deux ❇ seventy-six

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𝙜𝙞𝙨𝙚𝙡𝙡𝙚 𝙙𝙚𝙨𝙘𝙝𝙖𝙢𝙥𝙨

Levava o pincel com a tinta preta para a tela quando ouvi um som mais parecido com algo caindo e em seguida um grito, me fazendo levar um susto e borrar uma das minhas melhores obras.

Merda.

Me levantei desesperadamente e corri para o quarto do meu pai, pegando um taco de beisebol e indo em passos lentos para a varanda, da onde o som veio com gemidos.

Belo momento para estar sozinha em casa, Giselle.

Meu peito subia e descia rapidamente por culpa do meu coração acelerado e a respiração ofegante. Eu podia sentir a ponta dos meus dedos brancos por tamanha força ao segurar o taco.

Abri a porta de vidro da varanda lentamente para não fazer barulho e vi um garoto alto se contorcer no chão, com dor, mas mesmo assim levantei o taco para ele, ameaçando o bater.

— Q-quem é você?! — minha voz saiu trêmula, fazendo seu olhar vir até mim e arregalar os olhos, ele se arrastou para trás e gemeu baixo, olhando o taco — O que diabos você está fazendo na minha varanda?! — ameacei bater nele com aquilo, dando passos para frente ao ver que ele estava com medo de mim.

Nem uma mosca tinha medo de mim, mas esse garoto de quase um metro e oitenta tinha, o que era muito estranho para mim.

— C-calma, garota! — ele se apoiou na mesa de vidro que ali havia e se levantou, e eu pude me sentir totalmente fora do controle ao ver que ele com facilidade poderia tirar o taco de mim e fazer o que queria por ser três vezes mais forte que eu — Eu cai aqui sem querer.

— C-caiu da onde?! Do céu ou a cegonha te trouxe?! — gritei furiosa mesmo sentindo todo o medo e adrenalina percorrerem pelo meu corpo — Caso você não tenha percebido, aqui é a cobertura e não tem nada acima de nós!

Eu estava tremendo, fazendo o taco balançar de um lado para o outro e eu suspirei, vendo minha situação.

— Quem é você? — perguntei novamente com a voz mais calma.

— Se você abaixar esse taco, eu posso até falar. — ele disse, mas eu o olhei mais séria ainda. Ele acha mesmo que eu vou abaixar só para ele me atacar? — Gilinsky. Meu nome é Jack Gilinsky.

— O que está fazendo aqui? Veio roubar algo? Sequestrar?

— Ah, claro, vim sequestrar uma garota aleatória com o rosto sujo de tinta, por que não? — ele pergunta irônico e novamente ameaço bater nele com o taco, o fazendo dar um pequeno pulo de medo.

— O que está fazendo aqui?! — gritei novamente, perdendo minha paciência.

— Eu estava fazendo parkour! — ele explica rapidamente.

— O quê? — pergunto confusa.

— Eu estava fazendo parkour nesse meio-fio, mas eu me desequilibrei. Era cair aqui ou na rua!

Soltei um suspiro de alívio e hesitante abaixei o taco, mas ainda o segurando com firmeza.

A história me parecia algo muito estranho, mas ainda sim, preferi acreditar.

Meus olhos desceram para seu braço que de longe podia ver que estava inchado e vermelho, se destacando na camiseta branca que ele usava.

Giselle, se controle, não convide um estranho para sua casa e não faça um curativo nele.

— Hum, eu posso fazer um curativo.

Por que eu não sigo meus próprios conselhos?

Ele anda até mim devagar — talvez com medo do taco que ainda estava na minha mão — e entra dentro do meu apartamento.

— Meu quarto é a segunda porta do corredor, eu vou pegar o kit de emergência.

Ele assenti e anda pela casa, analisando tudo minuciosamente. Anoto mentalmente que antes de sair, preciso o revistar. Meu pai me mataria se descobrisse que algo sumiu.

Vou ao banheiro e pego na gaveta o kit de emergência, indo em seguida para a cozinha pegar gelo e depois até meu quarto. Jack estava olhando o quadro que eu estava pintado que, agora, tinha uma enorme mancha preta o estragando completamente.

— Arte contemporânea, não? — ele pergunta sarcástico e eu reviro os olhos.

— Você me fez fazer isso. — digo e ele me olha indignada.

— Eu? Acabei de entrar no seu quarto! — ele se defende.

— Mas você me assustou e fale baixo, já é tarde. — aviso mantendo meu tom de voz calmo e ele ri levemente.

Jack se senta na minha cama, vendo a bagunça que a mesma estava. Diversas folhas testando cores, rascunhos e inspirações.

— Ora, você não é tão diferente de mim. — ele diz olhando um dos meus rascunhos da obra que foi estragada.

— Tenha certeza, eu não saio por ai que nem um macaco pulando de galho em galho. — digo e me sento ao seu lado, abrindo a pequena caixa branca.

Pego delicadamente seu braço, ouvindo um pequeno resmungo que estava doendo. Ele estava inchado e bem vermelho e eu podia ver todas as veias saltadas.

— Foi uma bela queda, mas não quebrou nada. — murmuro, analisando — Por que estava no terraço? Sabe que se o síndico ver daria muito ruim para você, né? — digo passando o gelo em seu braço e totalmente focada naquilo.

— Ele já me viu uma vez, não deu muita coisa. Aí, vai devagar! — ele geme de dor.

— Pare de ser covarde. — reviro os olhos.

— Você sabe o que está fazendo pelo menos? Aliás, qual é seu nome?

Passei a língua entre meus lábios, os umidecendo.

— Giselle Deschamps. — digo — E, sim, eu sei o que estou fazendo.

— Você tem sotaque, da onde é? E tem certeza?

— Minha mãe era francesa, e meu pai é médico, já vi isso diversas vezes. — explico, pegando uma pomada e colocando uma grande quantia no meu dedo, logo espalhando por todo seu braço.

— Você faz faculdade de alguma coisa? — ele pergunta, olhando novamente envolta.

— O quê? Faculdade? Quantos anos acha que eu tenho? — o olho indignada.

— Não sei, nenhum adolescente tem quadros e um violino no quarto. — ele ri e eu solto uma risada forçada.

— Super engraçado. — digo dessa vez irônica — Eu fiz dezessete anos faz três meses e gosto de ser eu mesma, só isso.

Pude sentir seu olhar em mim, mas me neguei a devolver, espalhando a pomada.

— Ainda parece uma senhora de setenta e seis anos. — acabo por solta uma leve risada — Olha, ela sabe rir.

— Não seja idiota. — digo revirando os olhos e passando o gaze entorno de toda vermelhidão do seu braço — Você faz esse seu parkour a quanto tempo?

— Comecei com uns treze anos, eu acho. — solto um "uau", o olhando — O que você fazia com treze anos, Elle?

Eu podia sentir as dezenas de formas que ele pronuciava meu novo apelido, de sarcasmo a gentileza, me irritando e me dando vontade sorrir ao mesmo tempo.

— Eu mostrava meu primeiro quadro ao meu pai. — digo sorrindo ao me lembrar daquilo.

— Era o quê? Um elefante cor-de-rosa? — ele ironizou.

— Um retrato da minha mãe que eu mesma tinha feito a olho. Claro que não ficou perfeito, afinal eu só tinha treze anos, mas ainda sim... — paro de falar ao ver seu olhar analisar meu rosto inteiro e percebo que estava falando demais.

— E por que você faria um quadro da sua mãe? — ele diz com a sobrancelha franzida e a boca entre aberta.

Aquela era uma boa pergunta para mim, eu não sei se tinha uma resposta concreta o que me fez suspirar lentamente e responder:

— Acho que... para não esquece-la.

𝗣𝗔𝗥𝗞𝗢𝗨𝗥, gilinsky [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora