- Nove e trinta da manhã, dia 27 de abril de 2007, secção de terapia número 48 de Suzana dos Santos. - O jovem rapaz se afastou da câmera dando a visão do cenário, uma sala branca com grandes janelas de vidro, onde estavam sentados um homem numa cadeira e é uma jovem mulher em uma poltrona confortável. Ambos frente à frente.
- Podemos começar, Celso? - Perguntou o homem ao rapaz agora atrás da câmera.
- Sim, doutor Medeiros.
- Olá, você gostaria de conversar hoje? - A mulher permanecia com os olhos fixos num ponto qualquer do piso branco, a brisa suave que entrava na janela soprava seus cabelos castanhos, acariciando seu rosto pálido marcado com cicatrizes. - Você sabe que dia é hoje? - Sem resposta. - Hoje é um dia especial, por que você pode sair do seu quarto e ir passear pelo jardim.
- Flores. - O olhar perdido encontrou a janela aberta.
- Sim. Ar puro. Eu vou deixá - lá ir até o jardim, se você me responder algumas perguntas. Tudo bem? - Ela agora estava perdida admirando o balançar das cortinas ao vento. O doutor lançou um olhar atento às suas mãos, que torciam a barra da camisola branca em um nó infinito. - Pode me dizer seu nome?
- Suzana... - Fez uma pausa fechando os olhos e sorrindo.
- Você sabe onde está?
Silêncio.
- Voce gosta de...
- Por que eu estou aqui? Eu quero ir para casa, por favor. - Ela finalmente olhou o homem a sua frente, quando fez seu pedido relutante.
O homem não titubeou, firmando o olhar analítico sobre ela, permaneceu calado por longos segundos. Ambos desafiando - se em um silêncio tenso.
- Você sabe aonde está, Suzana? - Doutor Medeiros repetiu cada palavra de forma quase didática.
- Sim.
- Onde vc está, Suzana?
- Clínica de tratamento psiquiátrico...
- Sabe por que veio parar aqui?
Silêncio. Rompendo o contato visual ela começou a escrever algo no ar enquanto sorria de olhos fechados.
- Matei meu pai e minha mãe... e... e... eu ... eu... mutilei meu namorado... e... - Suspirando com a lembrança, completou seca olhando - o firme. - E, persegui com uma faca a garota com quem ele me traiu.
- Você se lembra agora? - O médico fez uma anotação em seu bloco de notas.
- Sim.
- Pode me contar como aconteceu?
- Porquê? Você já sabe. - Ela acusou baixando a voz para um tom grave. - Todos sabem.
- Gostaríamos de ouvir com suas palavras.
Contrariada ela começou a balançar o corpo de um lado o outro e a cantarolar, as mãos arranhando o acento da poltrona e os joelhos tremendo.
Doutor Medeiros olhou de soslaio para o assistente operando a câmera, este protamente atendeu, levando um pequeno urso de pelúcia branco com um coração vermelho nas mãos, até a mulher. Cautelosa, porém visivelmente atraída, Suzana deixou seu balançar e apanhou o pequeno mimo.
- Está branco... - Disse num sussurro pálido.
- Sempre esteve, não?
- Não... Não... Eles sujaram... Eu tentei deixar branco... mas... eu nao consegui... - As lembranças a inundaram como uma enxurrada devastadora, abraçando a pelúcia Suzana desabou em um pranto cheio de dor e consciência.
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A Solidão do Perdão {CONCLUÍDO}
RomanceO que você faria, se te forçassem, a abandonar quem você mais ama? Se pela a escolha de ficar ao seu lado, fosse exatamente a causa de sua morte? Elleonor nunca teve a chance de abraça - la, beija - la ou mesmo vê - la crescer, mesmo que a distânci...