O Despertar do Samurai - Lorde Ryuu - Parte I

198 73 2
                                    

- O que isso significa? – perguntei sem entender direito o que aquele gesto queria dizer.

- É um deboche, uma zombaria, como se ela estivesse o cortejando como se você fosse uma garota. – falou minha irmã mantendo sua voz calma, podia sentir pela sua expressão que não havia gostado daquela atitude.

A raiva tomou conta do meu espírito, podia sentir o sangue ferver, como acontecia quando era criança, naquela época não sabia controlar os meus instintos e deixava que a fúria guiasse minha espada. Em Nagamoto por ser diferente as crianças gostavam de zombar de mim, e piorou depois que o homem que diziam ser meu pai me colocou para fora de sua casa, ninguém sabia o motivo, mas isso não importava, acreditavam que devia existir um motivo justo para isso. Eu desafiava qualquer um, e muito cedo minha espada sentiu o gosto do sangue em sua lâmina, minhas habilidades faziam com que eu lutasse de igual para igual com garotos bem mais velhos, pouco me importava com as suas vidas ou com a minha própria. Foi até que com onze anos lutei contra um samurai de verdade, a luta durou três lances o seu último golpe acertou minhas costas e ele me deixou para morrer e de certa forma eu morri. Um monge samurai me encontrou e me levou para o Templo do Dragão do Vento, lá eles me curaram, não somente meu corpo, mas também o meu espírito. E finalmente me tornei primeiro um monge, depois um samurai, treinei meu corpo, minha mente e meu espírito, e pela primeira vez senti o vento soprar dentro de mim, com dezoito anos abandonei o templo: "Vá! O dragão precisa voar!", disse-me o meu mestre. Minha mãe me procurou e pediu para que eu deixasse Nagamoto, ela tentou evitar que eu lutasse contra o meu irmão, no final, não pude evitar era nosso destino que nossas espadas se cruzassem. Essas mãos tiraram a vida do seu próprio irmão, não só a dele, também de Daigo, Edo, Yamamoto, Eiji e outros que nem sei o nome, mas que infelizmente cruzaram meu caminho, contudo desde que me tornei um monge samurai nunca mais manchei minha honra.

- Vamos Lady Priscila, não há mais nada a ser visto aqui. – simplesmente me retirei sem mais nada dizer.

Priscila me acompanhava em silêncio e permaneci da mesma forma, já que estávamos guardando segredos um do outro. Na noite anterior quando subi até o seu quarto não a encontrei lá, no seu lugar estava Nathalia parada em sua janela, perguntei onde estava Priscila e ela não soube responder, ela chorava, então ela correu e me abraçou, contou-me que estava noiva do seu primo e que não desejava esse casamento, depois senti o calor do seu beijo e não consegui segura-la quando saiu do quarto chorando. Seu beijo havia tocado meu coração e agora minha mente estava perturbada. Despedi-me de minha irmã e fui até o meu quarto, peguei a minha bokken e comecei a minha luta mental contra mim mesmo. Uma luta que costumava demorar horas, acabou em segundos, fui derrotado em cinco movimentos, tentei novamente e o resultado foi similar. Não entendia o motivo, apesar dos meus movimentos estarem precisos minha alma, corpo e espada desalinhavam fazendo com que o vento perdesse a sua harmonia. Meditei, meditei e meditei, precisava encontrar a resposta, e foi quando entendi que já não era mais o mesmo homem. O vento que soprava sobre mim havia mudado de direção, não podia ser mais um monge, somente um samurai. Desafiei-me novamente e depois de uma árdua batalha consegui a vitória, devia me aceitar como eu era. Havia por muito tempo se isolado em meu quarto, por tal motivo meu pai veio até mim.

- Ryuu você está bem? – como sempre com uma expressão preocupada.

- Sim estou. – respondi tocando o seu ombro com minha mão.

- Sua irmã estava preocupada contigo! – falou olhando em meus olhos demonstrando um apreço que jamais sentirá. - Eu confesso que também estava, tenho medo de perdê-lo outra vez.

- Peço desculpas por tê-lo causado problemas. – sentia-me culpado, podia ter ignorado o pedido de minha mãe e não teria trazido um vendaval na vida de meu pai, minha irmã e agora a de Nathalia.

- Você não me causou nenhum problema, foi o maior presente que podia ter recebido nessa vida. – agora os seus olhos estava lagrimejando, limpou os rapidamente como quisesse esconder a sua vergonha. – Vista alguma coisa descente e vamos até o banquete que está tendo em homenagem ao Príncipe Tales.

- Quem é esse?

- É o herdeiro de Alexandria, filho de Alexandre VII! – ele deve ter notado que aquela fala não resolvera nada por isso continuou a me esclarecer sobre o tal príncipe. – Cunhado de nossa majestade o Rei Eduardo, chegou ainda hoje.

- Descerei logo. – meu pai achava importante me apresentar a todas aquelas pessoas, já eu não fazia muita questão.

- Certo, certo, mas não demore! – ele deu um sorriso e saiu.

Tomei um banho e vesti as roupas que tinha ganhado do meu pai, ele e minha irmã sempre estavam a me presentear com roupas, olhei para a hakama infelizmente hoje não seria o dia de vesti-la. O salão estava cheio, na mesa principal o rei, sua família e os seus convidados, o mais baixo entroncado não o tinha visto ainda, devia ser o Príncipe Tales, as festas aqui eram sempre preenchidas com muita bebida e comida, a música apenas servia para abafar as conversas. Meu pai estava conversando com o Duque dos Portos, os dois a dias tratavam de uma grande encomenda de ferro. 

O Senhor do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora