tá vendo? Você entendeu bem direitinho como a coisa funciona.

Sorrio de volta sem entender muito bem o que ela quis dizer com isso.

Aaron aparece na soleira da porta.

-Vamos pro Cofee Bar? -ele chama Rubi.

Ela assente e Aaron sai na frente, em direção ao carro.

-Pera ai. -seguro no braço dela. -Você já vai pro bar...e com ele? -aponto com o queixo pro Aaron que a espera dentro de um mustang preto.

Rubi olha pra ele e depois pra mim.

-Aaron e eu somos da patrulha. Patrulhamos a cidade em busca de algo que nos faça pelo menos entender o que está acontecendo. O bar do nosso primo insuportável é o lugar mais badalado do momento. Todas as pessoas da cidade vão para lá pra beber e dançar. Eu fico de olho em tudo de uma sala secreta nos fundos. Uma hora quem está fazendo isso vai cometer um erro e quem sabe seja no Cofee Bar? Sem contar que bebo de graça... Toda semana dou um prejuízo de mais ou menos duzentos dólares em bebidas pro Aaron... Kkkkk!

Reviro os olhos, balançando a cabeça.

-Você não muda mesmo.

Aaron buzina.

-Vamos, Rubi! -ele grita impaciente.

-Já tô indo, embuste! -ela grita de volta.

Dou risada.

-Mudei sim. -ela diz. -Tô mais malvada e alcoólatra.

Dominic e Dante saem. Os dois apertam as mãos e observo cada passo do Dom indo em direção ao seu carro.

-Se serve de algum tipo de consolo, ele ficou viúvo há cinco meses. -Rubi cochicha no meu ouvido.

-Quê?

Ela pisca para mim e segue seu rumo me deixando atônita com essa revelação.

-Kim, você vai com o Blackwell até a casa do sr. Lee pegá-lo pra levar até comunidade Villa Lobos. -Dante toca meu braço para minha atenção.

-Ok. -digo sem olhá-lo direito.

Entro no carro e me acomodo no sento ao seu lado.

Dominic dá um longo suspiro, olhando para frente.

-Quer que eu sente atrás? -sugiro.

Ele maneia a cabeça, dando de ombros.

- Pode sentar onde quiser, não faz nenhuma diferença para mim. -ele diz e gira a chave, fazendo o motor dar partida com um rugido alto.

Engulo em seco, sabendo que mereço cada hostilidade que vier dele.

Continua no próximo capítulo. Votem e comentem! Bjuss e boa leitura.

O capítulo de hoje dedicado a duas pessoinhas que fizeram aniversário ontem. Sarah e Caio. Parabéns meus amores e obrigada por lerem minha história. Bjuss!!

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora