Problemas Inesperados - Nathalia - Parte II

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A tarde recebi uma mensagem do Príncipe Henrique, o mensageiro era o Lorde Rafael, não tinha conversado com ele a sós desde a notícia do seu casamento com a princesa, a notícia ainda corria a boca pequena e poucos sabiam ainda do noivado. A princesa não fazia questão nenhuma de esconder, a maior interessada nisso era a rainha que fazia para ganhar tempo, e esse tempo estava acabando.

- Lady Nathalia podemos conversar?

Olhei para os lados estávamos nos jardins do palácio que ficavam na região norte, costumava sentar ali a tarde e apreciar uma boa leitura, gostava de dedicar um tempo aos livros, principalmente os que contavam as histórias e costumes de outros países. Sempre tive curiosidade sobre as outras nações, tinha sorte quando conseguia algum tratado ou relato de algum monge. Eles costumavam descrever sobre os lugares que passavam com uma incrível quantidade de detalhes que enchiam minha imaginação.

Os nobres geralmente sabiam ler, os eclesiásticos na sua totalidade, já a plebe dificilmente havia um que soubesse. Essa parte do jardim dificilmente era frequentada por homens, quando o vinham aqui geralmente era para flertar, por isso que tinha que tomar cuidado, pois não podíamos ser mal interpretados. Contudo, hoje como estávamos perto do festival a maioria das garotas estavam entretidas provando vestidos e por isso não tinha ninguém a vista, no máximo seriamos observados pelos guardas, estes não gostavam de comentar sobre a vida dos nobres, muitos haviam se dado mal por tal motivo.

- Podes falar, estamos a sós. – disse para ele que falasse sem rodeios.

- Queria te pedir desculpas. As coisas acabaram fugindo do controle.

- Eu sei, mesmo assim é uma grande oportunidade para você. – afinal de forma alguma culpava, sabia que foi obra do destino, do acaso, dos deuses, dos homens, o que importa.

- Não preciso deste tipo de oportunidade. – respondeu rispidamente, deixando transparecer o seu orgulho.

- Ei! – chamei a sua atenção – Cuidado! Não seja ingrato!

- Não é ingratidão! O rei fez muito por mim, me acolheu, me criou, me cuidou como seu filho fosse e agora me dá a mão da sua filha em casamento. – ele fez uma pausa não sabendo como concluir o pensamento.

- O que te incomoda? – a princesa já estava desconfiado que havia algo de errado com a sua atitude e isso tinha que acabar agora, antes que ele se comprometesse e o pior me comprometesse.

- Quebrar a promessa que te fiz. – quase ri de sua fala.

- Não se preocupe, as coisas no final se ajeitam. Além disso não foi sua culpa, nem minha! Não há porque ficar chateado com isso, eu ficarei bem.

Sorri para ele, precisava deixá-lo confortável, se ele titubeasse como disse atrás nos colocaria em risco, ter a princesa como inimiga era a última coisa que eu queria. Em meus planos que havia feito, esperaria que a princesa casasse, sabia que isso ocorreria logo, não tinha como seu pai enrolar mais a situação, entre um e dois anos no máximo ela estaria casada. Depois do seu casamento ela se mudaria, nesse momento Rafael me pediria em casamento, poucos meses depois casaríamos não me importava se pensariam que eu estivesse grávida, se mudaríamos para as suas pequenas terras e lá viveria até o fim da minha vida. Já tinha tido toda minha dose de corte, também não queria viver nas cidades eram todas imundas como a Cidade do Príncipe.

- Mesmo assim me sinto responsável.

Ele realmente parecia triste, será que ele tinha algum sentimento por mim? Os seus olhos castanhos claros cintilavam, seu olhar fugiu para o nada, como se tivesse imaginando algo, talvez ele tivesse construindo planos, assim como eu fiz, precisava quebrar isso logo, olhei para os lados para me certificar que estávamos sozinhos outra vez.

- Você vai se declarar para mim? – brinquei.

- O que? – ele foi pego de surpresa.

Ele pareceu confuso e levemente envergonhado, em seguida ele deu um sorriso e aproximou-se.

- Lady Nathalia meu coração branda por você, com o mesmo som de uma espada quando toca num escudo, sou abençoado em somente poder te admirar, o mais simples dos teus sorrisos me paralisam, e fazem eu sentir uma tempestade gelada dentro do meu corpo, permita-me ser o seu cavaleiro protetor ou simplesmente retire minha vida, pois ela não tem sentido sem você! – novamente quase ri de sua fala, fiquei pensando se ele havia treinado ela frente ao espelho e quantas vezes o fez.

- Uau! Quase acreditei, meu coração até deu até uma leve acelerada, devia ensinar esses cortejos para o príncipe. – dei uma longa risada.

Ele deu um leve sorriso em seguida coçou a cabeça parecia um pouco envergonhado. Os cavaleiros protetores pertenceram a uma ordem que surgiu a muito tempo atrás, o primeiro foi Sir. Alas que amava a Princesa Liana, dizem que ela o amava também, porém ela estava destinada a casar com o Príncipe Lucas e mesmo que não tivesse não havia como um mero cavaleiro se casar com uma princesa. Ele jurou aos deuses e diante de seu pai que protegeria a Princesa Liana, seu pai aceitou o juramento e deixou ele responsável pela guarda de sua filha, mesmo sabendo do seu amor por ela. A partir dali Sir. Alas tornou-se uma espécie de guarda particular da princesa, porém ele sempre se mantinha à distância de seis passos dela. Anos mais tarde a princesa finalmente se casou com o Príncipe Lucas que se demonstrou incomodado com a presença do cavaleiro, mesmo assim ele não podia simplesmente dispensá-lo já que ele tinha feito um juramento diante dos deuses, o rei e o alto sacerdote havia validado tal juramento. Certo dia durante uma festa, o já Rei Lucas questionou a lealdade do Sir. Alas e ordenou que a Rainha Liana mandasse que ele retirasse a sua própria vida, a rainha titubeou mas acabou dando a ordem, pois os dois estavam na presença de toda a corte. Sem pensar ele retirou sua espada e fez menção de atravessar a sua barriga, só não fez porque o próprio rei o impediu horrorizado. A partir daquele dia ele nomeou o Sir. Alas com o título de "cavaleiro protetor", muitos anos depois a rainha morreu e no seu testamento ela deixou alguns bens para ele, o único que ele aceitou foi um colar que ela mesmo tinha feito. Depois disso Sir. Alas se exilou, apesar da insistência do rei para que ele ficasse na corte, a sua honra foi reconhecida e em seu nome foi criada a Ordem dos Cavaleiros Protetores. Com o passar do tempo vários cavaleiros adentraram a esta ordem a maioria de origem nobre, no entanto, o sumo sacerdote notou que o sentindo da ordem havia sido deturpado, já que muitos cavaleiros eram nomeados simplesmente por serem prometidos como futuros maridos das donzelas, não possuindo nem de perto as virtudes de Sir Alas. Assim o alto pontífice decidiu que os cavaleiros deveriam ser testados antes, para isso deveriam fazer um período de purificação que consistia em longos jejuns, meditações e ensinamentos sobre dever e honra durante um ano, além do mais o cavaleiro deveria abrir mão de sua herança e de seu nome. O resultado foi o esperado, o interesse pela ordem diminuiu, poucos cavaleiros conseguiam suportar o ritual e muitos desistiam nos primeiros meses. Além do mais a donzela poderia casar enquanto isso, ou seja, ela não tinha compromisso nenhum com o cavaleiro. Para piorar, normalmente quando as damas casavam os maridos pediam para que ordenassem que o cavaleiro fosse para o exílio, logo o número de cavaleiros protetores diminuiu tanto que hoje estão quase extintos. Somente quando terminava o período de purificação podia fazer o segundo juramento que atrelava ele e a donzela pelo resto de suas vidas, os dois ainda podiam casar, porém a confusão ficava quanto aos bens dele que nesse caso passava para seus filhos. Além disso os cavaleiros protetores não possuíam o pátrio poder, ficando todas as decisões a cargo de sua esposa. A esposa mais famosa, com certeza, foi a Rainha Helisa I, a qual se casou com o seu cavaleiro protetor para poder herdar o trono da Manchuria. Desta forma ela governou seu reino por muitos anos sem ter que se subordinar a homem nenhum.

- Desculpe-me, mas não preciso de um cavaleiro protetor não tenho nem como me sustentar, imagina sustentar um cavaleiro, morreríamos ambos de fome.

- Lamento por tudo. – seu olhar ainda continuava triste.

- Tudo bem, como disse tudo se resolverá.

Depois disso ele seguiu o seu caminho e eu o meu.     

O Senhor do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora