PARTE 3 / CAPÍTULO 5: A SANTA COMPANHIA DE TAYY

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Barna de Lorderak retornou de Forte Dragoi logo antes do raiar do sol, com uma nuvem de poeira espessa marcando o galope de seu corcel cinza. À medida que o mercenário se aproximava, os guardas que Katia havia deixado de guarda despertaram o acampamento improvisado com o badalar de uma sineta e gritos de ordem.

Ion acordou de mal gosto, sentindo como se precisasse dormir por mais três dias, enquanto Katia pulou de seus lençóis como se não tivesse fechado os olhos sequer por um minuto. Barna ignorou a presença do abade e guiou seu cavalo a passo curto diretamente para a Dama de Altorrio, com quem conversou por alguns poucos minutos antes de voltar à trilha que levava ao castelo.

Katia retornou ao viajante com o cenho franzido, as notícias que Barna trouxera obviamente não eram o que esperava.

– O que houve? – perguntou, coçando os olhos, enquanto a observava recolher os seus lençóis.

– Arrume suas coisas, estamos indo.

Ion dormira de armadura, apenas aguardando o retorno do emissário, assim como Katia e todos que se voluntariaram a vestir os itens que haviam sobrado do arsenal da Confraria. O encontro com a Companhia de Ibrahim possuía grandes chances de acabar em tumulto e um exército equipado, por menor que fosse, aumentava as chances de um diálogo pacífico. Ao contrário de Katia, Mihai e a maior parte do vilarejo, no entanto, Ion estava confiante no sucesso do plano.

"Eles não conhecem o poder do ouro."

Alexandre já havia excluído Ibrahim do cerco a Altorrio, os mercenários já haviam sido pagos e não possuíam mais qualquer ligação, militar ou honorífica, com Razguvda e seus aliados. Embora ainda ocupassem Forte Dragoi, para todos os propósitos a companhia estava sem contrato, e companhias sem contrato costumavam aceitar propostas de emprego.

O viajante passou a mão em sua bolsa e sentiu a joia de Petru com as pontas de seus dedos.

"Ainda mais quando a oferta é tão tentadora."

– Eles aceitaram conversar – falou Katia a ele, enquanto punham suas roupas de cama sobre a traseira de uma carroça. – Mas exigiram a presença do "demônio do rio", você sabe do que se trata?

– Carmine – respondeu Ion de pronto. – Esse era o nome dela quando chegou ao vilarejo.

– Quem é aquela moça, Ion? Por que ela é popular a ponto de não-juramentados pedirem para que ela compareça a reuniões de negócios?

– É... complicado. Acho que ninguém sabe, não realmente. Os monges a acharam desmaiada perto no rio há alguns meses, alguns a viram cair em uma bola de fogo, falavam todo o tipo de coisas naquela época. Desde então, eu diria que ela se enturmou muito bem.

– Bem demais – respondeu ela, lançando-lhe um olhar inquisidor.

– Que foi?

– Eu vi você olhando as pernas dela.

Ion bufou, em sinal de escárnio.

– Contigo do meu lado? Nem em sonho.

– Não minta. Alguém com menos classe do que eu lhe socaria a cara agora.

– Por favor, não se contenha – brincou, pegando-a pela cintura. – E, em minha defesa, irmão Mihai também pareceu bastante distraído enquanto falava com você. Me vê reclamando?

Ela gargalhou com gosto.

– Minha nossa, você viu a cara dele!? Se eu soubesse que a reação seria aquela, teria desabotoado um pouco mais a blusa.

Neve MaculadaOnde histórias criam vida. Descubra agora