Capítulo 21

25K 2.6K 610
                                    

As ruas de Havenwood Falls estão banhadas em sangue. Ando por elas descalça, sentindo o líquido pegajoso grudar nas solas dos pés. Carrego comigo, pendurado em uma das mãos, uma Alabarda.

Alabarda é uma arma antiga composta por uma longa haste. A haste é rematada por uma peça pontiaguda, de ferro, que por sua vez é atravessada por uma lâmina em forma de meia- lua, com um esporão no outro lado.

Olho ao redor e o cenário é desolador. Muito sangue, muito choro e muitos corpos caídos nas calçadas.

Lágrimas embaçam a minha visão. Tenho a sensação de ter lutado, mas falhado. Ele ganhou. O monstro ganhou.

Começa a chover. Os pingos grossos caem com força sobre mim e se misturam ao vermelho vivo que cobre o chão. Continuo minha caminhada...e nem sei por que estou fazendo isso. Só sei que tenho que continuar.

A visto Dominic em pé no meio da praça, em frente a igreja.

—Dom! –chamo-o, correndo em sua direção, mas paro quando ele se vira para mim.

Dominic me olha sério, com expressão selvagem e puro ódio nos olhos.

—É tudo culpa sua! –ele rosna, apontando um dedo acusatório em minha direção.

Balanço a cabeça e sigo até ele. Subo a pequena calçada, atravesso entre os bancos de cimento, parando diante dele.

—Por que tá fazendo isso, meu amor? Você sabe que eu não...

Dominic não me deixa terminar e num piscar de olhos se transforma num enorme lobo. Com um pulo ele salta para cima de mim com uma fúria incontrolável.

Recuo com uma velocidade inumana e tento manter uma certa distância entre nós, mas Dominic investe de novo contra mim e vem em minha direção com sua grande boca aberta.

Empunho a Alabarda com a ponta fina erguida na minha frente e atravesso o coração do lobo com ela. Sangue respinga no meu rosto e entro em desespero quando me dou conta do que acabo de fazer.

Solto a alabarda e desabo ao lado do corpo do Dom no chão.

Acordo aos prantos, me sentindo sufocada. Jogo os cobertores pro lado e corro até a janela aberta.

Cai uma forte tempestade, com relâmpagos e trovões. Respiro fundo três vezes, deixando os pingos molharem meu rosto para que eu realmente consiga me libertar da sensação ruim em meu peito e depois fecho tudo.

Quando me viro pra voltar pra minha cama, quase caio dura no chão.

O homem que apareceu para mim na rodoviária assim que cheguei em Havenwood Falls, está parado na minha frente, me encarando.

—O- que- que- que você quer? –gaguejo nervosa. Me apoio na parede com as pernas tremendo mais que vara- verde.

Ele segura firme em seu cajado e eu começo a imaginar o tanto de coisas que ele pode fazer comigo se resolver me atacar com aquilo e como poderei me defender, é claro.

—Não tenho muito tempo, criança. –sua voz é grossa. —Eu sei onde está o que procuras. Grave bem essas palavras que vou lhe dizer. Por segurança, vou lhe falar em forma de charada.

Concordo e o velho continua.

Dizem que quando o universo conspira a favor, nem mesmo a morte consegue destruir um verdadeiro amor.

Repito mentalmente o que ele me diz.

—Você entendeu?

Assinto.

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora