Capítulo 9

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Dominic.

É mais uma daquelas noites que não consigo dormir e estou no terraço, sentado numa cadeira reclinável, com um copo de uísque na mão, olhando à lua. A Kim me deixa confuso e isso está me enlouquecendo. Eu sinto que ela me quer tanto quanto eu a quero, mas toda vez que tento lembrá-la como éramos no passado, de como nos amávamos, ela escapa entre meus dedos. Sei que ela não ama esse tal noivo porque se não, não deixaria eu chegar tão perto dela como fiz duas vezes hoje. Sei que eu deveria sentir ódio dela, nunca mais querer olhar em sua cara depois do que me fez -e até senti tudo isso antes dela chegar, mas quando a vi, o muro da mágoa, do rancor, da sensação de ter sido abandonado, se desfez e tudo que mais quero é tê-la de volta em meus braços, em minha vida. Mas por outro lado, toda vez que me rejeita sinto uma fúria incontrolável porque isso me faz lembrar que foi ela que me abandonou, que me descartou como uma coisa que se usa e que quando não precisa mais, se joga fora.

Oh, Deus, eu amo e a odeio. E isso tá me deixando maluco.

Passo a mão no cabelo, enquanto bebo um gole do meu uísque.

Sei que poderíamos tentar ser amigos, mas é difícil ter por amigo, aquele que se tem por amor.

-Outra vez com insônia? -Lupita surge a porta, usando um minúsculo baby doll branco, contrastando com sua pele morena clara. Evidenciando sua descendência latina.

Assinto, desviando o olhar.

Ela vem e se senta numa outra cadeira ao meu lado. Pega meu copo e toma um gole da minha bebida sem tirar os olhos castanhos-médios dos meus.

Passo os dedos em minha barba e volto a contemplar a lua.

Maria de Guardalupe (Lupita) é linda, sexy, atraente, muito inteligente e tem sido o meu braço direito em tudo, principalmente com a Dani, desde quando minha esposa morreu, mas não consigo vê-la com outros olhos. Não a desejo como mulher.

-Como foi seu dia? -ela pergunta.

Franzo a testa.

Faço uma rápida recapitulação de tudo que aconteceu e só consigo lembrar dos lábios macios da Kim nos meus.

-Não muito produtivo. Voltei ao local dos assassinatos e não encontrei nada que pudesse me mostrar qual caminho seguir, por onde começar a investigar.

Deixo de fora o que descobrimos porque na verdade não sei em quem confiar, principalmente depois do ataque de raiva do meu beta, Kirk. E se for alguém da matilha tentando desencadear uma guerra entre os caçadores e nós? O Kirk tem motivos de sobra pra odiar a Lua Negra, aliás todos nós temos, e pra falar a verdade não acreditei muito nessa história de ritual de ressurreição não. E com base em tudo isso, resolvi não contar pra ninguém do meu povo os progressos da investigação.

Lupita se vira totalmente para mim, deixando as pernas um pouco afastadas.

-Tem certeza que não foi nenhum dos caçadores da Lua Negra? -ela me devolve o copo só com um dedo de bebida dentro.

Balanço a cabeça.

-Não sei, Lupita. Algo me diz que não.

Me viro, pego a garrafa na mesinha ao lado e ponho mais uma dose pra mim.

-Ela está de volta né? O motivo de toda a infelicidade da minha irmã no casamento de vocês.

Paro o copo a meio caminho da minha boca.

-Não sei do que está falando. -digo e engulo a dose, sentindo o líquido âmbar fazer seu caminho por minha garganta.

Ela abre a boca pra falar, mas interrompo-a.

-Acho melhor você entrar, tá ficando muito frio aqui. -ponho mais uma dose, me inclino na cadeira e fecho os olhos, segurando o copo pendurado,  dando nossa conversa por encerrada.

Ouço-a suspirar e depois a porta ser fechada com um baque.

Lupita é minha cunhada e desde quando a irmã morreu, vem tentando me seduzir. É costume do nosso povo quando um lobo fica viúvo ele casar com uma das irmãs de sua esposa falecida pra continuar com o laço entre as famílias, as matilhas. Mas eu não pretendo me casar com ela. Isso nunca nem se quer passou pela minha cabeça.

***
Dante.

Deixo a caminhonete embaixo de um carvalho e sigo a pé em direção a floresta.

Chego numa clareira e então bato no chão com a ponta de um antigo cajado que foi do primeiro xamã.

-Aparece! -bato mais uma vez. -eu sei que você está aqui!

-Por que me invocas? -o velho aparece de repente e quase pulo pra trás com o susto.

-Você sabe por quê. -digo, segurando firme o cajado.

O velho fica em silêncio.

-Quero saber por que disse aquilo pra Kim. Eu ouvi ela contando pra Rubi que você apareceu na rodoviária
e disse que...

O velho levanta a mão enrugada, pra que eu pare de falar.

-Eu lembro muito bem o que eu disse pra menina, não precisa repetir.

-Quero saber porque disse aquilo. Foi uma espécie de aviso não foi?

O velho faz silêncio de novo e isso me irrita.

-É o levante dos amaldiçoados não é?

O velho estreita os olhos e começa a olhar ao redor, como se tivesse preocupado com alguma coisa.

-É, eu sei dessa história. Quando era criança eu ouvia os anciões conversando sobre isso nas intermináveis reuniões do conselho da Lua Negra, quando pensavam que eu estava no meu quarto dormindo.

-Se sabe, então por que veio me procurar? Me invocar?

-Porque eu precisava ter a certeza e também porque quero que me diga como faço para deter isso.

-Não posso dizer. Por favor, não me pergunte mais nada, a pessoa que está fazendo isso, tem algo que me prende a essa terra e só vai me libertar para que eu possa me juntar aos meus no descanso eterno quando eu fizer tudo o que me mandar!

-Ok, OK. -digo vendo o desespero do velho. -Só mais uma pergunta e não precisa nem me responder com palavras, basta só fazer sim com a cabeça. Eu conheço quem está fazendo isso?

Ele assente.

-Obrigado. -levanto a ponta do cajado e o velho some.

Continua no próximo capítulo. Votem e comentem. Amores desculpa pelo capítulo curtíssimo, mas é que desde ontem estou com uma infecção estomacal. Bjuss!! Espero que gostem. Na mídia tem vídeo de música com legenda.

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora