Bethany parece um animal encurralado quando nós a cercamos. Ela está encostada na mesma árvore em que eu estava amarrada antes. Seus olhos assustadores passeiam pelo rosto de cada um de nós, mas não vejo medo neles e sim desespero pelo ritual não ter dado certo.
—O que acha que devemos fazer com ela? –Dante me pergunta.
O rosto de todos se volta para mim, esperando por minha resposta.
—Pode me matar! –ela berra me encarando. —Não tenho mais nada a perder mesmo! Prefiro morrer do que viver o que resta da minha vida sozinha... Sem meu filho.
Suas palavras penetram minha alma e me pego observando Bryan que está a uma certa distância de nós com a Jess.
Agora que sou mãe, sei do que uma é capaz para proteger ou salvar seu filho. Eu mesma estava pronta para morrer pra não deixar o meu menino se sacrificar em meu lugar. Bethany cometeu atos de crueldade, mas ela era só uma mãe que viu a chance de trazer o filho amado de volta e se agarrou a ela com unhas e dentes. Não vou matá-la; Primeiro, porque ela é sangue do meu sangue. Segundo, porque violência só atraí mais violência. Esse negócio de olho por olho e dente por dente não é bom para ambas as partes e não é esse tipo de ensinamento que quero dar para o meu filho.—Nada, apenas deixem ela ir. –respondo sentindo uma profunda tristeza por ela. Bethany não se deu conta que Bryan e eu éramos a sua única família e que se tivesse nos amado, ao invés de nos odiado, ela nunca ficaria sozinha e tenho certeza que teria sido muito feliz ao nosso lado. Por que as pessoas preferem odiar do que amar?
Exclamações de surpresa e indagações começam a surgir ao meu redor.
—O quê? –Bethany arregala os olhos, chocada. —Não! Me mate, por favor! –ela cai de joelhos não chão, os ombros arqueados, baixando a cabeça e enterrando o rosto nas mãos, desanda a chorar.
Viro de costas, ouvindo suas lamúrias e vou em direção ao Bryan, que pela a primeira vez desde quando nos encontramos aqui, tá sorrindo. Um sorriso sincero e acolhedor. Um sorriso que diz que fiz a coisa certa e que ele está muito orgulhoso em me ter como mãe.
Dominic se mete entre a gente, ocupando o espaço entre mim e Bryan, enquanto caminhamos para fora da floresta. Seus olhos estão mais escuros e sua mandíbula cerrada com uma veia saltando em seu pescoço. Ele tá bravo. Muito bravo.
—Meu amor, o que você... –ele começa tentando me fazer acreditar que está só um pouco irritado comigo por eu ter poupado a vida de Bethany, mas o interrompo com um olhar de advertência, fazendo um leve aceno de cabeça em direção ao nosso filho. —Ah, certo. Você fez a coisa certa, querida. –Dominic emenda limpando a garganta e dando um sorriso forçado.
Sei que se fosse por ele, mataria Bethany por ela ter colocado a mim e Bryan em perigo, mas Dominic vai ter de respeitar a minha decisão. Afinal, Bethany já está sendo castigada com um dos piores castigos impostos a uma pessoa, a solidão. Acho que não existe coisa pior do que ser sozinha no mundo. A família é a base de tudo e os amigos, o complemento. Sinto que Bethany não tem amigos porque passou uma boa parte do restante de sua vida, arquitetando um plano desesperado de vingança contra minha mãe e como ela morreu, o seu alvo passou a ser eu. O ritual de sangue e a chance de trazer meu pai de volta a vida, foi o que a fez mudar de ideia e se concentrar em ressuscitar Licaão.
O restante do pessoal se junta a nós e todos seguimos juntos, cansados, com o corpo doendo, em frangalhos, mas com alívio na alma e muito felizes por termos impedido que o ritual se concluísse e que Gideon/Licaão fosse recitado. Só Deus sabe o caos que aquele monstro poderia trazer ao mundo moderno de hoje, com tanta tecnologia e facilidade que as pessoas têm em adquirir armas de fogo.
Estremeço só de pensar nisso.
Arrisco uma última olhada para trás e Bethany ainda está na mesma posição: Joelhos fincados no chão, ombros encurvados, cabeça baixa e o rosto enterrado nas mãos.
—Ela vai ficar bem. –o xamã diz aparecendo atrás de mim. —Vai levar um tempo pra ela se recuperar do choque, mas...
—Tenho certeza que sim. –lhe interrompo com ar cansado.
***
Autora Narrando.
Depois de passar mais de uma hora se lamentando de frustração por quase ter conseguido alcançar seus objetivos, Bethany finalmente resolve se levantar. Seus joelhos começam a castigá-la com uma dor insuportável por ter passado tanto tempo na mesma posição. Mas não importava porque naquele momento a pior dor que ela sentia era na alma. Para ela, não ter conseguido concluir o ritual, foi como ter perdido o filho pela segunda vez. Estava tão perto, Kim já tinha mirado a faca para seu coração... Mas agora tava tudo perdido. Um ritual daquele só podia ser realizado com um fenômeno tão poderoso como a Lua de Sangue e só haverá outro daqui a cem anos e obviamente ela não estará mais viva.
A cada novo passo que dá é como se os ossos de suas pernas estivessem se partindo. Ela teria que caminhar lentamente até seu carro que ficou em frente a caverna onde manteve Kim e Rubi presas.
Estancou ao ouvir galhos se partindo e folhas sendo esmagadas pelas passadas de alguém ou um animal vindo em sua direção.
—Quem está aí? –pergunta apertando os olhos na tentativa de enxergar melhor através da escuridão que embaça a sua visão.
Os sons cessam e a pessoa sai de detrás de uma árvore, parando ao lado de uma das tochas acesas e espalhadas por todo o perímetro onde o ritual iria acontecer. A claridade revelando seu rosto pra mulher.
—Ah, é você. –Bethany constata com acidez no tom de voz. —Voltou por que? Veio se regojizar em cima de mim? Saborear a minha derrota?
Sem responder nenhuma de suas perguntas, a pessoa saca uma faca e vai pra cima da mulher lhe desferindo
vários golpes. A primeira é na palma da mão quando Bethany a levanta na tentativa de se defender e a segunda é diretamente em seu peito esquerdo, atingindo seu coração em cheio. A mulher já cai morta, o sangue jorrando para fora do ferimento aberto.Com um suspiro o assassino ou assassina, limpa as extremidades da faca na roupa de Bethany e vai embora como se nada tivesse acontecido.
Fim.Votem e comentem, meus amores. Quem será que matou Bethany? Contem para mim suas suspeitas!
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Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)
Manusia SerigalaSete anos após os acontecimentos que aterrorizaram sua vida, Kimberly Whitmore se vê envolta num novo mistério. Lobos estão sendo assassinados a sangue frio e Kim terá de descobrir o verdadeiro assassino antes que isso leve a uma guerra mortal entre...