Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)

Capítulo 22 part.2

—Perai, que verdade? –Dominic protesta, irritado.

Dou um apertão nos seus dedos.

—Dom! – exclamo. — Deixa ele continuar.

— Conheci você mais calmo, paciente, compreensivo, que escutava primeiro e perguntava depois. O que aconteceu nessa reencarnação pra você ter mudado tanto? – o velho indaga, fitando Dominic dentro dos olhos, como se procurasse algo neles.

—Do que ele tá falando? –Dom me pergunta.

—Sei lá –respondo e me viro pro velho. — Quer fazer o favor de nos explicar o que está acontecendo aqui?

O velho assente.

— Bom, vou começar do começo então. –ele diz e bate com a ponta do seu cajado duas vezes no piso e um sofá de couro marrom de dois lugares surge diante de nós. — É melhor se sentarem, pois vai ser uma longa história.

Dominic e eu estamos estarrecidos demais para questionar como ele fez isso, mas acabamos obedecendo e nos sentamos no sofá mágico que é de verdade e muito confortável.

O velho fica em pé de frente para nós, apoiado no seu cajado. Seu rosto enrugado, sua pele cor de chocolate, seus pequenos olhos negros, sua longa trança e seus pés descalços me faz lembrar a um índio.

—Há muito tempo — mais precisamente duzentos anos — Havenwood Falls era uma reserva florestal habitada por lobos e alguns camponeses. Muitas matilhas viviam aqui e as duas maiores delas — Os Blackwell e os Whitmore — guerreavam pelo controle total da reserva. O ódio entre eles era tanto que todo dia pelo menos um membro de uma das matilhas morria por causa dos constantes confrontos. Mas em meio a tantos embates e tanta violência, um amor surgiu. Gaia Blackwell, o filho mais novo do alfa da matilha Blackwell e a filha mais nova da matilha rival se apaixonaram e começaram a viver um romance proibido e escondido de todos...até o mais cruel dos soldados da matilha e irmão mais velho de Gaia, Gideon, descobrir e começar a odiar o irmão por isso. Gideon Blackwell era a personificação do mal, totalmente o contrário de Gaia que era bom, tinha o coração de ouro e amava a todos, não importava quem fossem. Disposto a acabar com o romance e a destruir o irmão e a matilha Whitmore, Gideon atraiu Gaia para uma armadilha, o matou e pôs toda a culpa na amada do irmão, quando revelou o romance para o pai. Disse que Luna Estrela só se aproximou de Gaia com a intenção de matá-lo para se vingar deles. Tomado pela dor dar perda do filho amado, o pai de Gaia acreditou na história que Gideon inventou e revidou com força letal e deu início a um verdadeiro banho de sangue. A matilha Whitmore foi massacrada, e uma boa parte da matilha Blackwell também, porque é claro que os Whitmore revidaram da mesma maneira com que foram atacados, e somente Luna Estrela conseguiu se salvar e fugir para bem longe da reserva e para fora do alcance de Gideon. Ela pediu abrigo a um casal de velhos alquimistas e lhes contou sua história, comovidos, e porque os alquimistas acreditam na existência magia e do sobrenatural, resolveram ajudá-la e a acolheram como uma filha. Com a morte do pai, Gideon Blackwell se tornou o novo alfa e com a derrota da matilha rival, ele ficou com tudo que era dos Whitmore. Se tornou mais cruel do que já era e escravizou as outras pequenas matilhas que viviam na região.
Com a ajuda do único filho do casal de alquimistas, Luna Estrela se tornou uma guerreira imbatível e pronta para guerra, ela retornou a reserva florestal, derrotou Gideon -o que não foi fácil - e seu exército de lobos, conseguiu reaver suas coisas, a herança que sua família deixou e que Gideon tinha tomado para sí. O que Luna não sabia era que estava grávida de Gaia e que Gideon era a reencarnação de um ser amaldiçoado por um dos deuses do Olimpo e que ao matá-lo toda sua linhagem foi amaldiçoada também, dando início a uma nova espécie de lobos-humanos. A linhagem de Gaia e Luna ia ter os poderes dos lobos -em partes -, mas
nunca iriam poder se transformar em um e para sempre iam ficar na pele de humanos. A loba Luna Estrela deu a luz a seis filhos e os criou como guerreiros para que nunca mais se repetisse o que aconteceu com a sua antiga matilha...com a sua família e assim fundou a Lua Negra, uma organização que caça e mata lobos maus. Ela se tornou uma caçadora de sua própria espécie...

—Perai... –fico de pé num salto e sou tomada por uma tontura repentina, mas não deixo transparecer. — Você tá querendo dizer que a minha família é descendente dos lobos e que tudo que eu li no códex da Lua Negra sobre a nossa ancestral Rosemary é mentira?

O velho concorda.

Olho pro Dom que está de cabeça baixa.

—Ai meu Deus! –exclamo de olhos arregalados. — Então esse é o tal segredo da Lua Negra que a Bethany mencionou para mim ontem. Eles mudaram a história porque não queriam que ninguém soubesse que somos descendentes diretos daqueles que mais odeiam, os lobos.

Será que a minha mãe sabia disso? Será que o Dante sabe? Ou só os anciões sabem?

—Mas não foi só por isso que eles escoderam a verdade de todos vocês. –o velho continua.

—Não? – pergunto.

—Você é a reencarnação da loba Luna Estrela, você é a verdadeira líder deles, só você é que pode mandar e desmandar na Lua negra. E os anciões não queriam que ninguém soubesse disso, além deles.

—Eu? – indago surpresa, minhas pernas falham e eu me seguro no braço do sofá para não cair.

Dominic ergue a cabeça e imediatamente vem ficar ao meu lado e me segura pela cintura. Quando sua pele entra em contato com a minha e nossos olhares se cruzam pequenos fragmentos de uma cena invadem a minha mente, me causando um aperto no peito.

Nós dois, deitados sobre uma manta colorida, observando os raios de sol que atravessam os vitrais coloridos em forma de estrelas formando um pequeno arco-íris nas paredes de mármore de... Daqui! O mausoléu.

—Eu te amo, Gaia Blackwell.

Ele sorri e beija o meu cabelo loirissimo, deslizando a palma da mão por minhas costas nuas.

—Eu te amo, Luna Estrela Whitmore.

—Kim? –a voz do Dom me puxa de volta para a nossa realidade.

Pisco.

—Sim? – murmuro com os olhos marejados, me voltando pra ele.

—Você viu o mesmo que eu?

Assinto.

—Gaia, meu amor. –me aninho nele.

—Minha Estrela, meu amor. – Dominic me aperta contra seu peito acelerado, beijando o topo da minha cabeça.

O velho nos observa com um brilho diferente no olhar.

—Agora vocês sabem, não existe amor maior no mundo do que o de vocês. Um amor capaz de superar a morte, o tempo e os obstáculos que essa reencarnação lhes impôs.

Continua amanhã! Votem e comentem pra eu saber o que acharam. Bjuss e boa leitura.