Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)

Capítulo 31

Licaão/Gideon hesita um pouco no batente da porta e entra. Pulo do sofá, jogando meus braços ao redor de seus ombros teatralmente. Sinto ele enrijecer ao meu toque, mas finjo que não percebo e o conduzo até a cozinha onde será executado o nosso plano de matá-lo.

Cada passo que damos é uma luta que travo dentro de mim para me manter firme e não acabar estragando tudo. Licaão é uma das bestas mais antigas do mundo, o que lhe confere uma esperteza sem tamanho e qualquer indício de que é uma armadilha, ele pode perceber e fugir, e eu nunca mais encontrá-lo.

Com a magia de seu cajado, o velho improvisou uma mesa de café aconchegante com um jarro de flores no centro.

—Uau! –Willa/Gideon, exclama com falso espanto. —Você caprichou mesmo nesse lance de café da manhã entre irmãs.

Forço um sorriso, puxando a cadeira em sua direção para que se sente. Ele senta cruzando a perna com um sorriso de canto de boca e vejo traços de Gideon na minha frente. O maldito tinha esse mesmo sorrisinho quando achava que tinha conseguido derrotar o inimigo. Um sorrisinho de triunfo.

Engulo em seco, dando um pigarreio nervoso.

—Você tá bem, irmã? –ele pergunta com uma expressão indecifrável.

Balanço a cabeça lentamente que sim. Se eu pudesse acabaria com essa farça agora mesmo! Mas infelizmente o velho disse que eu esperasse um pouco até ele conseguir camuflar a sua magia para que o licaao não a sinta emanando quando ele aparecer.

—Nossa, eu tô com uma fome. –ele anuncia se curvando por cima da mesa com as mãos indo em direção a jarra de suco de maçã.

Com medo de que tudo não fosse real, me lanço na frente dele com o coração acelerado, impedindo-o de tocar na azeia da jarra.

Willa/Gideon baixa o braço, me encarando com um olhar sombrio.

Droga! Será que estraguei tudo?

Com um sorriso forçado, viro-me ficando de costas pra ele. Lentamente levo minha mão a alça da jarra e a outra ao copo de vidro numa bandeja ao seu lado. Suspiro aliviada quando sinto as peças sólidas entre meus dedos.

"Valeu por não me avisar que tudo que está nessa mesa é de verdade, bruxo de merda." –esbravejo mentalmente.

—Deixa que eu te sirvo. –entrego o copo cheio de suco pra ele.

Gideon hesita um pouco, me encarando com os olhos azuis-escuros de Willa.

—Tá nervosa, irmã? –ele pega o copo e toma um bom gole do suco, sem tirar os olhos de mim.

—Sim, e você, não? –afasto uma cadeira para trás e me sento. —É a primeira vez que vamos sentar pra conversar como... Como irmãs. Eu considero isso como um grande recomeço para nós. –engulo o caroço que se forma na minha garganta ao dizer isso, porque realmente seria um recomeço para mim e para Willa, se esse maldito não tivesse se intrometido entre nós. Não tivesse tomado o corpo dela para si.

Após beber mais da metade do suco num gole só, ele coloca o copo na mesa com um pequeno baque.

—Desculpe. –seu tom é fingido. —É que às vezes esqueço da minha força de lobo-cão quando estou na forma humana. Também acho que será enorme recomeço para nós duas. E estou adorando isso tudo.

Descarto seu pedido de desculpas com um balançar de cabeça, cruzando os braços sobre o peito, ignorando o sarcasmo em seu tom de voz quando disse "E estou adorando tudo isso." É óbvio que ele está zombando de mim por achar que não sei que ele que está no corpo de minha irmã.