Capítulo 31

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As vezes para ajudar a quem amamos é necessário uma boa dose de coragem. Coragem para confrontar com palavras ou para tomar atitudes extremas. De qualquer forma, seria preciso enfiar as mãos num vespeiro, e aguentar as consequências.

Consciente de que teria mostrar que suas intensões eram as melhores possíveis, Caroline encheu - se de tal coragem, disposta a ajudar sua irmã no que quer que fosse preciso, partiu após o trabalho para a casa dos Valdez.

Branca e Humberto não estranhariam sua visita, até poderiam acreditar que o fazia por rendição, por não suportar a carga diária de trabalho, preferindo o luxo e conforto oferecidos pelos pais amorosos. Claro que para usufruir de tais privilégios, a filha obediente assumiria seu compromisso de noivado com o filho do senador.

- Nada mais justo! - Diriam sorrindo.

Em resposta, certamente ouviriam um sonoro:

- Não! - Caroline disse baixinho, sorrindo ao imaginar a expressão, que os dois fariam. Controlou - se pois estava num ônibus, sentada ao lado de uma idosa dormindo, sem se importar com o calor e os solavancos. Decidira ir de ônibus, por que a corrida do táxi seria um valor absurdo, afinal trabalhava do outro lado da cidade de São Paulo. Sua para chegou, e ao descer teve que caminhar por mais oito quadras até chegar à portaria do condomínio de luxo. Logo que tocou o interfone, uma voz enfadonha a atendeu, aparentemente de homem.

- Portaria do Condomínio Portal das Flores.

- Branca Valdez esta me esperando. Diga que é sua filha, Caroline Valdez.

- Nós a esperávamos a trinta e cinco minutos.

- Meu ônibus atrasou. - Houve um breve silêncio. Infantes depois o portão social se abriu, dando passagem a um dos homens mais altos e fortes que Caroline tinha visto.

- Por favor, me acompanhe senhorita. - Os dois entraram num carro com o slogan de uma empresa de segurança privada. Rapidamente chegaram em frente a casa dos pais dela.

Era uma linda mansão moderna com colunas de mármore branco adornando a frente, com esculturas de deuses gregos dentre eles Adês e Zeus, que travavam uma grande batalha. Lírios, begônias, narcisos e hortênsias floresciam em meio as outras espécies de plantas exóticas no jardim principal. Janelas altas com vidraças impecáveis, adornadas por cortinas brancas, permitiam a entrada da luz natural nos cômodos da casa espetacular.

Ao entrar ela ficou parada de pé na sala, a espera de sua mãe. Olhando - se no grande espelho anguloso, que mostrava sua silhueta magra num traje social simples de secretária. Fez uma careta para seu reflexo. Claro que dona Branca lhe reprovaria o modelito. Jogando os cabelos de um lado para o outro, concluiu que não havia como receber a aprovação de sua mãe.

- Se um dia me dissessem, que minha pequena princesa estaria trabalhando como secretária em uma empresa qualquer. Eu mandaria internar o tal mentiroso num hospício. - Branca falava rodeando sua filha, analisando suas roupas, os cabelos, as unhas e nem mesmo os sapatos baixos simples escaparam do seu crivo. - Quando me falaram dessa sua atitude asquerosa, não pude acreditar...

- Não trabalho honesto é asqueroso, dona Branca Valdez.

- Vejo, que ainda mantém, o mesmo discurso rançoso do francesinho... - Sua mãe falava com voz macia, porém seus olhos fervilhavam.

- Tenho uma excelente memória.

Antes que a mulher elegante, de hábitos condenatórios, cuspisse seu veneno na filha, Humberto entrou sorrindo batendo palmas. Como se aplaudisse um espetáculo na ópera de Viena.

- Vejam a minha linda trabalhadora. Uma autêntica Valdez! - Abraçou a filha puxando - a para o sofá. - Como está minha rosa do deserto?

- Papai! Que saudades... Não esta bravo comigo? - Fez seu bico de "criança arrependia da arte," ganhando outro abraço caloroso.

- Querida, eu e sua mãe queremos o melhor para a família. - Disse abraçando - a de novo. - Ficará para o jantar?

- Sim, mas só se a mamãe prometer ser gentil.

- Eu sempre sou gentil. - Para provar aos dois sua tese, foi sentar - se ao lado da filha abraçando - a tão acaloradamente quando o marido. Quem visse a cena diria: "Que mãe amorosa!" Contudo, todos presente naquela sala, sabiam da verdade inaudita. - Vá tomar um banho para o jantar, separei uma roupa linda para você. Está no seu quarto, querida.

- Obrigada, mamãe. - Caroline deu um beijo na face pálida da mãe, antes de sair. Observou o silêncio, até que ela estivesse tão distante, que não pudesse ouvir a discussão a seu respeito. Imaginou a conversa intensa, e sorriu caminhando pelo corredor.

- Uma ingrata! Tanto quanto aquela outra! - Branca tomou de uma vez a dose conhaque sem gelo.

- Fala de sua primogênita?

- Ela não é minha filha! É uma intrusa no nosso mundo perfeito... Eu nunca deveria ter aceitado aquela proposta! - Com as mãos trêmulas, tentou servir mais uma dose de conhaque, mas sem sucesso derramou o líquido no balcão de mogno.

- Chega de álcool. Sabe que você não pode misturar álcool com os remédios... - Umberto pegou o copo devolvendo - o ao bar.

- Você me obrigou a aceita - la aqui, agora só me resta beber à minha derrota.

- Querida, sabe que tudo o que fiz foi para o nosso bem.

- Eu sei... - Branca deu de ombros voltando - se para o grande espelho para avaliar sua silhueta alinhada.

- Sei que está difícil nossa situação, contudo não podemos nos abalar. Teremos um belo jantar, com nossa princesa. E o restante será resolvido, estamos no controle.

- As vezes... Eu gostaria de simplesmente... fazer Elleonor sumir da face da terra! - O olhar gélido dela o fez ainda mais preocupado. Umberto aproximou - se da esposa tomando seu rosto desfigurado pelo ódio, beijando seus lábios tensos trazendo calma aos seus sentidos.

- Vou cuidar disso. No momento certo...



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A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora