Capítulo 10

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Acima da dor

Eu nunca fui a filha favorita dos meus pais. E isso não é drama de uma uma filha ciumenta ou coisa do tipo. Branca e Humberto Valdez nunca esconderam sua decepção a meu respeito. Não entendo suas opiniões a meu repeito, mas também agora, não faz muita diferença para mim. Há muito não me importo com o que pensam.

Fui criada por uma babá chamada Rosa. Ela era um doce. Cuidava de mim em tempo integral. Sempre a considerei como minha verdadeira mãe, apesar dela não permitir que a chamasse assim, por respeito a patroa.

As vezes ela me levava para sua casa e eu brincava com seus filhos. Meu bolo de banana favorito era feito pela mãe dela, que me deixava chama - la de vó. Escondida, claro! Rosa era o refrigério da minha alma!

Branca sempre me obrigava a fazer dietas para não ficar muito gorda, mesmo os médicos dizendo que esse era o meu biótipo natural. Quando eu tinha que ir as festas passava meses em dietas e exercícios físicos que culminavam em violência verbal, por não surtirem o efeito desejado. Humberto nunca fez nada, ele não interferia nos negócios de sua esposa. Sempre dedicada a ele!

Foi uma infância difícil, e na adolescência as coisas só pioraram. Comecei a tomar forma feminina quadris largos, seios fartos de uma autêntica brasileira, o que perturbava Branca por algum motivo.

Quando eu completei dezesseis anos, fui informada, que casaria com um homem mais velho e que nem ao menos o conhecia. Meu mundo caiu! Eu tinha uma ideia romântica da vida. Culpa dos livros de banca de jornal, que comprava escondida, toda aquela história de amor eterno, gentileza e conto de fadas me deixaram alienada! Eu não queria casar com um desconhecido e velho!

Eu queria um príncipe, que me amasse e enfrentasse todo o inferno ao meu redor, por mim. Ele me arrancaria da minha clausura, me mostraria o amor e o mundo! Bem boba, né?

Parece que meu pretendente estava viajando, à negócios. E passaria um mês fora, ao voltar nos conheceríamos. Eu fiquei apavorada, mas não tinha coragem o suficiente para confrontar os Valdez. Sofria calada, todo os dias. Até ele aparecer.

Ou talvez já estivesse, lá havia muito tempo, eu é que não percebi antes. Sei lá! Foi numa festa de aniversário, da filha de um deputado amigo do Humberto, que ele se aproximou. Tomás de Alcântara era lindo loiro de olhos azuis, parecia ter pulado fora de um conto de fadas. Ele usava um terno bem alinhado, porém moderno. Eu usava um vestido rosa ridículo, estava parecida com o bolo da aniversariante, então para evitar comparações cruéis sentei num canto ao longe. Ele, notou. Veio falar comigo. Claro, me assustei! Um gato daqueles querendo conversar comigo? Me ofereceu algo para beber ou comer. Neguei! Afinal, o vestido me apertava como um compactado.

Tomás fez elogios. E se foi me deixando sonhando com ele uma semana. Depois disso ele aparecia em todos os lugares onde eu estava, me dava carona para casa ao sair da escola, e mesmo sendo mais velho... Cogitei a hipótese dele ser meu príncipe.

Meu erro foi acreditar nisto. Acreditar em sua amizade. Ele no nunca fez insinuações ou tentou qualquer tipo de avanço absurdo. Não tinha por que desconfiar, entende?

Eu fazia aula de dança clássica. Branca dizia que seria um bom exercício para emagrecer, além de melhorar minha postura, pois me tornaria mais elegante. Eu gostava por ser divertido, me sentia livre e modéstia à parte eu era muito boa bailarina.

Bom voltando ao assunto...

Um dia depois da aula de dança eu fique um pouco mais no salão treinando uns passos. Quando fui para o vestiário já havia se passado quase uma hora. Me lembro bem, por causa da segunda turma de dança que chegava as três da tarde. Então, no vestiário fui tomar banho...

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora