Capítulo 35

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Bônus extra!

Pouco mais de vinte anos atrás...

Maria se sentou a beira da cama, secando as lágrimas do rosto vermelho e inchado, devido ao choro convulsivo.

Seu marido  Roberto a estava abandonando,  após vinte lindos anos de casados e dois filhos bem  criados. Branca e Rony eram bem sucedidos. A cilha mais velha viajava o mundo desde pequena, com sua carreira de modelo manequim, estava  com  casamento marcado para os próximos dois meses,  com Humberto Valdez. Empresário carioca em ascensão, fizera fama e fortuna ao receber uma pequena herança dos avós paternos, logo engrossou no mercado imobiliário com apartamentos planejados a preços populares e de qualidade. Era extremamente apaixonado por Branca, e por dois anos não desistiu até a conquistar. Maria os observava juntos, concluirá que ao menos sua menina, seria feliz ao lado de um verdadeiro campeão. 

Ao contrário do sério e solitário Rony, seu menino sempre fora introvertido. Isolado em seu mundo de veias, pulmões, infecções e coisas que a pobre mãe tinha medo de perguntar. Logo cedo nos primeiros anos de escola cogitou - se a hipótese de que o menino calado fosse autista. Após anos de tratamento psicológico, fonoaudiólogo e psiquiátrico houve uma unanimidade entre os profissionais de que Rony, era apenas um tímido menino que se isolou no mundo da medicina desde os sete anos de idade. Aos dezessete anos concluira o ensino básico com louvor, conseguindo bolsa parcial de estudos em medicina na melhor faculdade do estado. Claro que o rapaz independente, foi trabalhar na cidade grande, morando sozinho e pagando os estudos. Um fabuloso milagre, para todos àqueles que apostaram em sua inércia mental. Três dias da semana, trabalhava como faxineiro, de um famoso hospital do centro do Rio de Janeiro, nos dias de folga tabalhava como frentista no estacionamento do shopping. A noite fazia o curso de medicina. Sua meta era fazer ginecologia obstétrica, lhe encantava a forma como a vida crescia no ventre feminino, sua curiosidades fora aguçada ao ver sua vizinha grávida,  por dias viu a barriga crescer até se esvaziar e ver nos braços da mesma um lindo bebê.  Desde, então, não desistiu de entender esse mistério de Deus.

Maria via os filhos uma vez por ano, nas festas de Natal ou ano novo, noutro dias estavam trabalhando. Sua vida se resumia aos trabalhos na igreja, onde passava boa parte dos seus dias, e as encomendas de roupas que confeccionava em seus pequeno ateliê de costura.

Seu marido Roberto passava todo o tempo no trabalho como porteiro num condomínio de luxo. Foram anos de um casamento feliz, no entanto ambos se afastaram, priorizando seus próprios desejos. Roberto simplesmente, não se enteressava pelas coisas de sua mulher, ao passo que ela se isolava criticando suas escolhas e amizades, ao ponto dele sentir - se marginalizado, ainda que fosse uma boa pessoa, para ela não bastava. A mulher doce e amorosa dera lugar a uma opressora exigente, cheia dos mais absurdos preconceitos. Aparentemente, o mundo era um lugar imundo, onde somente os privilegiados em nome de um poder maior, eram achados dignos de glórias. O resto merecia morrer na própria desgraça!

Tal  forma de pensar, era visto como um valor mesquinho, pelo marido oprimido.  Maria reduziu seu casamento ao pó, negando intimidade e afeto ao companheiro de vida.

Naquele dia Roberto a comunicou de sua decisão:

- Estou me separando de você,  Maria. Achei uma mulher que me ama, e sem me julgamentos... Ela apenas... me ama.

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Meses se passaram a consumindo entre a raiva e o amor!

Maria amava Roberto, e por isso de bom grado o aceitaria de volta, esquecendo o orgulho e os seus pecados dele...

Porém, meses se passaram após a separação. Meses de angustiadas orações, jejuns e rituais religiosos, que apenas a oprimiram sem resultados.

Ao fim de mais um dia passado trancada no quarto depressiva, Maria lera algo que lhe assustou, quase  como um tapa na face.
  

Efésios 2

8. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;
9. não vem das obras, para que ninguém se glorie.
10. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.

Passou meses estudando as cartas de Paulo, e expandiu seus horizontes até uma graça divina além dos conceitos humanos. Viu o amor divino sem as regras impostas por lobos devoradores, e finalmente aprendeu do próprio Deus a perdoar...
A amar além das medidas...
Deixando as religiosidades de fora do sua vida e sendo apenas filha de Deus.

Em três anos se dedicou uma nova vida em Cristo. Rony recebera com prazer as mudanças da mãe, porém Branca via tudo com desgosto. Se seu pai fizera tanto maú a sua mãe, então não era digno do perdão da família. Tanto ódio a corria por dentro. Seu pai deixara sua mãe, para logo depois se casar  com uma mulher mais jovem, que engravidou quase um ano depois. Tudo era surreal e fora de ordem, para ela seus pais morreriam juntos.

Nada poderia convence - la, que o que aconteceu foi por um curso normal, causado pelas escolhas de Maria e Roberto, por tanto sem culpados.

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Elly era uma linda bebê de pele clara e olhos verdes sorridentes. Qualquer um cativo ao primeiro olhar, mas não Branca... Ela via a irmã, como o resultado de uma experiência bizarra. Sendo necessário a eliminação.

Por isso, quando soube do acidente envolvendo a nova família feliz de comercial de margarina, quase explodiu de felicidade,  afinal Deus ouvira seus pedidos mais absurdos. Logo, sua alegria dera logar ao ódio e indignação, por que a menina escapou ilesa, esperando apenas por algum parente que a resgatasse da custódia do Conselho Tutelar. Por ela o orfanato mais próximo seria a opção.

Por fim, Maria usou da única arma que possuía para   conseguir que a filha fizesse o que é certo. Ofereceu uma grande propriedade, que estava em processo de partilha com seu ex - marido, Roberto, agora morto, sua parte pertencia a nenê. Antes que o  câncer alojado em seu sangue a levasse desta vida, passaria sua parte para Branca.  Como tutores da menina teriam direito de articular negócios em seu nome, até que atingisse a maior idade. Momento em que ela receberia de volta sua herança corrigida com juros. 

- Não! Nunca... Eu nunca permitirei que aquela bastarda faça parte de nossa família... - Furiosa Branca gritava aos berros, já havia destruído seu quarto por completo. Em poucos meses de casados Humberto jamais a contrariara, aquela foi de fato a primeira vez, que seus planos obrigaram - na a fazer algo que não queria.

- Querida... você não precisa ter contato com ela. Vamos suprir suas necessidades, dar uma boa educação, em fim cumprir o contrato. Podemos fazer isso...

- Não... - Branca sentou - se na cama com o rosto entre as mãos desolada. - Eu... não vou suportar...

- Querida, ela terá uma babá vinte quatro horas.

Sem mais forças para lutar cedeu a sua vontade, e a partir daquele dia Branca passou a fazer análise psiquiatrica, devido os surtos de raiva, (que se tornaram frequentes) após a chegada de Elleonor ao lar dos Valdez .

Sua mãe morreu um ano após firmarem o contrato, bem a tempo de ver Rosalinda ser contratada como babá da menina.

Rony ainda se terminando sua especialização obstétrica, viu nos olhos de sua mãe Maria a felicidade, por saber que o futuro da criança estava garantido. Ele prometeu que ajudaria a cuidar de Elleonor, e assim o fez, até que sofreu um infarto enquanto dormia aos quarenta anos.

Foram anos difíceis para Elleonor, que recebera tudo o que estava prescrito no contrato, menos o amor. Este seus falsos pais nunca foram capazes de suprir, desta forma Deus lhe providenciou Rosalinda, sua babá estava sempre ao seu lado como uma verdadeira mãe.

A verdade é que seu futuro era incerto, no meio onde crescia somente pela Fé ira sobreviver.

             
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A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora