Capítulo 17

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Dominic

O bar Black Wolf é o refúgio dos lobos nessa cidade de merda. É o único lugar onde temos certeza que nunca vamos cruzar com um caçador da Lua Negra, já que eles estão em todos os lugares parecendo serpentes prontas para dar o bote.

O sininho em cima da porta balança fazendo um pequeno barulho quando abro a porta e entro.

Dalila, uma loba de uns quarenta anos, mas com corpo de trinta, sorri ao me ver cortar caminho entre as mesas redondas de ferro até o balcão onde ela está atrás enxugando alguns copos de vidro com um pano de prato branco com desenhos de maçã.

—Mais quanta honra receber o nosso alfa aqui no meu humilde bar. –ela brinca fazendo uma reverência e quando faz isso quase posso ver seus seios turbinados pelo decote da pequena camiseta preta.

Sem retrucar, pego um banco de madeira e sento. Finco meus cotovelos no balcão, baixo a cabeça apoiando-a entre minhas mãos.

—O que foi meu menino lindo? – ela passa os dedos em meu cabelo. Sinto suas unhas grandes perfeitamente pintadas de vermelho sangue no meu couro cabeludo.

Dalila é muito amiga da minha família desde quando eu era criança. Lembro que ela levava brinquedos para mim e meus irmãos toda vez que ia nos visitar na Villa Lobos. Eu a considero como uma tia postiça.

Ergo a cabeça.

—Por que a pessoa que mais amamos é a que mais nos decepciona?

—Porque quando amamos demais uma pessoa, esquecemos que ela também é humana. Que é capaz de errar, que tem falhas, defeitos assim como nós também temos.

Cruzo meus dedos, apertando-os com tanta força até ficarem sem cor.

—Então tá dizendo que é tudo culpa do amor? –retruco.

Ela balança a cabeça. Seus cabelos bem loiros, quase brancos presos por uma bandana com detalhes em caveiras, balançam de um lado a outro quando ela faz isso.

—Esquece o que eu disse, querido. Não posso dar uma opinião mais formada porque não sei o que realmente está se passando com você.

Fito-a por alguns instantes pensando se devo me abrir com ela. Sei que posso confiar em Dalila, mais do que qualquer em outra pessoa, mas é um assunto tão delicado, tão importante pra mim que na verdade não sei o que fazer. Acho que ainda estou me recuperando do choque de saber que sou pai do filho da única mulher que amei (e amo) toda minha vida e que essa mesma mulher o escondeu de mim todos esses anos, me privando tê-lo em minha vida, de fazer parte da vida dele. O que será que ela disse pra ele? O que será que a Kim fez para sustentar essa mentira por sete anos? Será que ele já se transformou? Sei que é na puberdade que ocorre a primeira transformação do lobo-cão. Quando o corpo passa por mudanças, por uma transição de criança para adolescente, o lado lobo-cão também passa junto e é nessa fase que acontece a primeira transformação.

—Eita, tô vendo que a coisa é bem mais séria. –Dalila diz depois do meu silêncio prolongado. Ela vira de costas, pega dois copos, uma garrafa de uísque pela metade, põe em cima do balcão, abre o bico dosador e despeja o líquido âmbar dentro deles, depois me entrega um e leva o seu a boca.

—Posso te contar um segredo? –pergunto, encarando a bebida.

—Você sabe que pode confiar a mim qualquer segredo seu. Lembra quando você tinha uns dez anos de idade e pôs fogo nos cabelos da Dominica? E veio se esconder aqui no meu bar para não apanhar do seu pai?

Sorrio, assentindo.

—Fiz isso porque eu gostava de ir brincar na floresta fantasiado de Tarzã e um dia ela viu, tirou uma foto e mostrou para todos os nossos primos. Eles quase não pararam de me zuar por isso.

—O Leon veio aqui muito bravo procurando por você e eu tinha te escondido no depósito de bebidas depois de derramar quase uma garrafa inteira de vinho em você para que ele não conseguisse te farejar.

Bebo um gole, sorrindo por causa dessa lembrança. Não deve ser fácil ser pai de um filho homem. Será que eu teria sido um bom pai para o Bryan?

Meu sorriso se desfaz com essa interrogação e viro o restante da bebida na boca. Baixo o copo e peço a Dalila que coloque mais.

—Calma aí, garoto. –ela afasta a garrafa para longe de mim. — Só ponho se você me contar o que está acontecendo.

Como o bar está vazio, me sinto avontade pra desabafar. Conto do começo de como conheci a Kim até o momento em que descobri que ela tem um filho meu.

O tempo vai passando e quanto mais vou contando, mais vou me dando conta do quanto amo aquela garota e ao invés de odiá-la por ter me escondido o Bryan, eu a amo mais por ter tido um filho meu.

Quando termino de desabafar sou surpreendido com um tapa na cabeça.

—Ai! –exclamo sem entender nada.

—Mais você é um idiota mesmo. Esqueceu de que família a garota é? Se ela escondeu o filho de vocês, todos esses anos foi para protegê-lo da Lua Negra. Todos nós sabemos do que aqueles caçadores de merda são capazes de fazer, e do quanto eles odeiam os lobo-cãos mais do qualquer outro da nossa espécie.

Pego a garrafa e coloco mais uma dose, virando-a em seguida na boca.

—Mas isso não justifica o que ela fez. Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo.

Dalila põe uma dose.

—Porque você é um egoísta. Só tá pensando no seu lado e não no dela. –ela engole a dose de uma vez e depois se inclina por cima do balcão, se aproxima de mim como se fosse me contar um segredo e me encara com seus olhos cor de avelã. —Você não sabe do que uma mãe é capaz para proteger seu filho.

Me despeço de Dalila quando secamos a garrafa, prometendo que vou vir aqui mais vezes.

Eu ia para casa, mas mudo de ideia e resolvo ir para o único lugar em que consigo pensar em mim e na Kim com mais clareza. Preciso refletir sobre o que Dalila e eu conversamos com muito cuidado e até a noite terei tomado uma decisão sobre o que vou fazer em relação a Kim e o Bryan.

Continua amanhã ❤ Votem e comentem se gostaram do capitulo. Bjuss e boa leitura.

 Bjuss e boa leitura

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Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora