Capítulo 27

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O trajeto do hospital até o prédio onde moravam fora feito em silêncio sepulcral. Caroline não era exatamente uma mulher frágil e indefesa como aparentava, entrará no carro ao lado de Ramirez polidamente sem novos arroubos. Vez por ou outra ele notou lágrimas rolarem antes que fossem amparadas pelo pequeno lenço rosa que trazia consigo.

Os dois tinham perguntas formigando nas cabeças, porém nem ainda no elevador se permitiram fazê - las. Ao vê - los juntos o grupo de moradores que conversava com o porteiro se calou instantaneamente até que o elevador se fechasse para que pudessem voltar ao coxixo.

Uma vez dentro do apartamento Caroline dispensou a timidez, tendo em vista os últimos acontecimentos pensou que seria algo desnecessário.

- Você já pode ir. - Disse apontando para a porta, e muito embora a frase parecesse hostil seu tom de voz era pacífico. Confuso...

- Está magoada comigo por que não te contei que sabia quem você é? - Ramirez brincava com o molho de chaves que tinha em mãos, sem coragem de olhar para a loira. Sua resposta o surpreendeu forçando - o a encara - la de uma vez.

- Não... Eu sei que a má fama do meu nome me precedê... - Fez uma longa pausa indo sentar - se no sofá perto da janela olhando para o horizonte decorado por construções antigas e recentes. Ao voltar a falar parecia cansada. - Na certa queria proteger seus amigos... Afinal de contas... Quem sabe que planos sórdidos eu estou tramando?...

A mulher estava correta em cada palavra... Desde o início Ramirez a observou, sondando seus gestos, fazendo contato com velhos amigos advogados franceses, checando álibis... Em fim, chegou a conclusão que havia de fato acontecido algo sério com aquela pequena magricela, contudo teria que aguardar o momento propício para sanar suas dúvidas.

- Você me investigou?

- Sim.

- Tem dúvidas?

- Sim.

- Quais? - Caroline foi tão direta quanto ele poderia ter imaginado.

- Foi uma noite agitada para todos, por que não deixamos isso para depois? - De repente sentiu um incômodo estrangulando sua glote fazendo ele recuar. Questionando se realmente queria as respostas.

- Eu não sou uma farsa... Tudo isso não é um teatro... - Profundamente emicionada Caroline apontou a sala simples com um sofá preto, uma poltrona azul e uma mesinha entre os dois móveis comprados num brechó na esquina. Enquanto a analisava, pensando na resposta, deu de ombros desprezando as marteladas no peito perturbando seus sentidos.

- Por que você largou sua carreira de modelo após a morte do seu noivo Charles? - Ramires perguntou pausadamente. Ao que ela sorriu de um geito triste focando nas dores do passado, o olhar perdido na vista.

- Por que não havia sentido naquela vida.

- Você vendeu tudo e foi trabalhar com os pais do seu falecido namorado.

- Eu não... Não tinha para onde ir... - Ele esperou calmamente. - Como eu poderia voltar a conviver, com os responsáveis pela morte da pessoa, que mais amei na vida? Descobri semanas depois da morte do Charles, que meus pais haviam forjado um... Um flagrante para ele ser preso como traficante de drogas, compraram o juiz que o condenou com pouquíssimas provas... Para Charles mesmo sendo inocente era uma vergonha, após lutarmos um ano pela sua liberdade, ele contraiu tuberculose, seu estado de saúde piorou drasticamente, e nós o perdemos em pouco tempo. Vendi meu apartamento, o carro, as jóias, enfim tudo. Dei a maior parte para os pais dele, sei lá! Acho que só queria indeniza - los pela perda do filho.

- Isso aconteceu, depois que você descobriu a armação toda?

- Sim. Fiquei arrasada com a morte dele e voltei pra casa, sabe para um colo de mãe? Por que Branca sempre me tratou muito bem, era carinhosa e solidária. Nunca entendi o motivo de Eleonor não se dar bem com ela. Os Valdez me receberam sem julgamentos. Passei dias entregue a depressão, até que lembrei de uma passagem da bíblia em Habacuque, que diz: "Mas, o justo viverá pela fé." Fui ao escritório pegar uma Bíblia. A encontrei na mesa ao lado do computador. O e-mail estava aberto com o nome do juiz que condenou o Charles... Eu abri e li todos os e-mails. Não havia como negar o envolvimento deles... Nós discutimos e desde então não nos falamos.

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora