Capítulo Vinte e dois - Romance

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Carlo estava no escritório falando com um de seus funcionários, quando Roberta entrou, ela seguiu até ele é se inclinou beijando-o:

— Mais tarde Roberta, estou em uma ligação importante agora — Ele disse e girou a cadeira ficando de costas para ela, que apenas o olhou e pegando uns papéis que tinha na mesa que ocupava, saiu da sala. Batendo a porta com força ao sair.

Ele franziu a sobrancelha e voltou a atenção ao que diziam.

Roberta saiu da sala e foi analisar o documento que tinha em mãos, era um projeto que deveria ser enviada ao departamento de marketing da empresa, era assinado por um tal LB Contanza. O projeto em sí era bom, mas continha erros ortográficos gritantes. Ela continuou lendo os documentos e separando os que estavam certos, mas seu pensamento insistia em ir até Carlo, ou melhor Sr. Sandoval, OGRO.

Carlo terminou a ligação e fez outra para Javier, o filho então contou como estavam as coisas em casa e com as irmãs, Rissa ao fundo ameaçando bater nele por ter comido pasta de amendoim com guacamole. Os dois eram uma piada juntos e ele como pai só podia agradecer a Deus por ter colocado Marissa na vida do filho, Javier havia saído da concha na qual vivera tanto tempo, e logo a pequena Charlie nasceria e seria a alegria da casa do filho, e também Nina seria mamãe logo em seguida e seu coração de pai se abriria para a vida de vovô coruja. Ensinaria seus netos a serem fortes, valentes e a andar de moto. O que lhe lembrou que Roberta ainda não conhecia esse lado dele. Quando voltassem seria hora de mostrar.

E eles voltariam essa semana. Só então ele lembrou do modo como ela havia batido a porta e levantando,  saiu da sala indo atrás dela. Saberia o porque daquele comportamento.

Roberta havia terminado de organizar seu trabalho e sentada na cadeira olhava o mar, seus pensamentos viajando até a infância, onde tudo sempre era mais fácil, uma época em que ela e Liz eram duas meninas unidas, compartilhando bonecas e fazendo planos. Não sabia porque a irmã havia se tornado aquela mulher horrenda, mas lembrava quando havia sido o início. Liz tinha um baile da escola para ir e sua mãe não havia podido comprar o vestido que ela queria. E sim costurado um ela mesma, depois enfeitado com pequenas pedrarias e colocado algum brilho. Liz havia chorado que aquele vestido era uma porcaria, que ela passaria vergonha, e que a mãe destruira sua vida social. Mas no fim havia saído com ele e feito sucesso, todas as meninas amaram e queriam algo assim. Mas ela jamais havia pedido desculpas a mãe por tudo que havia falado. E as coisas começaram a ir de mal a pior ali. Drogas, bebidas, e garotos entrando e saindo de casa enquanto Betty trabalhava. Ela, Roberta sempre se trancava na despensa quando isto acontecia, saindo de lá apenas quando uma Liz alterada chutava a porta gritando que a virgenzinha podia sair. E sumia na rua por horas.

Ela estava tão concentrada em seus pensamentos que não ouviu Carlo se aproximar, dando um pulo quando foi abraçada por ele.

— O que há?

Ela deu de ombros respondendo:

— Apenas pensando na vida, e em como as coisas são. Terminei meu serviço Sr. Sandoval.

E se levantou. Ainda estava chateada com ele, ou talvez fosse apenas tudo cobrando seu preço e ela estivesse sensível demais.

— Sr. Sandoval? — Carlo não entendia a atitude dela, não havia nada que a justificasse.

— Sim, você é meu chefe e não posso esquecer disso, certo?

Ele se a fez sentar novamente e olhando sério disse:

— Havíamos conversado sobre isso Roberta. Sobre não misturar as coisas e sobre como você poderia chutar minha bunda boa se eu fosse um babaca. Eu lamento se não fui muito educado ao falar com você mas estava no meio de uma conversa sobre negócios, eu sou meio novo nisso de me importar realmente com alguém, sério, antes sempre foi sobre sexo, e limites de cartão de crédito, agora é sobre Sentimentos e cumplicidade. Mas se a cada vez que meu tom for áspero você reagir assim, teremos problemas. Muitos e acredito que com muita frequência.

Ela ouviu tudo calada, e então baixou a cabeça:

— Eu reagi mal, desculpe também, mas foram muitas coisas nos últimos dias, e acabou que eu não lidei muito bem com tudo e descontei em você. Eu sei que você é o chefe, que o que temos é algo realmente muito bom e real e que os problemas virão, mas hoje eu me sinto mal, não sei se sou uma boa companhia. — Ela disse antes de dar um beijo no rosto dele e se levantar — Vou para o meu quarto, nos vemos mais tarde ok.

E saiu.

Carlo ficou olhando o nada, até ouvir a voz de Betty.

— Ela é muito doce, sempre foi e isso cobra dela um preço muito alto, e eu não ajudei muito sofrendo na frente dela pelas atitudes de Liz. Roberta sempre achou que deveria ser a filha perfeita para evitar que eu sofresse novamente e ela é, mas não por isso, ela é Leal, amorosa, valente e se doa. Mas não sabe como sentir raiva realmente, tem medo que se mostrar a personalidade real, a que se irrita, que explode, vá acabar sendo abandonada. Então tenha paciência ou a deixe ir.

E saiu.

Carlo pensou na mulher e em todas as discussões que haviam tido até aquele dia, incluindo o dia em que ele havia chamado Odete de ferro velho, e ela havia dito com todas as letras quem era ferro velho e o que ele deveria fazer a respeito disso. Roberta o enfrentava, o animava e instigava a ir além e ele não abriria mão disso, de ter isso com ela. E teve uma ideia.

Roberta abriu os olhos e olhando o relógio viu que passava das 19hs. Ela havia dormido por algumas horas. Zé levantando tomou um banho e vestiu algo leve. Um suave vestido que caia solto por seu corpo, nos pés uma rasteirinha. Mexendo no celular olhou suas mensagens e viu uma da mãe avisando que sairia com Demétrio e Cara para jantar e que ela era esperada na área de jantar. Sorrindo ela abriu a porta e o que viu a fez rir alto. Inúmeros adesivos neon iluminavam a semi escuridao e marcavam o caminho. Ela os seguiu e entrando na sala indicada o que viu a fez parar.

Ali em meio a balões, confetes e iluminação suave, um Carlo de tirar o fôlego a aguardava, ao som de Crazy de Júlio Iglesias. Ele se aproximou dela e a levou até a pista de dança improvisada e moldando os corpos dos dois começou a cantar para ela baixinho, a respiração fazendo cócegas e algo mais nela. E ela tinha que admitir que preferia a voz dele cantando baixinho e que aquela música a enlouquecia e excitava mais que o solo do Slash em November Rain. Ainda mais com a barba dele roçando seu pescoço enquanto dizia:

Louco

Louco
Eu estou louco por me sentir tão solitário
Eu estou louco
Louco por me sentir tão triste
Eu soube
Você me amou enquanto quis
E então algum dia
Você me deixou por um outro alguém Preocupar
Por que eu me deixo preocupar Pensando
O que eu fiz neste mundo
Louco Por pensar que meu amor poderia segurar você
Eu estou louco por tentar
Eu estou louco por chorar
E eu estou louco por amar você
Louco Por pensar que meu amor poderia segurar você
Eu estou louco por tentar
E estou louco por chorar
E eu estou louco por amar você

Roberta não sabia se ria ou chorava, mas disse olhando nos olhos dele o que lhe veio a cabeça:

— Eu sou tão louca quanto você, porque eu também te amo, muito.

E continuaram a dançar... E depois fizeram amor, e só então se alimentaram.

MEU TORMENTO 03 - louco amor Onde histórias criam vida. Descubra agora