A Torre - Duque Gregório - Parte II

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A carroça bateu numa pedra fazendo com que desse um solavanco e fez com Melissa despertasse.

- Papai, papai, falta muito para chegarmos?

- Infelizmente sim minha pequena, estava sonhando com a nossa casa?

- Não, sonhei que o senhor estava num barco rodeado de pessoas e o mar estava nervoso fazendo com que se segurasse nas cordas, mesmo assim o senhor se mantinha bravo, em compensação muitos dos restantes clamavam aos deuses para que o mar se acalmasse... – a vozinha de Melissa saia coberta de sono e tentava se despertar.

- Sonhos com navios de novo?

- Sim papai, grandes barcos, centenas deles!

- Ela realmente adora o mar! – Exclamou o cardeal, apenas concordei com a cabeça.

Passei minha mão sobre sua cabeça para que retornasse a dormir, assim a viagem passaria mais rápido para minha doce criança.

- Diga-me duque a quem é fiel? – desde o início da viagem havia iniciado uma batalha com o cardeal com cada um tentando descobrir informações sobre o outro e finalmente agora ele foi direto ao ponto.

- É uma pergunta difícil de ser respondida, em todo caso te contarei uma história e dela poderá tirar conclusões a quem sirvo e a quem devo minha fidelidade. Tudo começou quando tinha quinze anos de idade e o Duque da Serpente resolveu me mandar para a corte junto com minha irmã mais velha, a tímida Eleonora. Arrumamos nossas malas e partimos, alguns dias depois estava em Castelo Ariel e fomos recebido pelo Marques de Queiroz, esse acredite ou não era apenas um cavaleiro antes de cair nas graças do rei. – fiz uma pequena pausa e o cardeal aproveitou para fazer um breve comentário.

- Nunca ouvi falar desse marques. – parecia que tentava puxar na memória alguém ou alguma família com esse nome, dificilmente conseguiria, resolvi satisfazer ou apaziguar sua curiosidade.

- E nem deve ter ouvido, porque o seu nome morreu com ele ou melhor quando o Rei Ezequiel II morreu. Como sabes o Rei Ezequiel era o rei antes do atual. – ele apenas concordou com a cabeça, como se estivesse atento a cada detalhe daquela história como se estivesse a reunir informações – Pois bem, continuando, fomos recebido pelo marques em sua sala, hoje é a mesma sala utilizada para reunir o seu conselho, naquela época tal sala pertencia ao marques e devo dizer que muitas vezes ele até mesmo dormia por ali. Enfim, isso não interessa agora, mas sim as palavras do marques: Você que é o filho do Duque da Serpente? Perguntou o marques com os pés sobre a mesa e em seu lado estava uma moça bem afeiçoada, bonita, jeitosa e elegante. Imaginei que fosse uma filha sua, mas bastou reparar em sua mão maliciosa para entender que não. Mesmo assim ele não deixou de cobiçar minha irmã que acabara de chegar. Respondi que sim e ele acendeu um cachimbo a minha frente, tragou, depois exalou a fumaça em nossa direção, fazendo com que minha irmã tivesse um ataque de tosse. Em seguida ele me disse que pediria para que o intendente me levasse aos meus aposentos, mal terminou de falar e fez sinal para que eu e minha irmã se retirasse. Fiquei pensando quem esse marques pensa que é para me tratar dessa maneira? Afinal eu era o filho primogênito do duque mais importante de Falcon, como poderia tratar desta forma o primogênito do primeiro duque de Falcon?

- E o que o duque fez a respeito?

- Nada. – ele demonstrou uma cara de surpresa com minha fala, de certo esperava que alguém de minha estirpe deveria ter subido nos tamancos e colocado o infame marques em seu devido lugar, não seria o momento ainda, pelo menos não agora, prossegui – Não havia nada que eu pudesse fazer contra aquele homem, simplesmente ele era o melhor amigo e protegido do rei. E todos o temiam, mais que o próprio rei. Foi quando eu percebi uma coisa – fiz uma breve pausa para valorizar a próxima frase – que a amizade poder ser mais poderosa que títulos, não podia ser amigo do Rei Ezequiel por isso corri para ser amigo do próximo rei.

- Então ficou amigo do Rei Eduardo?

- Não, as coisas não aconteceram como eu esperava, outras pessoas devem ter percebido o mesmo que eu, bem antes, diga-se de passagem, e o rei já tinha uma panela formada, nela estavam: os futuros Duques Nelson, Grande Urso, Duque Rosa Negra e um tal de Lorde Escorpião Dourado. Os cincos eram inseparáveis feito unha e carne, além do mais não faziam a mínima questão de me agregar ao grupo. Na época estavam entretidos entre conquistar torneios e garotas, sinceramente eu não era bom em nenhuma das coisas, nos torneios servia de motivo de risadas e as únicas garotas que se interessavam por mim eram aquelas que as moedas podiam comprar.

- Deve ter sido uma juventude difícil. – brincou.

- E foi, mas o pior estava por vir, mais ou menos depois de três anos da minha chegada a corte o então Príncipe Eduardo se casou com a filha do Rei de Alexandria, foi uma festa enorme vieram pessoas de todo continente prestigiar e dentro delas estava a mulher mais linda que já vi em toda minha vida: Lady Helena.

- Helena?

- Sim, filha de um lorde de Talos estava acompanhando a família real de seu reino. Como eu disse a festa foi grandiosa e durou quase por um mês inteiro, não é exagero de minha parte e sim um exagero do Rei Ezequiel que deseja mostrar ao mundo o seu poder, luxuria e ostentação. Apenas o reino de Lorena não foi convidado como de praxe, um pequeno tapa na cara do seu rival.

- Imagino que o suserano de Lorena não tenha ficado nada contente com o insulto.

- Realmente ele não ficou e o troco viria mais tarde, uma guerra, de qualquer forma foi tempo suficiente para me aproximar da mais linda flor que tinha visto, daquela deusa em forma de mulher. E num passe de mágica a garota começou a responder ao meu cortejo, como num sonho.

- Pensei que tinha sido algo ruim. – disse o cardeal coçando o seu bigode.

- E foi meu jovem, e foi. – apesar daquelas lembranças me trazerem muita mago, era necessário as manter firme para me lembrar de quem um dia fui – Não demorou a surgir um concorrente de peso, o Lorde Nelson, bastou que colocasse os seus olhos gulosos sobre ela para deseja-la.

- E o senhor perdeu na disputa?

- Sim, perdi, depois do casamento a adorável Helena teve que retornar as suas terras, fizemos promessas, trocamos gracejos, precisava da aprovação de meu pai para pedi-la em casamento e digamos que meu pai estava muito ocupado para me responder, perdido nos braços de outra amante com certeza. O fato que ela retornou para Talos e foi quando o Lorde Nelson utilizou de sua amizade para junto ao príncipe cavar sua ida para lá. O embaixador de Talos tinha retornado e não tinha intenção nenhuma de retornar para lá, logo o rei nomearia outro nobre para a missão e o escolhido... – ele me interrompeu.

- Foi o Lorde Nelson. – apenas concordei com a cabeça pela sua correta suposição.

Lembro de como implorei ao marques, que apenas sorriu e me menosprezou, no entanto, aquele homem cometeria um crime maior ainda, um que pagou com a própria vida!

- Como que o Lorde Nelson conseguiu convencer o marques a nomeá-lo? – perguntou Salvatore curioso.

- Com ouro amigo, foi quando apreendi outra lição: o ouro é capaz de comprar tudo.

- É verdade, todo homem tem um preço.

- E qual seria o seu? – foi minha vez de ser direto e ele apenas sorriu.

- Afinal de contas o que aconteceu com sua irmã? – perguntou mudando de assunto.

- Ela morreu. – novamente um desconforto que não conseguia disfarçar – Sofria de uma moléstia grave desde criança e depois de alguns anos na corte acabou vindo a falecer.

- Sinto muito. – disse num tom te desculpa por ter tocado num assunto sensível.

- Sem problemas. – respondi encerrando a conversa.

O Senhor do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora