Capítulo 2

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Minhas pernas cedem e para não cair encosto-me na parede de tijolos, em um beco vazio entre a loja de doces e a de flores.

—Merda! Droga! Caralho! – solto uma rajada de palavrões, me curvando.

Sei que não tenho o direito de estar me sentindo como se tivesse sido traída pelo Dom, mas não consigo evitar. Sou humana.

Fecho minha mão em punhos, cravo minhas unhas na palma, deixando a dor física substituir a emocional, sangue escorre pelos lados e uma gota cai no chão, o vermelho vivo contrastando com o cimento cinzento e sujo.

Eu sabia que em algum momento eu iria reencontrá-lo e cheguei até cogitar que seria mais fácil vê-lo de novo depois de sete anos, mas não. Tanto o que lutei para deixar esse sentimento adormecido todos esses anos, mas foi só olhar pra ele que tudo voltou com mais força e mais intensidade do que antes. Dominic está em mim, em cada parte do meu ser, em cada célula do meu corpo.

Meu celular toca dentro do bolso do meu casaco. Limpo a mão na parte de trás da minha calça jeans, onde o casaco cobre. Meus cortes já sararam. Não sei o que está acontecendo comigo, mas de uns anos pra cá os meus poderes de lobo tem aumentado de modo que estou mais veloz, mais forte, meu faro mais apurado, e meus ferimentos estão se curando mais rápido do que antigamente.

O nome "Bryan" aparece no visor.

Atendo.

—Oi, meu amor... Está tudo bem sim... Eu ia te ligar, mas é que cheguei muito tarde ontem. Humm... Sim, só vou demorar aqui o necessário. Tá bom. OK. Bjuss. Também te amo. –Desligo.

Respiro fundo, encarando o aparelho com a tela preta por alguns segundos, me reconponho e saio do beco como se nada tivesse acontecido.

***

Ruby está me esperando do lado de fora quando chego em casa.

—Por que não quis que eu fosse até o centro com você? –ela soa, irritada.

Tranco o carro e lhe entrego as chaves quando passo por ela em silêncio.

—Me responde, Kim!

Paro no meio da sala e giro nos pés.

—Porque não preciso de guarda-costas! –seus se olhos arregalam em surpresa. —É, eu sei muito bem que você e a Jess andaram conversando por mensagem pelas minhas costas. E sei que ela lhe contou que tentei cometer suicídio... Mas estou bem agora. Não preciso que fique me vigiando.

Quando cheguei em Amsterdã pensei que as coisas fossem ficar mais fáceis com o passar do tempo, pois eu estava bem longe de Havenwood Falls e de tudo que me ligava a ela e a morte da minha mãe, mas não foi bem assim. Fiquei muito deprimida no primeiro mês, no segundo, no terceiro e assim por diante. Como o desespero, a culpa e a enorme saudade que sentia do Dominic não passavam, tentei me matar tomando uma caixa inteira de calmantes. Jess chegou na hora e chamou o socorro, fui atendida logo de modo que os paramédicos conseguiram evitar que algo bem pior tivesse acontecido comigo.

—Eu só...

Faço um gesto com a mão, interrompendo-a.

—Não quero mais falar sobre isso. Eu tô bem e pronto. –enfio minhas mãos no bolso do casaco e vou pro escritório onde será a tal reunião.

Lua de Sangue. Livro 2 (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora