Capítulo 22

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Caroline comprou um colchonete naquela tarde para passar a noite. Seria cômico se sua mãe a visse dormir no chão do quarto vazio. Na verdade, dona Branca Valdez teria uma crise de urticária, apenas por pisar na entrada do prédio.

Não tardou para a empresa de transportes urbanos a chamar para trabalhar, tendo em vista que seu patrão em Paris lhe indicou como secretária. Começou a trabalhar no dia seguinte, e após duas semana de muito empenho conseguiu formar amizades na empresa, provando que além da beleza era competente. Afinal de contas, a faculdade de administração que fez, lhe servia para algo.

Não teve mais nenhum encontro com Ramirez, e tão certo quanto a China é um país oriental, ela fazia um esforço absurdo para não pensar nele. Não sabia ao certo o que lhe chamou a atenção nele, se fora a barba e cabelos desgrenhados ou o descaso que fez dela. Puxa vida! Desde que se tornara adolescente, não se lembrava de um homem si quer a ignorar, de qualquer idade. Caroline sorria de sua própria vaidade, quando o elevador se abriu no sexto andar. Com dificuldade saiu carregando as bolsas de compras para a casa. Seu sorriso desapareceu, quando viu o corpo desacordado do homem mau humorado que não saia de sua mente, no final do corredor.

Preocupada ela abriu seu apartamento, largando as bolsas sobre o sofá, trancando a porta e em seguida foi ver se poderia ajudar.

Abaixando - se analisou Ramires de perto, prendendo a respiração por que o cheiro de álcool era quase insuportável... Sem contar que ele parecia trazer um quilo carne crua vencida nos bolsos.

- Ei... Ramires? - Disse dando pequenos solavancos nele, mas foi inútil. Sacudiu com mais energia, porém, houve apenas um pequeno gemido. - Vai... Logo homem. Mas, que cachaça maldita!

Era impossível acorda - lo de um geito amigável, de pé ao lado do homem desmaiado, Caroline resolveu vasculhar os bolsos dele em busca da chave do apartamento. Encontrando no bolso detrás da calça. Primeiro ela escancarou a porta, deixando o caminho livre até o banheiro, para concluir seu plano. Voltou ficando de pé diante dele.

- Isso vai doer mais em você do que em mim, cherry. - Esfregando as mãos na saia do uniforme de secretária, deu o mais forte que pôde, uma bofetada no rosto inerte dele.

- Mas que mer...? - Ramires se contorceu xingando todos os palavrões que tinha guardado. Olhando ao redor encontrou Caroline com expressão  satisfeita no belo rosto. - O que vo... Você quer?

- Fiquei preocupada, você estava desacordado. - Respondeu abaixada na frente dele, pegando em sua mãos. - Vamos entrar.

- Não preciso de ajuda! - Ramires puxou a mão com força batendo o cotovelo na parede trancando os dentes de dor. - O que você... Você quer?

- Eu só quero ajudar.

- Me deixe em paz!

- Tudo bem. Se você quer ser visto pelos vizinhos e ser o motivo das piadas do prédio. Tenho certeza que a última coisa que terá é paz! - Ela não se incomodou com seu olhar furioso. Em seus dias de modelo lidou com vários amigos raivosos em estado deplorável por causa das substâncias tóxicas mais nocivas. Foi capaz de ajuda - los, então seria capaz de fazer o mesmo de novo.

- Por que você se importa?

- Sei lá. Agora, vem.

Foi tudo o que Caroline disse, antes de pegar em sua mão de novo. Fazendo um esforço enorme ambos conseguiram ficar de pé. Caminharam com dificuldade pelo corredor até o banheiro. Ela o sentou numa cadeira debaixo do chuveiro.

- Precisa de ajuda com as roupas?

- N...não... - Ela ia sair, porém Ramires estava inclinado encostado no azulejo branco do box, então achou que ele cairia sem ajuda.

Sem dizer uma palavra ela começou a despi - lo da camisa abrindo os botões. Largou a sobre a pia, tirou as calças deixando só de cueca boxer. Não pode deixar de notar seu corpo em forma, mesmo maltratado pelo álcool. Havia uma cicatriz ao longo do abdômen, como uma cirurgia.

- Pode tirar uma foto para admirar mais tarde. - Ele a olhava malicioso a espera de uma resposta.

Caroline não se ofendeu com a insinuação dele, mas quis dar uma resposta a altura, sendo assim apenas abriu o chuveiro deixando cair nele água gelada. Gargalhando enquanto ele gritava e xingava.

Fez um café forte e se foi antes dele sair do banho. Assim, não teria que constrange - lo com uma explicação desnecessária. Eram cinco horas da tarde tudo o que desejava era um banho e descansar seus pés cansados. Fez o que fez por... ?

- Ah... Sei lá por que eu fiz! - Brigou com o espelho como se ele realmente a questionasse.

Após o banho e o jantar, deitou - se com um livro em mãos disposta a esquecer o ocorrido. Dormiu sem esperar uma batida na porta ou um encontro furtivo com agradecimentos embutidos.

Ramires com certeza não parecia ser o tipo de homem agradecido.

Quis se convencer de que não precisava de algo vindo dele. Um homem com um passado conturbado não queria um futuro.

Ah! Tanto faz...

Ela mesma não precisava de mais complicações em sua vida!

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora