Cara entrou no quarto que ocupava sempre que ia para o barco e se jogou na cama, o pensamento disperso. Não era muito fã de barcos ou do mar, mas sempre havia sido do tipo que enfrentava seus medos, e usava o humor para isso. Era mais fácil do que se mostrar fraca ou vulnerável. Nunca mais se colocaria nessa posição.
Sorriu ao pensar em como o pai parecia relaxado e feliz. Tão diferente do homem focado no trabalho e sério do qual tinha lembranças.
Ouviu seu celular tocar e procurando pela bolsa, deu um salto ao vê-la perto do sofá, quando conseguiu achá-lo, a ligação já havia cessado, abrindo a tela, viu que havia sido César. Discando logo em seguida, aguardou.
— Oi amor, aconteceu algo?
— César não pode atender agora, querida. — Uma voz rouca disse do outro lado.
— Quem é você? — Cara perguntou, uma sensação ruim correndo pelo corpo.
Antes que a outra pudesse dizer algo, a voz de César se fez clara dizendo.
— Pequenina, venha, já preparei o banho, a água está do jeito que você gosta.
Era tudo o que ela precisava escutar. Desligando o celular o atirou contra a parede e soltando o grito abafado se jogou na cama, enquanto lágrimas furiosas desciam pelo rosto. Ele a estava traindo, o maldito mentiroso. Isso explicava muitas coisas, os telefonemas tarde da noite, as viagens súbitas e o fato que ele não fazia sexo com ela há mais de uma semana. Pouco importava a lógica lhe dizer que ele estava viajando a mais de uma semana. Ele não a amava mais.
Algum tempo depois, decidida a não se deixar abater, trocou de roupa, e saiu para explorar o barco, sempre o fazia, mas dessa vez não tinha as irmãs ao lado. Agora era apenas ela e o mar. E os tubarões. Caminhando sem rumo, chegou até a piscina de água quente, e sentou na beira. Olhando o mar, viu não tão longe, algo que lhe causou alguns segundos de pânico. Um tubarão solitário nadava, quem sabe a espera da próxima vítima. Assustada igual quando tinha 8 anos ela se levantou para fugir dali e deu de encontro ao pai. Se agarrou a ele, precisando de proteção, por qual motivo já não fazia ideia.
Carlo abraçou a filha apertado e caminhou até uma das cadeiras mais a sombra. Cara não havia falado nada, mas não precisava, ele conhecia sua menina, e ela estava magoada.
— Eu sou forte papai, eu sempre precisei ser assim, mas as vezes cansa. — Ela disse com a voz abafada, ainda abraçada a ele.
Aninhando ela no colo, ele a fez erguer o rosto e perguntou delicadamente:
— O que houve Cara?
— Mais fácil perguntar o que não houve, a lista é tão imensa, tão cheia de coisas... César viajou, logo após uma briga... Eu vi um tubarão agora a pouco, uma mulher atendeu ao telefone dele...
Ela falava de modo desconexo, rapidamente.
— Respira menina e vamos por partes. Porque vocês discutiram?
— Ele disse que precisa de filhos, que a mãe dele exige que se case e tenha um filho a seguir.
— Filha, vocês estão noivos, estão juntos a bastante tempo, é natural que logo após o casamento, tenham filhos.
Ela secou uma lágrimas e disse baixinho:
— Eu não posso ter filhos papai, aquilo não deixou apenas marcas no meu corpo do lado de fora, ele deixou ainda mais por dentro. Minhas chances de engravidar são de 15% talvez menos.
— É você contou isso a ele? César sabe disso?
— Não, eu apenas disse que filhos não estão nos meus planos, e que talvez nunca estejam. Ele reagiu mal e saiu, me avisou depois da viagem.
Carlos queria dizer mais, mas se calou, Cara precisava desabafar.
— Agora a pouco, meu celular tocou e quando retornei a ligação para ele, uma mulher atendeu, dizendo que ele estava ocupado e logo após isso ouvi ele dizer a ela que tinha preparado o banho do jeito que ela gostava. Ele foi carinhoso com ela papai. — É começou a chorar.
Carlos a abraçou e ninou.
— Vai ficar tudo bem minha filha, tudo vai se resolver.
Sem se importar com as lágrimas caindo ou o cabelo bagunçado, ela o olhou e chorou mais
— Eu menti para ele papai, eu quero um bebê, eu quero uma miniatura nossa, correndo pela casa. Alguém a quem ensinar a jogar God of war, a ensinar a como trapacear na colheita feliz, eu quero poder amar um bebê meu, é pedir muito? Mas eu não posso, por causa de um maldito tubarão, por causa do marido dela, por causa de tudo, EU NÃO POSSO! — Ela gritou a última parte.
Ele a abraçou um pouco mais e a deixou chorar. Quando sentiu que ela havia adormecido, levantou com ela no colo e se preparou para levá-la a te o quarto. Roberta estava parada alguns metros a frente. O sorriso dela o aquecendo.
Após deixar Cara na cama e cobri-la com um lençol, ele ajustou a temperatura e apagou algumas luzes. Ela dormiria algum tempo.
Saindo do quarto, ele foi ao encontro de Roberta.
— Como ela está?
Ele suspirou
— Dormindo. Você...
Ela assentiu, entendendo o que ele queria saber.
— Sim, eu sinto muito, mas foi impossível não ouvir.
Ele abraçou e deu um beijo em seu pescoço.
— O que eu faço?
— Esteja aqui para ela. Deixe que ela saiba que você está do lado dela. E chute a bunda do tal César.
— E a sua perna?
Ela sorriu e mexeu a perna apenas para gemer em seguida.
— Doendo. O que acha de jantar os no quarto?
Ele sorriu, mas lembrando da mãe dela disse:
— E sua mãe?
Roberta sorriu ao dizer:
— Pelo que me disse, vai jantar com Demétrio.
Carlos gargalhou.
— Ele é um bom homem.
Roberta franziu as sobrancelhas
— É bom que seja, mas mamãe sabe se cuidar.
Eles ficaram sentados um pouco mais, até voltarem ao quarto, após um banho juntos, ele pediu que o jantar fosse levado no quarto e pegando o computador, respondeu algumas mensagens. Incluindo uma de César que perguntava se Cara estava bem, se tinha chegado bem. Ele respondeu que sim, apesar da vontade de mandar o outro para o inferno. Mas aquela briga era de sua filha e se ele bem a conhecia, César iria se arrepender.
Roberta saiu do banheiro, onde havia ficado secando o cabelo, usando apenas uma camisola de renda azul. Que deixava pouco a mostra. Carlos gemeu na visão.
— Isso é maldade. Você está machucada.
Ela sorriu antes de dizer...
— Nos surpreenda.
E ele surpreendeu.
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MEU TORMENTO 03 - louco amor
Romance"Meu passado me condena" esse poderia ser facilmente o tema da vida de Carlo Sandoval, o patriarca da família. Bilionário, CEO, bom amigo, excelente papo, pai amoroso, porém ausente. O CEO sempre viveu para o trabalho e tendo ao lado belas mulheres...