Problemas Inesperados - Nathalia - Parte I

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         O festival da colheita estava chegando e essa era a pior época do ano para mim, pois sempre existia a possibilidade do meu pai aparecer na corte, rezava todo ano para que isso não acontecesse, em parte meu desejo foi concedido, mesmo assim, meu tio havia escrito uma carta dizendo que ele e meu primo viriam para corte, o que soava como um mau sinal. Afinal aquele garoto feio marcado de espinhas já tinha vindo dois anos seguidos aqui e essa foi a primeira vez que recebi uma carta informando sobre isso. Meu primo se chamava Gilberto, ele tinha vinte anos, era desprovido de beleza, não propriamente a física, já que era loiro de olhos verdes, rosto retangular, com uma barba cerrada, podia encher os olhos de uma garota besta igual a Suelen, no entanto até um potro xucro era mais educado que ele. Suas ações sempre foram idiotas como o seu caráter, ainda quando criança a sua presença me trazia repulsas, não sei como minha adorada tia podia ter concebido aquele jumento. No primeiro ano que veio aqui conseguiu um atrito com o Príncipe Henrique, a criatura não conhece nem o seu lugar, o resultado foi um puxão de orelhas por parte do Duque Nelson, o pai da Priscila.

Só espero que não andem tramando um casamento entre eu e o meu primo, isso seria um problema, se meu pai tiver um pouco de cérebro deverá negar essa união pelo meu bem e do pequeno Henry meu meio irmão. O fato é simples, Gilberto ocupa o terceiro lugar na linha de sucessão do feudo, Henry logicamente o primeiro e meu tio por segundo, o único problema é que o casamento do meu pai com a minha madrasta, a bruxa, tem algumas complicações legais, não é um exagero nenhum chama-la de bruxa, pois, no feudo muitos falam que ela faz feitiços e mandigas. Na verdade, esta mulher que sucedeu minha mãe, sempre mexeu com ervas e coisas do tipo, porém nunca a vi fazendo nada demais além de estranhas poções e simpatias. Mesmo assim se algum dia ela for acusada de bruxaria, adeus Henry e adeus herança, filhos de bruxas se não forem condenados a morte no mínimo são considerados indignos e perdem o direito à herança. Não me espantaria se Gilberto a acusasse de bruxaria para se beneficiar e comigo ao seu lado a sua legitimação estaria perfeita.

Meus planos de casamento tinham ido por água abaixo, havia escolhido para ser meu futuro esposo o Lorde Rafael, ele era perfeito, educado, gentil, e ainda por cima dono de si, pelo menos era o que eu pensava. Como órfão poderia escolher a sua esposa como quisesse e o maior detalhe podia até abrir mão do dote, um dos meus problemas, já que meu pai até hoje não me estabeleceu dote nenhum. Esse mundo realmente é injusto! Além de ser obrigada a me casar terei que trazer junto uma pilha de ouro como bônus. Outro problema que possuo é que sofro do mesmo mal que minha mãe, durante a menstruação eu perco muito sangue, tenho uma espécie de hemorragia, além disso ela costuma durar mais dias do que nas outras mulheres, o que debilita ainda mais minha saúde, caso eu case com alguém que busque um herdeiro desesperado terei o mesmo fim que minha mãe: uma morte prematura. Com muita sorte chegarei aos vinte e cinco. Por outro lado, caso tudo ocorresse como o planejado deveria ter mais sorte. Rafael sempre soube da minha saúde frágil, quando tinha doze anos tive uma menstruação que durou por doze dias, no décimo dia acabei desmaiando e por sorte Rafael acabou me encontrando, preocupado trouxe-me para o meu quarto e chamou o Monge, por eu ser uma lady ele requisitou que fosse atendida por alguém do sexo feminino. Pobre septa que apesar de mulher nunca tinha visto nada igual, achou até que eu havia sido estuprada, o caso foi parar no ouvido do rei e Rafael acabou tendo que dar explicações, afinal ele tinha me encontrado caída durante a noite. Podiam ter me casado logo com ele e teriam resolvidos todos os meus problemas. Posteriormente tudo foi esclarecido quando minha tia veio para corte e ficou alguns meses cuidando de mim. Foi ela que explicou que eu sofria do mesmo mal da minha mãe, sendo necessários cuidados especiais. Depois dessa confusão o Rafael acabou se aproximando mais de mim e se tornou um bom amigo, agora a Luiza havia roubado ele de mim, ela sempre teve tudo o que eu não tive, uma mãe, um pai carinhoso, dinheiro, poder e agora meu futuro noivo! Não havia como concorrer com ela, me superava em tudo, foi agraciada pelo seu nascimento, uma beleza estonteante e uma personalidade provocativa. Ainda combinado ao acesso a uma das famílias mais poderosas do continente! Tudo o que um homem poderia desejar nesse mundo, já eu o que tinha? Um título sem validade, rejeitada pelo próprio pai, sem onde cair morta, vivendo às custas da bondade do rei que me provia tudo o que necessitava! Sim não podia ser ingrata, tinha que aceitar o meu destino sem murmurar.

Andava pensativa pelo corredor quando fui abordada por mais um dos meus problemas que respondia pelo nome de Príncipe Henrique, o príncipe favorito da corte, bonito, charmoso, carismático, pobres eram as coitadas que caiam em sua lábia, usava-as como se fossem objetos descartáveis e ainda recebia aplausos por isso. Garotas ingênuas, jovens e até mesmo mulheres experientes caiam nos seus doces encantos e cavavam a sua própria sepultura.

- Lady Nathalia, bom dia! – flertava o príncipe.

- Bom dia príncipe. – respondi sem muito entusiasmo.

- Posso te acompanhar um pouco. – poderia responder que não? Seria minha vontade e ao contrário disse:

- Como poderia negar-me?

- A senhorita é sempre tão doce com as palavras. – sempre a me elogiar, o que diria se pudesse ler meus pensamentos?

Gracejos e flertes baratos eram as suas armas, fiz um ar de surpresa com o seu comentário.

- Fico até sem palavras. – pura mentira.

Ele sorriu como se tivesse ganhado pontos ao seu favor.

- Não precisa se acanhar, na verdade eu que fico sem palavras diante de sua beleza. – elogios eloquentes partiam do príncipe.

- Obrigada, mas não sei como responder. – fazia-me de desentendida.

- Poderia responder apenas aceitando ser minha companhia no baile em homenagem a minha irmã.

- Desculpe-me, mas não sou digna de receber esta honra, o príncipe deveria destiná-la a quem tem direito. – precisa ser dura com ele.

Agora seu sorriso caiu, esse era o seu ponto fraco, um casamento a qual estava obrigado a cumprir, o qual não escondia de ninguém o descontentamento, pobre Tícia que tinha sido destinada a viver com alguém que amava apenas a si próprio. Como alguém pode amar outra pessoa se está presa ao seu egoísmo? Um narcisista só ama a si mesmo! Ele puxou-me pelo braço, pessoas egoístas não gostam de ouvir um simples "não". A tempos já tinha notado algo podre dentro do príncipe, que somente era visto mediante olhos atentos.

- Por que você sempre foge de mim? Olha-me com desejo, mesmo assim repugna-me? O que te fiz? Tenho muito a te oferecer! Não vês que faço qualquer coisa por ti? – disse ainda pressionando com mais força o meu braço.

- A única coisa que podes me oferecer é minha ruína, por isso que fujo, pois sabes bem o que aconteceria comigo se caísse em seus braços. - mostrei para ele que estava me machucando e rapidamente tirou suas mãos de mim.

As palavras que proferi eram afiadas, mesmo assim devia adocicá-las para não machucar o seu orgulho.

- Isso quer dizer que gosta de mim? – esboçou um sorriso o tolo príncipe.

Não sei em que mundo poderia significar isso, encostei o meu dedo em seu lábio para que se calasse.

- Por favor pare com essas loucuras, isso só me trará desgraça, com licença. – virei as costa e continuei meu trajeto.

Deixei ele para trás rezando para que entendesse minhas palavras, não precisava mais disfarçar que gostava dele, fingi um interesse para que a princesa não desconfiasse das minhas reais intenções, não esperava que ele fosse reagir desta forma. Como disse ele é o "preferidinho" da corte, logo um bando de tontas ficam babando por ele, "nosso como ele é lindo", "aí o príncipe", tenho ânsia quanto escuto tais comentários. Mesmo que suas palavras fossem verdadeiras a única coisa que ganharia seria mesmo minha ruina, pura verdade, nada pior para uma mulher nesse mundo caótico do que perder sua virgindade antes do casamento. Além disso não via motivos para me envolver como uma pessoa desse tipo, mesmo que ele não fosse prometido ainda assim não o quereria, como disse algo podre ali havia.

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