Capítulo 14

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A floresta parece ganhar outro tipo de vida à noite. Corujas fazem seus barulhos estranhos nas copas das árvores, roedores brigam em cima dos galhos, sabe-se lá pelo quê, répteis se arrastam pelo chão procurando por presas fáceis e distraídas. O ar parece pesado, com o cheiro forte de madeira em decomposição. Grandes carvalhos erguem-se em direção ao céu, formando um véu de folhas e galhos, impedindo que vejamos as estrelas. É como se eu estivesse em um outro mundo.

Sigo mata a dentro tentando não fazer barulho. Me movo com cautela com a arma apontada para a frente.

—Ok. –murmuro parando antes de me embrenhar mais na floresta. —É só relaxar a mente que tudo começa a clarear. –fecho meus olhos tentando esvaziar a cabeça, mas é difícil porque tudo em consigo pensar é no Dom sozinho, machucado em algum lugar por aqui. —Você consegue. –respiro fundo, vou abrindo os olhos devagar e aos poucos a floresta vai se iluminando na medida que vou percorrendo meu olhar ao redor. Pisco várias vezes para o meus olhos se acostumarem com a minha nova visão aguçada.

Meus passos são medidos e estou atenta a tudo que me cerca. Desvio de raízes enormes, galhos e ervas daninhas.

Kim...

Ouço meu nome ser chamado.

—Quem tá aí? –giro nos pés, procurando a fonte da voz, mas não vejo ninguém.

Kim...

De novo.

Vejo uma movimentação pelo canto do meu olho esquerdo. Viro de lado com a arma apontada na direção do movimento, mas é só um cervo.

Relaxo um pouco. Mas então sinto uma forte pressão na cabeça seguida de uma dor lancinante. O rifle desliza das minhas mãos e eu caio de joelhos no chão com as mãos na cabeça. Aperto meus olhos com força e quando faço isso uma imagem vem em minha mente. Vejo paredes de pedras, chão de terra, ouço água corrente e alguém deitado encolhido. É o Dom.

Demora alguns instantes até eu me dar conta do que acaba de acontecer. A voz que ouvi é do Dominic. É como se ele tivesse me mandando uma mensagem por telepatia. Como se eu pudesse ouvir seus pensamentos. E agora sei onde ele está.

A dor vai embora junto com as imagens. Me recomponho, apanho a arma do chão e corro com a minha velocidade sobrenatural em direção as cavernas lestes.

Uma tremedeira incontrolável toma conta do meu corpo quando chego na entrada de uma das cavernas. Nunca pensei que um dia tivesse que pôr os pés nesse lugar novamente. Está aqui é como dá um mergulho no passado. E eu não quero ter que relembrar tudo aquilo de novo.

Pânico toma conta de mim e eu congelo.

—É o Dom. Ele precisa de você. –digo mentalmente. —É o amor da sua vida. O primeiro e único amor da sua vida. Recordo todos os nossos momentos juntos. De como ele me amou. Da minha primeira vez. E agora ele está doente por minha causa. Como eu não consegui perceber? Como ele conseguiu esconder isso de mim tão bem?

Encaro a aliança de noivado em meu dedo por cima da luva. Eu tinha colocado ela assim para me lembrar do por quê de eu não poder ir adiante com o Dom.

—Mas o que estou fazendo? –resmungo tirando-a e guardando-a dentro do meu bolso determinada. Precisamos terminar o que começamos sete anos atrás. Isso se ele ainda me quiser.

Respiro profundamente e solto o ar bem devagar e entro na caverna. Vejo pegadas no chão de terra e sigo-as.

As pegadas terminam ao lado do Dominic. Ele está caído no mesmo local em que minha mãe ficou quando Conrado a matou. Ignoro esse pensamento e me aproximo dele, observando tudo, mas parece que só tem nós aqui.

Ele tá deitado de barriga pra cima. Sangue seco cobre seu rosto. Seu peito sobe e desce uniformemente como se ele estivesse apenas dormindo. Seus pulsos e calcanhares estão soltos, sem nenhuma corda os amarrando e isso não faz nenhum sentido pra mim.

Me ajoelho ao seu lado procurando por sinais de luta, mas nada. Tirando o sangue seco – que provavelmente foi por causa de um ataque surpresa pelas suas costas –, não tem nada.

—Dom? –chamo-o. Ele não se move.

Beijo seus lábios com carinho e nada.

—Sou eu, meu amor. –corro os dedos por seus cabelos sujos de sangue seco e terra.

Desespero apudera-se de mim.

Ponho as mãos em seus ombros e o sacudo de leve. Seu corpo balança meio mole.

—Não, por favor. –lágrimas ardem em meus olhos, meus lábios tremem. —Acorda.

Encosto a cabeça no seu peito e sinto algo por dentro da camisa. Me afasto um pouco e com movimentos rápidos abro três botões. Vejo um saquinho cor de pergaminho do tamanho de um dedo indicador preso ao seu pescoço por um barbante.

—Mas o que é isso? –murmuro. O sinto entre meus dedos e parece ter um pó dentro, ou areia, não sei, só sei que é muito fino.

Pego o barbante, passo por cima da cabeça do Dom e o tiro dele. No mesmo instante ele abre os olhos me dando um baita susto. Caio para trás sentada.

—Kim..? –ele me encara surpreso. —Onde... Onde eu estou?

Ao vê-lo sentando e falando não aguento e me jogo em cima dele, passando os braços ao seu redor, apertando-o com força. Lágrimas banham meu rosto. Estou emocionada, feliz.

Dominic franze a testa.

—O que foi?

Beijo seus lábios, fungando.

—E- eu te amo. –digo com a voz embargada.

—Kim... –ele acaricia meu rosto com o polegar e o indicador. Os olhos fixos nos meus. —Eu também te amo.

Sua boca encosta na minha e nos beijamos sem o peso do passado, sem o abismo de sete anos que nos separa.

Me afasto um pouco. Apoio as mãos em meus joelhos fincados no chão. Torço meus dedos cruzados um no outro.

—Quero pedir perdão por ter te abandonado. Eu não devia ter feito o que fiz...

—Ei. –Dominic põe a mão em meu queixo. —Não precisa pedir perdão.

Balanço a cabeça.

—Preciso sim e você não sabe o quanto preciso que me perdoe. Quero que saiba que nunca te culpei pela morte da minha mãe, não foi por isso que fui embora sem dizer adeus. –faço uma pausa e respiro fundo. —A culpa foi totalmente minha por ter me distraído, ter me apaixonado e por eu não ter conseguido enxergar o verdadeiro monstro dentro do Conrado.

Domimic não diz nada, apenas me puxa para junto de si. Descanso a cabeça em seu peito, enquanto sinto suas mãos deslizarem por minhas costas. Muitas vezes o que precisamos é apenas de um abraço em vez de palavras.

Continua amanhã. Votem e Comentem se gostaram do capítulo. Bjuss!!!

 Bjuss!!!

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Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora