Lost

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HOPE ON

É incrível como a vida pode mudar de uma hora para outra. Na semana anterior, eu estava praticamente sem tempo para respirar. Mas, de repente, tenho 24 horas vazias no meu dia.
Horas que eu daria tudo para que passassem bem rápido. Para que eu não precisasse ficar vendo o ponteiro do relógio se mover, segundo por segundo e ficar pensando, pensando e pensando, a cada um deles.

Perdi a conta de quantas vezes revi mentalmente tudo o que aconteceu naquela festa. A organização, a menina, o beijo. Do acidente não me lembro, a última coisa que vi foi a rua. Eu queria sair de lá o mais depressa possível. Fugir dali. Fugir de alguém dali. Não sei o que eu estava pensando quando atravessei sem olhar. Eu achei que tivesse olhado, não vi carro nenhum passando. Não vi ninguém por perto também. Talvez as minhas lágrimas tenham me cegado, pois se tem uma coisa que eu lembro bem, é que elas caiam bastante aquele momento.

Quando acordei no hospital, demorou algum tempo para entender o que estava acontecendo. Meu primeiro pensamento foi que provavelmente eu tinha desmaiado na porta da festa. Mas fui percebendo que aquilo não era nada parecido com o salão. Tudo branco e azul. Silencioso. A não ser que por algumas vozes sussurrando ao meu lado. Virei a cabeça e senti uma dor muito forte, como se pregos estivessem perfurando a minha cabeça, o meu corpo.

Descobri que as vozes era dos meus pais e Kerry. Eles passaram a falar bem alto quando viram que havia despertado. Começaram a me contar tudo o que tinha acontecido, entre beijos e broncas. Foi quando senti a pior dor. No coração. Porque comecei a recordar.

Na hora em que me contaram que o Dylan também estava no hospital, minha vontade foi de gritar. E de chorar. E de gritar de novo. O que ele estava fazendo ali? Já não tinha me deixado em pedaços o suficiente?

E então ele entrou no quarto. Se eu não estivesse entre fios de soro e engessada, certamente teria saído correndo. Talvez dessa vez eu não estivesse tanta sorte, talvez agora um carro me destruísse inteira, em vez de apenas partes. Mas, como eu estava impossibilitada de mover praticamente o corpo inteiro, exigi que o tirassem dali. Eu não queria vê-lo um segundo. Eu não queria encontrá-lo nunca mais.

Eu pensava nele. Pensava nos dias que passei com ele. E pensava nos dias que viriam... sem ele.
Por mais que eu implorasse para que alguém trouxesse o meu celular para eu poder encher minha cabeça com alguma outra coisa sem ser a boca do Dylan em outra. Disseram que eu não deveria fazer muito esforço. Tinha uma televisão lá, mas a programação dos canais que ela possui não incluía nenhum filme. Dessa forma, eu passei três dias olhando para uma parede. Dormindo.

Só quando me levaram para casa, uns quatro dias depois quando certificar-se de que a minha cabeça realmente não tinha nenhum problema, além de um grande galo, e que meu braço e minha perna estavam devidamente operados e engessados. É que eu pude voltar para a vida real.

Quer dizer, mais ou menos. O meu quarto se tornou meu mundo, Kerry e meus pais não saiam dele. E pelo visto iria continuar a ser assim um bom tempo. Só quem já quebrou o braço e a perna ao mesmo tempo, sabe como é impossível andar de muleta. Ou andar de qualquer forma.

No começo, não foi muito difícil. Os meus pais e Kerry e claro, o meu chocolate e hambúrgueres me fizeram companhia. Mas então eu comecei a sentir falta de luz solar, de pessoas, de outros cenários.... e do Dylan.

New beginning, big love.Onde histórias criam vida. Descubra agora