Capítulo 21

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Timóteo havia chegado em casa bêbado de novo, se possível fosse ainda mais raivoso. As três crianças escondidas pelos cantos do barraco de taipa, construído entre a lavoura de milho e a mata virgem, faziam silêncio para não serem alvos de mais uma surra.

Por que motivo? Talvez fosse pela falta de chuvas o que causaria uma péssima colheita... Ou as dívidas contraídas pelo vício do álcool nos bares do bairro... Ou seria a perda da consciência moral? Motivos não faltavam.

Apenas o medo mantinha as crianças em silêncio. Cada uma em um canto estratégico, a mãe servindo o jantar também em silêncio sepulcral. Inabalável o bêbado comeu seu jantar, jogou se sobre a cama em profundo sono, roncando e babando.

A menina de grandes olhos verdes, dormiu sentada ao lado da pilha de lenha, cortada mais sedo por seu irmão mais velho. Ninguém a aceitava naquela casa!

Seus pais a adotaram, quando sua mãe a vizinha órfã lhe deu a luz e morreu logo após o parto. Diziam que por pena o fizeram, mas que de bom grado a devolveriam. A bem da verdade, seu irmão Tomé, gostava dela... Sim era o único. O único que a escondia da ira dos adultos, o único que lhe ensinava o certo por algum carinho. Ambos eram unidos.

Queriam estudar, para nunca mais voltar a morar com os pais!

Os cabelos desgrenhados amarrados numa trança, o corpo coberto da fuligem do fogão à lenha. E no rostinho a paz de um sonho infantil. Tomé a tomou nos braços, pondo - a na cama simples. Cobrindo seu corpo com um lençol limpo.

Dormiu ao seu lado. O rapaz de quatorze anos, nutria um amor especial pela irmã. Um dia, ambos sairiam daquele lugar horrível, para uma vida de paz! Um dia...

 Um dia, ambos sairiam daquele lugar horrível, para uma vida de paz! Um dia

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Num bairro próximo ao centro da cidade de São Paulo...

Descendo do ônibus em frente ao prédio, cujo endereço trazia na mão. Caroline Valdez arrastou a mala com a rodinha quebrada até a portaria, onde encontrou na guarita um velho amarrotado cutucando a meleca do nariz. Ao vê - la sorriu malicioso.

- Yeh! Hoje é o meu dia de sorte! - Na boca um dente quebrado apareceu com seu sorriso amarelo. - Posso ajudar, gatinha?

- Eu não gosto deste tipo de brincadeira! Meu nome é Caroline, eu sou a nova proprietária do 512 no sexto andar.

Os olhos do porteiro saltaram das órbitas avaliando a mulher a sua frente que parecia ter acabado de chegar do Fashion Weck. Ela era elegante de mais para morar no apartamento de classe média de noventa metros quadrados, em reforma no sexto andar. Entendendo seu pensamento, e estreitou o olhar afrontando o escrutínio do velho babão.

- Algum problema?

- Não, erg... Desculpe. Vou ajudar com essa mala. - Fez um movimento para se levantar, contudo ela o interrompeu.

A Solidão do Perdão   {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora