A Torre - Duque Gregório - Parte I

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Na imagem o misterioso Cardeal Salvatore - os cardeais por si só são um mistério, dizem que são capazes de invocar os poderes dos deuses através dos chamados milagres

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Na imagem o misterioso Cardeal Salvatore - os cardeais por si só são um mistério, dizem que são capazes de invocar os poderes dos deuses através dos chamados milagres. Dizem que ver um deles já é um milagre.

Este é o segundo capítulo extra narrado por Duque Gregório, lembrando que são três capítulos extras narrados pelo mesmo.

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Olhei para fora da carruagem e via do meu lado esquerdo o Rio Pérola correr com toda sua imensidão, verde e de águas calmas, acompanhado do som do trote característico dos cavalos, o cheiro de mato molhado ainda estava pelo ar devido a chuva que caíra no inicio da tarde, por sorte foi uma chuva leve, caso fosse ao contrário a essas horas estaríamos passando dificuldade. Não era novidade que as chuvas deixavam as estradas intrafegáveis, por sorte nossa a única chuva que ocorrera desde nossa partida da Cidade Santa foi essa.

Sentado a minha frente estava o Cardeal Salvatore que parecia tentar ler algum manuscrito, no meu colo a pequena Melissa cochilava. Devíamos estar viajando a mais de quatro dias e estávamos no máximo na metade do caminho. Estiquei um pouco mais o meu olhar para ver outra companhia indesejável naquela viagem se tratava do Lorde Templário, cavalgava lentamente com um olhar perdido no nada como se estivesse presente entre nós somente o seu corpo, enquanto seus pensamentos deviam estar a milhas de distância daqui. O cardeal enrolou pacientemente o seu manuscrito passou o dedo sobre a língua a fim de molha-lo o ajudando na tarefa de prender o lacre, claro que devia ser muito mais uma mania do que realmente fosse necessário, depois que prendeu o lacre falou:

- A bichinha pegou no sono. – o cardeal se referia a Melissa.

- Depois do almoço é sempre assim. – havíamos feito uma parada para o almoço, não abria mão de certos confortos e uma boa refeição era sempre bem-vinda. Por isso trazia junto conosco meu cozinheiro predileto para viagens, existe uma enorme diferença entre cozinhar num castelo com tudo a mão e no meio da estrada onde podia faltar qualquer coisa trivial e cabia ao chefe de cozinha se virar com a falta de tempo como de ingredientes.

- O Lorde Templário pretende competir esse ano? – arrisquei, queria saber qual o motivo daquele homem estar nos acompanhando, o lorde em questão não é uma companhia adorável para se ter numa viagem, muitos nobres simpatizavam com ele, já eu possuía receios, um homem frio que parecia ser desprovido de alma, lembro-me perfeitamente do dia que chegou as minhas terras sem ser convidado, trazia junto contigo uma mulher de aparência estranha, cobria o rosto com uma mascará, como das pessoas que a usavam por terem sido marcadas por pestes ou pelos deuses, se é que existe alguma diferença entre uma e outra. Fui chamado as pressas pela esposa de um de cavaleiro que clamava pela vida de seu marido, ao ir verificar o ocorrido o templário apenas disse que se tratava de uma ordem da Igreja e que o homem em questão estava sendo acusados de graves crimes, a mulher pediu para que não o levassem e que o seu esposo era inocente, pouco adiantou levou o pobre cavaleiro a ferros em direção da Cidade Santa e nunca mais tivemos notícias do mesmo.

- Sinceramente não sei, o Lorde Templário é imprevisível como o vento. – respondeu o cardeal o sondando pela janela, parecia que o próprio cardeal não simpatizava com ele.

Não era segredo que existia uma divisão entre os membros da Igreja, afinal eles nunca foram um exemplo de união, estavam mais para um ninho de cobras onde um tentava engolir o outro. O Alto Pontífice visava apenas atender os seus interesses, pedi para que o Samuel se informasse se o Barão de Damasco estava pela cidade, mas ele não conseguiu descobrir nada a contento, apesar disso a minha frente estava alguém que poderia me dar alguma pista.

- Sabes se o Barão de Damasco pretende apresentar alguma reclamação formal contra o Duque de Ferro. – o cardeal estendeu seu olhar para mim e depois o desviou.

- Acredito que não, seria tolo se o fizesse. – respondeu o cardeal.

- Deve ter retornado para suas terras a espera de um milagre. – provoquei o cardeal.

- Improvável, pelo o que sei partiu em direção contrária as suas terras.

Fiquei encucado, o caminho contrário era justamente o mesmo que o nosso, ou seja, o que levava ao Castelo Ariel. Não fazia sentido que o mesmo comparecesse neste momento na corte, uma vez que, o rei poderia fazer o reconhecimento formal do filho do Duque Nelson e nesse caso ele seria obrigado a fazer o juramento de lealdade e obediência ao seu suserano. A menos que o seu destino fosse outro: a Cidade do Príncipe; dali poderia saber o que acontecia na corte e ainda poderia ficar livre para conspirar contra as pretensões do duque como também escolher dar as caras ou não durante o festival.

- Ele foi para a Cidade do Príncipe? – indaguei.

- Sim, o homem está obstinado em se tornar o Duque de Ferro. – o cardeal deu um sorriso, em seguida fitou os olhos em cima do símbolo contido no meu colar – Por que sua casa possui dois brasões?

- Quer saber a verdade ou a história que tomou a verdade para si?

- A que sentir vontade de falar.

- Nesse caso falarei as duas sem dizer, qual é verdade e qual é mentira. Começaremos pela serpente nele temos a representação do Rio Serpente cujo leito corre nossas terras nos abençoando com água e vida. Alguns dizem, no entanto, que esse símbolo já pertencia a minha família antes de ocupar essas terras e em vez do rio nos nomear nós que nomeamos o rio. O outro símbolo da minha casa é o olho da bruxa, aquele que tudo vê: passado, presente e futuro. No qual segundo a lenda as três dimensões convergem numa mesma linha, dizem que um dos meus antepassados se casou com uma bruxa e depois disso adotou esse brasão. Claro que esse símbolo foi rapidamente deixado de lado, afinal carregar o símbolo atrelado a bruxaria não seria bom para nenhuma família nobre a menos que desejem morrer queimados. – ele deu um leve sorriso – Contudo, quando o Duque da Serpente se alinhou a Casa do Falcão, a que viria a se tornar a primeira Dinastia de Falcon, resolveu resgatar o antigo símbolo, substituindo a serpente pelo olho, claro que desta vez ele disfarçou dizendo que se tratava do olho do falcão e logo as pessoas acreditaram que se tratava de um sinal de submissão. Acontece que apesar da mudança do símbolo todos continuaram a referenciar nossa família pela serpente e meu avô de forma impaciente resolveu adotar os dois símbolos. Então, qual das histórias é verdade e qual é mentira?

Salvatore ficou por alguns instantes pensando e depois arriscou:

- Acredito que existe um pingo de verdade em todas! O Duque da Serpente realmente se casou com uma mulher que era capaz de ver o futuro, ou que pelo menos se dizia capaz, muitos homens parecem ser atraídos por esse tipo de mulher, inclusive temos denúncias que a nova esposa do Marques de Rio Cristalino seja uma dessas, mas isso é outra história. Voltando a história a Casa do Falcão e da Serpente sempre foram rivais e lutavam pelo domínio do reino. A duquesa deve ter tido uma visão que caso sua casa não se submetesse a sua rival seria destruída e o seu marido assim o fez. É isso? – perguntou o cardeal.

- Em resumo é. – respondi e o cardeal se demonstrou feliz como se tivesse saído vitorioso diante do pequeno desafio, claro que não cabia esclarecer em quais pontos errou e quais acertou.


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