A Cidade Santa - Duque Gregório - Parte III

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- Bem, passemos para o segundo assunto. – novamente fez uma pausa para tomar mais um gole de sua cerveja, que trouxe um pouco de espumas sobre os lábios que foram limpas pela sua própria túnica. – O casamento da Princesa Luiza.

Cocei a cabeça, esse assunto seria delicado, a filha mimada do rei, uma garota chata pela qual não nutria nenhuma simpatia, diria que dos quatros filhos do rei somente o herdeiro prestava, talvez o caçula se não o mimassem demais.

- Pelo o que sei o rei não pretende casa-la, por enquanto. – ele ficou a me olhar como se eu estivesse por fora do assunto.

- A moça já passou da hora de casar, mulheres são como frutas devem ser colhidas no momento certo, se não caem do pé e apodrecem sobe o chão. – disse-me o Pontífice com um riso sobre os lábios, pensei: será que esse idiota não sabes que também possuo filhas? Ele parece ter notado meu desconforto e fez um pequeno remendo. – Brincadeira amigo, o que digo é que o rei tem sido muito negligente nesta situação.

- É assunto que preocupa a todos, posso garantir. – sim, a situação da princesa estava um verdadeiro pé no saco, a menos de um mês fui procurado por um príncipe de um reino pequeno pedindo para que intercedesse por ele junto ao rei e esse não foi o único a bater em minha porta. A questão é quem era o candidato do Alto Pontífice, quem será que teria o procurado? – De certo que Vossa Santidade tem algum nome a altura da princesa.

O Pontífice riu da minha fala, parou e pensou um pouco como se estivesse a pensar num bom candidato, sabia que tudo aquilo era cena e estava apenas interferindo a pedido de alguém.

- Quem sabe o Príncipe Cassius? – disse depois de matutar um pouco.

- O príncipe herdeiro de Lorena. – completei.

- Sim, não vejo nome melhor, um homem íntegro, responsável, de uma boa família e fiel aos deuses. – com certeza ele queria dizer fiel a Igreja.

- Conhecendo o Rei Eduardo – foi a minha vez de fazer uma pausa para bebericar a bebida – duvido que aceite.

- Por que não? – perguntou.

- Quer que eu seja claro?

- Sim Alteza, estamos entre amigos. – seriamos mesmo?

- Porque isso criaria uma pretensão do trono de Falcon por Lorena. – respondi sem me alongar.

- Que absurdo é este! – exclamou o Pontífice.

- Não é absurdo. – levantei-me, estava com as pernas doendo de tanto ficar sentado, por horas sobe o lombo de um cavalo e agora naquele sofá – Além do mais, isso não é do meu interesse que aconteça.

Novamente o Pontífice riu como se eu estivesse sendo infantil em minha fala.

- Como não pode lhe interessar uma união que garantira a manutenção da paz?

- A paz me interessa, já a união não, a menos que tenhamos garantias que a referida união não traga nenhum direito sucessório.

- Pareço que estou falando com o rei, devo estar enganado, não? – sua voz ficou um pouco rude, como estivesse a me ameaçar.

- Se desejas falar sobre a filha dele, deveria falar com ele e não comigo. – ele ficou me analisando.

- Os direitos sucessórios são intransigíveis, não há o que ser feito quanto a isso. Enfim, sejamos claros, temes pela sua posição? Acredito que Lorena saberá como o agradecer, ainda posso garantir que a sua desconfiança é infundada, pois Lorena apenas deseja a paz junto a Falcon.

- Agradecer-me como?

- Lorena lhe concederá um feudo dentro de seu reino, assim será tanto nobre em Falcon como em Lorena, como pode ver Lorena deseja sua amizade. – em suma Lorena deseja me comprar.

- Interessante, mas como faremos tal proposta? – será que queriam que eu levasse tal ideia ao rei?

- O embaixador de Lorena ficou responsável de fazer a preposição, além disso o próprio Príncipe Cassius virá pessoalmente a Falcon para fazer o pedido. O que achas? – perguntou-me o Pontífice.

- Plausível, a presença do príncipe balançara o Rei Eduardo e se este agradar a princesa com certeza não haverá oposições.

- Não tem como ele não agrada-la. – ergueu o cálice o Pontífice como se estivéssemos selado um acordo, ergui o meu sinalizando que concordava com os termos. – Pois bem cabe ao duque trazer a simpatia do príncipe de Lorena aos outros duques e em especial ao rei.

- Se o príncipe és tudo o que o amigo diz será fácil.

- Por fim o meu último pedido. – não era possível que tinha mais ainda.

- E qual seria?

- O Cardeal Salvatore peço que integre ele a sua comitiva, o deixarei aos seus serviços, com certeza lhe será de grande ajuda.

Fiquei pensando um pouco sobre o pedido, como se tivesse alternativa além de aceita-lo, um espião era isso que queria o Alto Pontífice.

- Qual o propósito dele?

- Não se preocupe não tem nada a ver com os outros pedidos, digamos que ele está numa missão particular e precisa de acesso integral ao Castelo Ariel.

- Tudo bem. – concordei.

- Ótimo! Fico feliz que tudo tenha dado certo, a noite teremos um banquete para recebe-lo, por hora é melhor que descanse. – disse-me conduzindo para fora de sua sala, como eu fosse um cachorro vadio.

A noite tivemos a recepção, não deixei que a pequena Melissa participasse apesar de sua insistência, um grande banquete foi preparado, várias carnes, vinhos e principalmente a cerveja dourada; homens bêbados, sacerdotisas com pouca roupa, não havia nada de santo na Cidade Santa, pelo menos naquele recinto, uma música alegre ao fundo embalava e escondia as suas risadas. Presentes aquela comemoração somente o mais alto clero representa pelos seus Pontífices, para cada deus havia um Pontífice e o do maior deus era chamado de Alto Pontífice. Os membros da Igreja eram formados por filhos de nobres, geralmente aqueles que nada herdariam, os pais mandavam filhos e filhas para tentar a vida na igreja. A minha frente uma sacerdotisa dançava de forma sensual, deveria ser uma das filhas da deusa do amor, que na prática não passava de uma prostituta. O que será que os deuses estavam a pensar desses seus representantes? A jovem aproximou-se de mim como estivesse em transe, apenas afastei meus olhos de seu corpo que transparecia por trás de suas finas roupas. Fitei o símbolo da minha casa bordado sobre o meu gibão, o Rio Serpente, o mesmo que corria pelas minhas terras trazendo vida aos campos e proporcionando colheitas fartas, ao final descia para ceder suas águas para Rio Pérola e deixava de existir para a grandeza deste. Levantei meus olhos e contemplava novamente a festa dos eleitos dos deuses, risadas, vozes embriagadas e mesmo nesse pedaço de terra que dizem pertencer aos deuses o olho do falcão permanecia atento.

O Senhor do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora