Capítulo 6

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No sábado haveria uma festa, e para terror de Elly, Ortega fazia questão de sua presença. Ela tentou argumentar, dizendo que tinha muito trabalho para ser adiantado, no entanto seu patrão se mostrou irredutível.

Maiá ficara animadíssima ao saber que iriam juntas a festa de arrecadação de fundos social para os órfãos. Porém, Elly sabia que era apenas mais uma oportunidade de homem de negócio falarem de seus negócios. Uma grandiosíssima hipocrisia.

Douglas Velásquez também estaria lá, e com certeza, não queria encontra - lo. Ele se mostrou distante e profissional desde seu encontro. Após um mês de trabalho árduo, suas expectativas quanto ao projeto cresciam.

Sentada assistindo o ensaio fotográfico das doze modelos em trajes de banho, Elly gargalhava com as caras e bocas das meninas plus size.

Naquele grupo existia uma boa gama dos bio tipos brasileiro. Mulheres altas e baixas, magras e gordinhas, loiras e morenas, brancas e negras, mulheres lindas e festivas. As modelos insistiam que ela deveria entrar na brincadeira. A qualquer oportunidade jogavam uma indireta para a diretora de marketing ou tentavam arrasta la.

- Você vem agora? - Uma negra alta, com seios e quadris fartos em um maiô com motivos africanos estava parada diante ela.

- Não, vocês são as modelos...

A mulher pegou o notebook e os papéis deixando - os de lado no divã. Pegando em sua mão, literalmente a arrastando para o meio das meninas.

- Eu não vou tirar a roupa! - Elly achou bom deixar claro, ouvindo um sonoro protesto em meio as risadas. 

As modelos livraram ela do seu blazer, logo em seguida soltaram seus longos cabelos castanhos.

- Vocês são umas figuras.

- Faz pose, a câmera te ama! - O fotógrafo tirava uma sequência de fotos das modelos e Elly.

A brincadeira durou cerca de trinta minutos, elas faziam poses com guarda - sóis e cangas de praia. Elly descobriu que havia um observador, atento, do outro lado do estúdio, tomando café.

Seus olhares se encontraram, soltando faíscas. De repente, ela sentiu seu corpo em chamas, a necessidade de fugir dali cresceu, assustadoramente nela.

- OK, meninas. Tenho que ir ao escritório, nos vemos daqui a pouco.

As modelos reclaram, porém não a convenceram do contrário. Antes de sair apressada, pegou o notebook, os arquivos sobre o divã, e seguiu para o elevador.

Afogueada com aquele olhar, sentia a pele em chamas. Precisava beber água... Água muito gelada.

Afinal de contas, por que sentiu - se tão incomodada? Lembrou - se de quando o encontrou no shopping, Douglas não a olhou daquele jeito. Não com tamanha intensidade.

Saindo do elevador tropeçando nos próprios pés, ignorando tal fato, seguiu para sua sala.

- Santis, eu preciso de água gelada... Muito gelada. Por favor!

- Claro, chefinha. - Santis trouxe a água, entregando junto uma pasta com fotos e relatórios dos locais para as gravações dos comerciais, eficiente. - Você está bem, Elly?

- Eu vou ficar bem. - Após beber a água avidamente, passou a analisar as fotos.

Seguiu o resto da tarde trabalhando, sem perceber que não deu tempo para cumprir sua promessa de voltar ao estúdio. Seria melhor assim, não precisava sentir - se encurralada ou coisa parecida.

Coisa parecida? O que mais poderia ser, se não Douglas buscando intimida - la? Ele era um homem bonito, sim, com seu porte atlético imponente e seu sorriso hipnotizante, no entanto, ela notara haver uma sombra em seu olhar. Pensou que talvez, essa sombra fosse devido ao histórico compromisso rompido. Mas, descartou tal hipótese. Já havia visto tal sombra no olhar de outras pessoas, que a conheciam, aquele era o olhar da desconfiança.

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora