Capítulo Trinta e Um - Oração

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Roberta estava sentada na sala de espera do hospital, com Rissa a sua frente, ambas em silêncio, estavam ali havia dois dias já e nada de melhora em Alissa, ela não havia acordado. O que segundo os médicos era bom e ruim, bom pois assim eles cuidavam de sua pneumonia e ruim porque se ela enfraquecesse ainda mais, corriam o risco de perdê-la.

Adeleine havia chegado na noite anterior. E Roberta se compadeceu pela aparência frágil da outra mulher. Carlo havia contado a ela a sua história e ela sentia vontade de abraçar a outra, que parecia Perdida em seu mundo. Mundo este no qual vivera nos últimos anos. Um médico a acompanhava e ela havia passado por todo um processo de avaliações psicológicas e físicas para garantir que estava apta a decidir por conta própria se doaria ou não a Alissa, caso fossem compatíveis.

Neste momento,  tanto Nina quanto Adeleine faziam o exame de compatibilidade.

— Você está grávida?

Ela ouviu a voz de Rissa e a olhou. A mulher a olhava com curiosidade.

— Sim eu estou.

Rissa ficou parada por algum tempo e logo em seguida sorriu.

— Fico feliz por papai. Não me olhe assim, ele me adotou como filha desde a primeira vez que me viu. Aliás todos eles me adotaram. Então saiba que seu bebê será muito amado. Não apenas pelo pai, mas por todos nós. Bem vinda a família Roberta. Somos loucos, imprevisíveis, mas nunca damos as costas a família.

Roberta sentiu os olhos se encherem de lágrimas com as palavras de Rissa, e deu um sorriso.

— Deus queira que elas sejam compatíveis.

Rissa concordou.

— Perder Alissa é inconcebível. Você já fez o teste? Eu não passei infelizmente.

Roberta fez que não e continuou:

— Eu posso fazer?

Uma enfermeira que vinha, ouviu a pergunta e respondeu:

— Claro. Embora não vá poder doar tão cedo, mas já pode ficar cadastrada. Se quiser podemos ver quando pode ser feito.

Roberta se levantou e acompanhou a mulher. Detestava hospitais, mas aquele até que era passavel, não era completamente branco nem tinha cheiro de morte. Sim para ela a morte possuía um cheiro, cheirava a álcool, éter e pinho. Deuses que cheiro horrível tinha pinho.

A enfermeira a levou até onde estavam o médico e o resto da família. Carlo se aproximou rapidamente.

— Está bem? Aconteceu algo?

A enfermeira que havia trocado algumas palavras com o médico, voltou acompanhada dele que disse a Roberta.

— É ótimo que você deseje fazer o exame Srta.?

Roberta sorriu para ele e disse:

— Dunna. Roberta Dunna.

Carlo a olhou confuso em questionamento.

— Exame?

Ela sorriu e disse:

— Sim, de compatibilidade, sei que as chances são ínfimas, mas se posso fazer, por que não fazer?

Kyle lhe assustou, chegando perto dela e a tomando em um abraço apertado.

— Obrigado.

Ela sentiu a emoção lhe tomar novamente ao olhar os olhos do outro homem. Pareciam realmente janelas da alma que nesse momento expressavam medo. Medo por Alissa.

— Por nada.

Carlo a observou em silêncio. Temia que se falasse algo, poderia chorar. Ele já havia passado por muitas coisas, sem se abater. Mas o medo por seus filhos ainda lhe tirava o chão. Experimentara tudo aquilo antes com Cara, depois Javier, Nina, e agora Alissa. Que Deus tivesse piedade de sua alma.

Roberta preencheu um cadastro que era uma formalidade, por sorte sua saúde era excelente e ela havia feito exames algumas semanas antes. O que já ajudaria em afirmar seu estado. Ele a informou que ela não poderia doar naquele momento. O que a desanimou, mas que ficaria no cadastro. Tal qual a enfermeira já havia dito. Infelizmente sua gestação era muito inicial e ela não poderia ser doadora. Não naquela etapa.

Carlo aguardava ansioso por noticias. Nina já havia saído do exame, visto que já estava perto da reta final da gravidez, ela poderia vir a ser compatível. Roberta não, como a enfermeira havia informado a todos. Mesmo assim seria colocada no cadastro. Adeleine estava ainda a fazer. Ele seria grato a ela eternamente. Madeleine no entanto havia sumido. A polícia estava atrás dela, mas era como se ela tivesse evaporado. Era estranho trocar o nome delas, mas a propria Adeleine havia dito que não se sentia confortável com seu antigo nome. Ainda mais este sendo ligado a tanta maldade.

Quando esperava, viu Adeleine sair da sala de exames e sorrir para ele.

— Exame feito, agora é orar.

E foi o que ele fez. Pediu licença a todos e foi até a capela do hospital.

Se sentando em uma das cadeiras, ele baixou a cabeça.

— Eu não fui grato por muitos anos, sei bem disso, e talvez não tenha agradecido o suficiente pela dádiva que foi cada um de meus filhos. Javier com sua calma, sua integridade,  Alissa sempre tão forte, sempre tão justa, tão observadora, Cara com sua humanidade, seu senso de lealdade, ela faria de tudo pelos que ama, Nina com sua força, sua fragilidade e seu dom de amar e cuidar de quem lhe é importante. Todos eles foram um presente maior do que qualquer pai poderia desejar. Eu fui agraciado. Não tire essa graça da nossa família, permita a cada um deles terem a sua própria família, cometerem seus próprios erros e acertos. Não os julgue por nossos erros como pais, eles cometerao seus próprios. Deixe que ela se cure. É tudo que eu lhe peço. E quanto a Roberta, sou grato pela chance de ser amado por ela, e por poder amá-la da forma como ela merece, obrigado pelo mais novo membro da nossa família.

Ele ficou um tempo a mais, ali calado, sem perceber que alguém o olhava das sombras. Alguém que o odiava mais que tudo.

E que faria de tudo para destruí-lo. Madeleine.

Mas justo quando ela ia sair da capela Adeleine entrou. As duas se olharam e vendo a irmã, Madeleine não se conteve e gritou.

Carlo se levantou rápido com o grito e viu o que estava acontecendo, Madeleine tentava agredir a irmã. Adeleine gritava tendo seu cabelo puxado pela outra, que tentava a todo custo feri-lo. Ele correu e conseguiu a muito custo contê-la. A mulher estava enlouquecida. Mas finalmente foi parada, mas não sem antes ele sentir algo arder em seu corpo. Nesse momento outras pessoas entraram na capela e Madeleine foi levada. Adeleine estava bem.

Só então ele pode respirar mais calmamente e viu o que havia ardido. Ela havia enfiado algo como um punhal em seu braço. A vadia.

Depois de todo o rebuliço, e de terem levado a mulher detida. Carlo e o resto da família aguardavam mais uma noite na sala de espera. Alissa havia enfraquecido um pouco mais.

O médico havia prometido falar com eles assim que o exame ficasse pronto.

Eram cerca de uma da manhã, quando eles ouviram passos e logo em seguida o médico, Miguel chegou.

Ele tinha papéis nas mãos e um ar sério.

— Sr. Sandoval? Temos novidades. Os exames deram compatíveis.

MEU TORMENTO 03 - louco amor Onde histórias criam vida. Descubra agora