Capítulo Vinte E Oito - Liz

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Liz desceu as escadas com o teste na mão, saltitando feliz. Um bebê! Igual a sua Betta, ela teria que tomar muito cuidado dessa vez...

— O que você disse lá em cima Liz?

Ela se virou dando com Pablo que a olhava sério e vendo o que tinha nas mãos dela, se aproximou.

— Ora, não é que meu querido amigo não para de procriar... — Pablo disse e olhando para cima deu um sorriso que só poderia ser descrito como tenebroso — Isso acabou de ficar mais gostoso.

Liz foi então foi acometida por memórias, de um outro homem, de uma outra época, e quando Pablo a tocou, ela gritou.

Roberta ouviu o grito de Liz e sentiu o coração disparar, não era um grito qualquer, era um grito de horror. E uma vaga memória de já ter ouvido a irmã gritar assim passou por sua mente. Quando, ela não recordava, mas sabia que Liz já havia gritado assim.

Jogada no chão da sala, Liz se balançava de um lado para o outro, dizendo frases desconexas, nas quais Pablo entendia apenas:

— Para, eu não quero, sai de perto dela, ela não...

Para em seguida gritar novamente e tentar arranha-lo. Ele não revidou, não era mais esse homem, não agredia mulheres, ainda mais uma que estava visivelmente em outro tempo. Pelo que via Liz revivia alguma situação ruim, e ele podia apostar que o gatilho havia sido o teste de gravidez da irmã. Ele abraçou seu corpo trêmulo, enquanto tentava lhe passar alguma segurança.

Para um homem frio e vingativo, sempre voltar para ela, era um mistério, ele sabia do vício em drogas, do apetite sexual Selvagem, mas havia algo nela, quando ela não percebia alguém a sua volta que o fascinava. Liz havia sido sido uma das pacientes da clínica que ele patrocinava.

Ela parou de se debater e aos poucos foi se acalmando.

— Pablo... O que houve? — Ela parecia confusa.

Ele tirou o cabelo dos olhos dela, e deu um sorriso.

— Me diga você. O que você quis dizer com sai de perto dela?

Como ele havia imaginado, ela tentou se afastar. Mas ele não permitiu.

— A verdade Elizabeth.

Ela o olhou e se ajeitou no colo dele. Que a carregou para a escada, podia apostar que a irmã estava na porta, e sabia que ela precisava ouvir tanto quanto sua Liz falar.

— Começou quando eu tinha uns 4 anos, talvez antes. Quem sabe, mas foi a partir daí que eu comecei a entender. Éramos apenas nós três em casa, mamãe, eu e ele. Ele era encantador, divertido, formavamos a família de comercial sabe, mamãe trabalhava de dia, e ele como trabalhava apenas a noite e só alguns dias na semana, cuidava de mim e da casa.

Roberta ouvia as palavras da irmã, sentada no chão perto da porta. Não queria, mas precisava ouvir, precisava entender como Liz se tornara aquilo.

— Um dia, mamãe ligou avisando que iria fazer cerão, eu lembro que ele ficou com raiva, quebrou algumas coisas, e depois veio para mim, pegou uma corda e me bateu. Eu gritei, pedi que ele não me batesse. E ele parou.
Quando mamãe chegou, eu estava dormindo, e ela foi me dar um beijo, eu comecei a contar e ele entrou no quarto. Fiquei com medo.

Roberta não podia acreditar no que ouvia, seu pai não era aquela pessoa, ele não era assim, ele havia sido amoroso. Exceto com Liz...

Pablo ouviu Roberta fundar no andar de cima, Liz perdida em pensamentos não percebeu.

— Ele se tornou um monstro. Sempre me batendo, sempre me tocando. E sempre dizendo que eu iria ser mandada embora. Eu vivia com medo. Aí mamãe engravidou, e eu fiquei feliz por que ia ganhar um bebê, mas tudo piorou, ele perdeu o emprego e mamãe teve que trabalhar dobrado. E para mim piorou também, ele passou a me tocar mais e mais. Até que no dia que Betta nasceu, ele me violentou. Eu tinha pouco mais de 8 anos Pablo. Eu tentei contar na escola e ele foi chamado, e negou, contou algo sobre eu estar enciumada com o novo bebê e querer chamar a atenção.
Betta e mamar chegaram da maternidade. Ela era tão linda, tão fofa, e eu a amei tanto.
Mamae voltou a trabalhar e eu ajudava a cuidar dela, tentava fazer com que ela não chorasse, principalmente quando ele estava dormindo. Até que um dia eu o peguei olhando pra ela, eu sabia o que o olhar dele significava. Ela tinha alguns meses, ele não podia fazer nada com ela, não com ela. Um dia mamãe foi ao mercado e eu escondi Roberta no porão, ele queria saber dela, e eu não contei. Então ele me forçou mais uma vez e depois caiu apagado. Eu fui pra casa da vizinha. Mamãe chegou e ficou furiosa, ela achou Betta suja e achou que eu fiz por mal. Quando ele acordou, ela contou e ele foi me castigar. Enquanto supostamente conversava comigo, ele me tocava.

A partir daí eu me perdi. Passei a andar com pessoas erradas, a ser rude em casa, tentei não me aproximar dela. Mas ela sempre foi irresistível, como não amar alguém que diz para você: Liz voxe é a melhor irmã de todas. Sempre que ele vinha pra cima de mim, eu prendia Roberta em algum lugar, aumentava o som, e gritava. Gritava, até ele me bater.
Um dia eu ameacei contar a todos o que ele fazia. Ele bateu em mamãe, tanto que ela não pode ir trabalhar por uma semana. Foi demitida. Quando eu não aguentei mais aquilo, fui embora, não sem antes garantir de um jeito bem doloroso a ele, que ele não tocaria em Roberta. E também garanti que meus amigos ficassem de olho nele.

Eu fui embora, me virei como podia. Soube quando ele morreu e senti alívio, mas tudo já havia mudado. Pelos meus amigos eu soube que ele se tornou um exemplo pro bairro, excelente marido, pai perfeito. O monstro que ele era, apenas eu conheci.

Pablo a beijou, furioso que não pudesse ele mesmo matar o monstro que o pai dela havia sido. Enquanto isso, Roberta chorava em posição fetal, as lembranças do pai, doce e amigo destruídas nas palavras da irmã.

Algum tempo se passou e Pablo subiu, havia deixado Liz no sofá. Enrolada em um edredom.

— Pequena Roberta, se acalme por favor.

Ela o olhou e perguntou:

— Eu posso ir até ela?

Ele a ajudou a levantar e vendo a instabilidade dela, a carregou. Chegando a sala a colocou sentada ao lado de Liz. As duas mulheres se olharam, e com um grito sufocado, Liz se jogou nos braços da irmã.

Pablo saiu da sala e pegou o celular.

— Sandoval, vou deixar sua mulher na casa dela. Diga a Kane e Lory que eu lamento muito. Tudo.

E desligou.

MEU TORMENTO 03 - louco amor Onde histórias criam vida. Descubra agora