Um Amor Impossível - Priscila - Parte III

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- Não, meu lugar é junto a ti! Só irei se fostes junto comigo. – por um momento respirei aliviada com sua resposta.

- Sabes que não posso e por outro lado meu povo nunca nos aceitará. – mais uma vez estava sendo realista.

- Sim eu sei.

- O que faremos? – perguntei.

- Venha junto comigo! – seu olhar era pura ternura.

- Já disse que não posso! Abandonar meu pai e agora meu irmão. Você mesmo sabe que preciso cuidar dele.

- Gostaria de conhecer minha aldeia antes que ela termine? – rapidamente mudou de assunto como o vento muda de lado.

- Sim gostaria muito! Quando?

- Um dia que ninguém lhe procuraria. Seria ideal.

- Que tal uma noite? – sugeri.

- O que pretendes?

- No baile em homenagem à princesa direi que estou indisposta, as comemorações começam antes do anoitecer, ninguém me procurará. – seria o momento perfeito, todos estariam distraídos com a festa.

- Tem certeza? – ele fitou meus olhos.

- Sim, nesses dias desde os empregados mais humildes até o rei estão preocupados com a festa e os convidados.

- Seu irmão.... – ele levantou o seu olhar.

- Ele e meu pai não darão pela minha falta! – respondi de forma inocente.

- Não é isso! Ele percebeu a minha presença e está vindo para cá.

- Como isso é possível?

- Já te disse ele é um Senhor do Vento e tudo o que o vento pode tocar ele consegue sentir! Ainda mais a essa distância! Tenho que ir não tenho tempo.

Ganhei um último beijo rápido e em seguida ele correu até a mata e simplesmente desapareceu, meu coração começou a sentir a sua falta. Como isso era possível? Até pouco tempo atrás não sentia, ou será que estavas me enganando tentando o mantê-lo afastados dos meus pensamentos.

- O que fazes aqui irmã? – a sua voz me cortou como uma espada.

- Não é que ela está aqui mesmo! Incrível! Seu irmão implicou que você estaria aqui! Achou que você estivesse com alguém e que pudesse correr perigo, queria um irmão desses para mim. – Nathalia fazia uma pequena brincadeira que me seria útil.

- Tem certeza que o quereria como irmão?

Nathalia corou na hora, havia sido surpreendida pelo comentário atrevido, já Ryuu parecia ter ignorado completamente e seus olhos acompanhavam o caminho que Turion havia seguido como pudesse ver o seu rastro. Qualquer mentira que eu inventasse seria sacada na hora pelos dois, então nada como a verdade.

- Vocês me pegaram, tinha marcado um encontro aqui!

A Nathalia colocou a mão na boca, saberia que teria que lhe dar uma explicação mais detalhadas depois, já Ryuu apesar de conhecê-lo a pouco tempo sabia que aquela explicação já lhe serviria ou talvez não.

- Por que tem que se encontrar as escondidas? – fui surpreendida, não imaginava que ele não fosse se dar por satisfeito.

- Ah, porque eu tinha recebido um bilhete com uma declaração de amor anônima, resolvi ver quem era, em vez de achar o responsável só recebi mais um bilhete através de um mensageiro qualquer.

Uma meia verdade é uma mentira, porém não esperava pela insistência de Ryuu. Pelo jeito eu tinha um irmão ciumento, dei uma risadinha sem jeito e os dois se deram por satisfeitos por ora.

- E vocês dois o que ficaram fazendo nesse tempo? – perguntei para tirar o foco de mim.

- Nada demais, ficamos conversando só, acho melhor eu ir né, vocês devem estar querendo conversar. – agora era a Nathalia que me surpreendia em querer pular fora do barco e deixar-me naufragar.

Que tipo de amiga é essa que larga a outra aos leões, nesse caso ao Senhor do Vento como diria Turion. Precisava distraí-los e tive uma ideia.

- Nada disso! Temos que experimentar nossos vestidos, além disso precisamos escolher a roupa do meu irmão!

Nathalia ficou um pouco sem graça, novamente seu pai não devia ter lhe mandado dinheiro, porém a Suelen já havia se adiantado a isso, já que dinheiro não era um problema para ela.

- Eu não encomendei vestido nenhum. – falou Nathalia envergonhada.

- Sim, porque foi nós que encomendamos para você! Vamos logo antes que fique tarde. – peguei em suas mãos e comecei a arrasta-la.

Do castelo até a cidade demorava meia hora de carruagem, meu pai tinha deixado uma das carruagens a nosso dispor e sempre que saíamos conosco ia no mínimo quatro cavaleiros, tendo em vista que a Cidade do Príncipe não era tão segura como devia ser. Furtos, roubos e até mesmo assassinatos eram comuns a luz do dia, quando entramos na cidade Ryuu ficou a observando atenciosamente, algumas vias da cidade haviam sido pavimentas para evitar o lodo que se formava mesmo nos dias ensolarados. As pessoas costumavam jogar muita água nas ruas, assim como coisas piores. O Príncipe Luiz, irmão do Rei Eduardo, havia feito grandes obras na cidade. Contudo, estas ficaram interrompidas depois da sua morte, pelo menos os aquedutos haviam sido terminados, não fazia sentido uma cidade ficar sem água sendo que percorria um rio ao seu lado, já as galerias fluviais e a pavimentação ficaram inacabadas. O próximo governante da cidade deveria ser o Príncipe Henrique, pobre cidade já que este não se presta para nada além de correr atrás de garotas, talvez Tícia desse um jeito na cidade, já que duvido que o príncipe tome jeito depois do casamento. A Cidade do Príncipe historicamente era governada por uns dos príncipes, justamente por isso se dava o seu nome, o problema que a maioria dos príncipes negligenciava o seu trabalho e a cidade ficava pela sua conta. Por tal motivo no passado ocorreram algumas revoltas, sendo que nem todas terminaram bem, as vias que passávamos já foram percorridas por sangue o que fez as palavras de Turion vieram à minha cabeça, uma tempestade estava chegando! Trazendo sangue e destruição!

- Você nunca veio até a cidade do Príncipe, Lorde Ryuu? – Nathalia como sempre estava a pajear meu irmão.

- Pode me chamar apenas de Ryuu.

Nathalia mais uma vez ficou sem jeito.

- Desculpe-me não posso. – disse sem graça.

- Por que? – a sua ingenuidade me doía.

- Ela só poderia te chamar assim se fosse sua esposa. – respondi.

Agora Nathalia tinha corado, com direito a me dar uma pequena cotovelada, Ryuu parecia mais uma vez não entender direito o que aquilo significava.

- Monges não podem constituir família.

Foi um balde de água fria na pobre Nathalia, realmente ele tinha olhos mas não conseguia ver.

- Você é um monge? – perguntou Nathalia incrédula.

- Sim.

- Você era um monge, agora é um Ferraço. – cabia a mim acabar com aquela história de monge – Lembre-se do que nosso pai te disse! Aqui ninguém liga para esse negócio de monge, soube que tem até alguns que são casados.

Ryuu fez um olhar de incrédulo e continuou a olhar para a cidade, finalmente chegamos na alfaiataria, que pertencia a Madame Karin. Ela atendia com exclusividade somente a mais alta nobreza, trabalhava ali ela e seus dois filhos, Luna e Martin. Os três eram vistos com frequência na corte sendo convidados para praticamente todos os grandes eventos. Segundo as más línguas Martin teve um caso com o filho mais velho do Príncipe Luiz, chamado de Duque Agostinho, e por este motivo o seu pai teria pedido ao seu irmão que mandasse seu filho para ser embaixador em Alexandria. Ao entrarmos justamente fomos recebidos por Martin que se encontrava próximo a porta, rapidamente ele se levantou e fez uma reverência.

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