O Senhor do Vento

Um Amor Impossível - Priscila - Parte II

- E meu irmão o que sente? – ele virou o rosto para o lado que os dois estavam como se pudesse vê-los.

- Teu irmão voltou a sentir o sabor do amor, porém ele carrega grandes cicatrizes oriundas do seu passado, sua vida até agora foi repleta de dor. Ele precisa de muito amor, mais dor poderá leva-lo para as trevas e muita gente sofrerá se isso acontecer.

- Eu não entendi essa história direito ainda. – não conseguia entender porque ele foi escolhido e no que isso importava.

- As forças da natureza sempre escolheram seres nesse mundo para representarem a sua força, eles são os senhores deste mundo, talvez até capazes de rivalizar com os próprios deuses e se opor as suas vontades. Não acredite que os deuses são melhores que nós porque eles não são.

- Isso parece ser surreal! Se foram os deuses que criaram tudo não teriam criado a natureza também? – esse era o ponto que não saia da minha cabeça.

- Não! Quem criou tudo foi o Supremo Arquiteto, o Deus dos deuses, o verdadeiro Deus, aqueles que proclamamos como deuses apenas usurparam a sua obra e se intitularam deuses. Não passando de meros auxiliares que nem vontade e liberdade detinham durante a criação.

- Isso está ficando cada vez mais complexo a cada explicação que você me dá só piora ainda mais o meu entendimento. Como alguém como meu irmão pode ser tão forte como um deus?

- A força dos senhores vem da natureza, a mana costuma se manifestar numa intensidade diferente em cada indivíduo. Os senhores conseguem sintonizar com a natureza e assim com a mana dando a eles poderes numa intensidade imaginável. Na verdade, a natureza atua em todos os seres originários deste mundo, em mim, você, nas arvores, nessas pedras e tudo o que existe. Contudo, aqueles que são benzidos pela natureza são capaz de romper o equilíbrio. Turion

- Certo, mas por que você o chama de o Senhor de Vento? O mana não está presente em todos os elementos? – sim, Turion o denominava como "O Senhor do Vento".

- Esqueça do termo "senhor" ele é apenas um nome, como um lobo recebe o nome de lobo, uma pedra de pedra e uma ovelha de ovelha, são apenas sons. Agora apenas sinta esse pequeno vento que está cruzando por nossos rostos, consegue escuta-lo bater suavemente nas folhas das árvores, veja ele não nos incomoda até nos faz relaxar. Agora imagine se a força desse vento começar a ficar cada vez mais forte. –o vento começou a arrancar as folhas das árvores, estralar seus galhos e a fazer um zunido em nossos ouvidos.

- Pare de fazer isso! – supliquei.

- Isso é tudo que posso fazer, um Senhor do Vento seria capaz de arrancar essas árvores do chão com um simples estalo de dedos. – disse-me dando um estralo com os dedos.

- E por que não fogo? Em vez de vento? – perguntei.

- Os senhores representam as forças elementais da natureza: fogo, água, raio, vento e terra. Um senhor sintoniza com aquele elemento a qual seu espirito mais se aproxima, também nunca mais de um. É como a natureza colocasse limites.

- Tá, mas agora me diga por que se o meu irmão tender para o mal muitos sofrerão?

Ele juntou as duas palmas de suas mãos.

- A natureza sempre deseja manter o equilíbrio entre todas as coisas deste planeta, no entanto, os seres vivos deste mundo muitas vezes a rompem e nesse momento a natureza age para tentar restabelecer o equilíbrio. E quando digo seres vivos me refiro também a vontade dos deuses. Eles estão sempre a jogar seus joguinhos, muitos possuem os mesmos desejos dos homens, como poder, dominação, veneração e por ai adiante.

- Quando fala de equilíbrio refere-se entre o bem e do mal?

- Não, a natureza não possui interesse em manter tal equilíbrio, entre o bem e do mal, até mesmo porque o Grande Arquiteto deseja que o bem prevaleça, no entanto, a função da natureza é manter o mundo funcionando. É deste equilíbrio que estou falando! O equilíbrio da vida! Tudo está interligado e se o equilíbrio for rompido toda a obra do criador pode ser perdida! E cabe a natureza não deixar que isso ocorra nem que seja necessário passar pelas vontades dos deuses.

- Tudo isso é muito confuso! Então o meu irmão é inimigo dos deuses?

- Seu irmão pode ser amigo de uns e inimigos de outros, uma vez que, muitos deuses desejam manter o equilíbrio do mundo, pois, submetem as suas vontades ao do Grande Arquiteto. Já outros desejam apenas estender suas vontades e governar este mundo como bem o entender. Contudo, seu irmão continua sendo um humano e como qualquer outro pode ser corrompido. Caso um senhor seja corrompido um grande desiquilíbrio abalará nosso mundo, como a barragem que deve reter a água e subitamente se rompe.

Encostei minha cabeça em seu peito e fiquei a pensar. O Ryuu não era nenhum demônio, mesmo assim senti muito medo hoje, caso ele se descontrolasse e matasse o príncipe nossa família estaria perdida. De nada adiantava pensar nisso, afinal como Turion disse ele parecia mais uma força da natureza e ninguém pode controlar a natureza. Em vez disso fiquei a pensar na lembrança de quando vi meu amado de novo, depois veio a minha mente quando vi seu rosto pela primeira vez e senti que já o conheceste. Quando fiquei mais velha lutei tanto contra esse amor, por último cheguei a acreditar que tinha o vencido, mas só estava me enganando. Pelos deuses novamente estava pensando nisso!

- Como posso viver com esse amor? – sentia como se estivesse se rachando por dentro.

Uma lágrima começou a escorrer do meu olho, nunca que meu pai permitiria isso, mesmo agora eu não sendo mais a sua única filha! O que ele faria se me encontrassem aqui? Ele enxugou minha lágrima e beijou-me, foi um longo beijo e meu coração batia cada vez mais forte. Sentamos numa pedra que nos sempre servia de banco improvisado. Ele cobriu-me com os seus braços.

- Preciso te avisar sobre algo que acontecerá.

Senti um medo repentino, a sua expressão tinha mudado, o que seria agora? Mil coisas passavam na minha cabeça.

- O que acontecerá?

Ele respirou fundo.

- Nossas vidas mudaram drasticamente nos próximos meses.

- Como assim? – queria saber do que estava falando.

- Sinto que uma tempestade está se aproximando, trazendo consigo o cheiro de morte e destruição. – ele fechou os olhos e elevou um pouco sua cabeça.

- Isso está ligado com o meu irmão?

- Com certeza, seu irmão está aqui porque é aqui que ele deve estar.

- Ele fará alguma coisa ruim?

- Não sei, é muito difícil prever o seu destino. Muita mana converge sobre ele e forças que rumam em sentidos contrários sempre estão a disputá-lo. Meu povo começou a partir para o outro lado do Rio Manus, até mesmo aqueles que se encontram adormecidos estão sendo levados, pequenas caravanas partem dia atrás de dia para a grande floresta.

- E você irá com eles? – por mais que lutasse contra aquele amor perde-lo seria um duro golpe.