Capítulo 33

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Elleonor acordara cedo, por volta das quatro da manhã. Estudou a bíblia por um bom tempo antes de caminhar na esteira por vinte minutos. Assistiu o sol nascer pensando em tomar café na companhia de Douglas, sentiu saudades de sua risada e de como seus olhos a seguiam quando passava indo de uma lado para o outro pela cozinha. Ele dizia ser uma belíssima visão.

Ela suspirou pondo a caneca de café sobre a mesa da cozinha, realmente triste. Saudade era algo novo pra ela, já que nunca se propusera a gostar de alguém. Nunca deixou que qualquer homem se aproximasse com receio das conseqüência, muito embora desejasse ser feliz, tinha medo do percurso. A primeira vez que tal oportunidade lhe apareceu tudo era ilusão dolorosa.

Douglas a conquistou pelo olhar protetor, sua delicadeza e na firmeza de caráter. Mas, Eleonor não confiava, que poderia existir um amor, vindo do homem, que fosse realmente sincero. Será que Douglas poderia lhe mudar está crença?

Sua atenção foi capturada para a televisão. Nela via - se a bizarra imagem de Branca Valdez aos prantos nos braços da filha, que a conduzira até uma viatura da policia militar. A repórter dizia:

- O famoso empresário Humberto Valdez morreu preso em seu carro, que foi inteiramente tomado por chamas. Tudo aconteceu por volta das seis horas da manhã, diante da esposa e filha empresário. A policia acredita em um atentado, já que ele estava envolvido em vários escândalos políticos. Ele vinha se esquivando das intimações do delegado federal, para dar explicações à respeito das propinas à deputados de vários partidos, camufladas como doação aos...

Elleonor pegou a bolsa, o blazer e as chaves do apartamento saindo em disparada, quase esqueceu a televisão ligada.

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Douglas estava sentado a mesa do café completamente indisposto, por causa da má noite de sono analisando arquivos e documentos de uma suposta familia adotiva para a filha de Elly. A qual se mantinha distante, recuando suas investidas. Nunca ficavam a sós, e quando acontecia, eram breves lampejos.

Então, afundou - se em trabalho. Para evitar ter atitudes, que fatalmente afugentariam, qualquer oportunidade de recomeço.

- Como está o café, querido? - Sussu entrou na cozinha com seu misto quente torrado.

- Desculpa, não estou com fome. - Disse, afastando de si a xícara de café puro.

- Pobre bebê... Fez besteira e agora não sabe como arrumar? - A senhora idosa afagou - lhe as bochechas.

- Não sou criança.

- Mas, toma decisões como tal.

- Eu preciso ir. Bom dia.

Ele se levantou seguindo para a pegar sua pasta de trabalho na cadeira ao seu lado, quando o celular tocou.

- Oi Ramirez.

- Já viu as notícia da manhã?

- Acabei de ler o jornal. - Respondeu à caminho da porta.

- Não tolinho... Veja o noticiário ao vivo na TV.

Hospitais eram verdadeiros infernos para Eleonor. Detestava o cheiro de éter e álcool exalados pelos corredores. Remédios e sangue. Vidas e mortes. Tudo estava no mesmo lugar. Saiu do elevador no terceiro andar. Seguindo as placas até a área psiquiátrica onde Branca Valdez fora internada. Ela avistou Caroline sentada numa poltrona confortável. Deteve - se para analisa - lá. Sua irmã vestia jeans simples e camisa estranhamente larga. Os cabelos presos as pressas denunciavam seu desespero, além das mãos que amparavam a cabeça. Eleonor sentiu - se com doze anos de novo, desajeitada e confusa. Porém, antes que ela dissesse algo, Caroline levantou sua cabeça secando o rosto inchado do choro. Seu olhar indicava uma intensa batalha interna, pois pareceu não reconhecer a irmã. No entanto, ela correu para um abraçando - a desolada.

- Elly...

- Eu sinto... muito... - Elleonor estava trêmula com a reação da irmã, que mau conseguiu responder.

Ficaram abraçadas sem dizer mais nada. O choro de Caroline fazia por ambas um bom monólogo dramático. Afinal, para ela Humberto fora um bom pai, dentro daquilo que ela criá ser a verdade, entretanto Eleonor não possuía qualquer lembrança que fosse boa do pai ou, até mesmo da mãe. Então, por que estava ali? Pelo sentimento fraternal para com a irmã. talvez, após toda a euforia do momento, seja rejeitada novamente. Mas, correria o risco, pois o amor não pode ser negado, a quem quer que seja.

- Onde está a Branca? - Perguntou limpando o rosto dela das lágrimas.

- Ela surtou... Não diz uma palavra lógica. Os médicos lhe deram sedativos e a puseram em observação.

As duas figuras tensas que invadiram o corredor foram direto para elas. Ramirez tinha um copo de café nas mãos e um saco de bolinhos. Abaixou - se diante Caroline lhe oferecendo, os quais ela rejeitou muda. Enquanto Douglas manteve - se afastado com seu olhar preocupado sobre Elleonor.

- Ola, Elly. - Estranhamente a voz de Ramirez era suave, cheia de preocupação. - Talvez você consiga convencer sua irmã a comer algo.

- Você tem que ser forte. - Disse incentivando a irmã, que balançou parecendo uma boneca de trapos.

- Estou sem fome...

- E o que vai ser de sua mãe,  se voce estiver fraca de mais.

- Não vou sair daqui, para nada,  sem ela. E, Não quero bolinhos. - Disse dando fungadela.

- Hei, Carol... Eu estou aqui. Não vou sair daqui, mesmo que Branca me expulse. Pode contar comigo. - Elleonor falava abracada a irmã, beijando seus cabelos acalentadora.

- Há anos... você não me chama de Carol. - Sua voz estava embargada, e ao se olharem lágrimas sinceras desciam.

- Somos irmãs... Eu quero o seu bem e de nossa... nossa mãe.  Você passou por algo terrível, não precisa prolongar mais a agonia. - Ela secou o rosto da irmã com um lenço. - Sou a mais velha, e agora estou mandando que vá com o Ramirez comer algo. Eu avisarei se algo acontecer.

- Mas...

- Você confia em mim?

Respondendo que sim com a cabeça, foi recompensada com um beijo da irmã, que lhe sorria determinada. Caroline encontrou a mão gigantesca de Ramirez lhe esperava. Os dois sairam abracados juntos pelo corredor em direção ao elevador.

- Acho que meu amigo esta enamorado por sua irmã. - A voz grave de Douglas tirou Eleonor dos seus pensamentos. - Esta tudo bem, se eu ficar aqui?

- Sim. - Consentiu num sussurro.

- Não está com raiva de mim?

- Eu nunca tive raiva de você... Eu apenas me afastei, por que estava magoada...

Com o canto do olho viu, quando ele se sentou ao seu lado no banco.

- Me parece uma situação estranha esta. Quero dizer... Você aqui cuidando dos interesses dos Valdez. - Ele esfregava as mãos nervoso.

- É quase tão bizarro, quanto um macaco equilibrista. - Elleonor deu - lhe um doce sorriso tímido, o qual ele retribuiu arrebatador. - É bom que esteja aqui. Obrigada.

- Eu te amo, Elly. Não poderia deixa - la assim. Estou aqui por você. 

Em silêncio, Douglas capturou as lágrimas que desciam do rosto dela com a ponta dos dedos. Segurando sua mão, entrelaçou os dedos, em seguida beijou o dorso. Sorriu - lhe ternamente. Tudo ficará bem...

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora