PARTE 2 / CAPÍTULO 20: FANTASMA

33 7 50
                                    


– P-Petru? Não... Não, você está morto!

Nicoleta não conseguia acreditar em seus próprios olhos. Junto à sua cama, francamente iluminado pela luz do exterior, Petru a observava com uma expressão de curiosidade infantil. Ao ouvi-la, ele não se aproximou, mas de sua boca entreaberta passaram a ser emitidos sons que lembravam palavras.

– SIM. SOU ESCUTADO.

A criada reconheceu a voz e a entonação da criatura. Ela não falava no sentido propriamente dito, mas parecia se esforçar em parecer que sim. Seus movimentos, a aparência, o olhar morto e as feições pálidas, se tivesse olhado para aquela forma por mais de dois segundos, saberia que não era o verdadeiro Petru. A voz gutural e rouca que ouvira durante o despertar de Carmine era anunciada agora por uma criatura na pele de seu falecido noivo.

– É você. Você é o meu fantasma.

– SIM.

– Esse rosto... – passado o choque inicial, a raiva de Nicoleta encontrou seu caminho novamente. – O que você fez com Petru, monstro infernal!?

Ela atirou-se de sua cama em direção à criatura. Não encontrou resistência ao dar de encontro com ela, apenas a dureza do piso abaixo. Ao se levantar, o fantasma se encontrava no lado oposto da sala, parecendo notar seus próprios membros pela primeira vez.

– NÃO POSSO SER TOCADO. DEVERIA SER TOCADO.

Nicoleta aproximou-se da criatura e estendeu a mão à frente. Pensou sentir um leve formigamento e calafrios, de maneira semelhante à de quando simplesmente sabia quando ele estava por perto em sua forma invisível.

– Quem... o que é você?

– NÃO SEI.

– Qual o seu nome?

– NÃO SEI.

– Você matou Petru?

– NÃO.

– Por que veio a mim?

– PRECISO DE VOCÊ. VOCÊ ME ESCUTA. VOCÊ ME VÊ.

– Você não consegue falar com mais ninguém?

– NÃO.

A criada já sabia que teria algum tipo de conexão com aquele ser. No último sonho no qual ele apareceu, pôde perceber o quão sozinho e confuso ele se sentia e, embora não compreendesse exatamente a que nível essa conexão ocorria, sabia que ela estava lá. Irmão Mihai não pôde enxergá-lo no dia em que Carmine despertou, assim como Johanel nunca foi capaz de notar sua presença, ou qualquer um dos responsáveis da enfermaria naquele tempo que passara ali. Ninguém mais podia senti-lo, ninguém mais podia ouvi-lo, apenas ela. Se não tivesse apenas enlouquecido, Nicoleta era a única ponte entre ele e o mundo.

– Eu... Não me sinto muito bem... – recuou de volta a sua cama e se sentou no colchão estofado. Suas pernas e mãos tremiam, mas não tinha medo. Não mais. – O que posso fazer por você, senhor fantasma?

– VOCÊ PODE FALAR COM ELA.

– Ela?

– A GERMINADORA. ELA ME ALIMENTOU. ELA ME CRIOU.

– De quem está falando? Carmine? Ela é sua "germinadora"?

– SIM. PRECISO DELA. TRAGA-A A MIM.

Ouvir Petru falar isso causou um mal-estar em Nicoleta, mesmo que aquilo fosse apenas um sósia. Sentiu o coração apertar e teve de desviar o rosto.

– Você parece muito com ele. Não era assim que se parecia quando estávamos no quarto do irmão Mihai.

– VOCÊ TEVE MEDO.

Neve MaculadaOnde histórias criam vida. Descubra agora