A cirurgia

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  - Ele causou. Está bêbado. - Disse decepcionado.

  - Sala 3, rápido! - Zabdiel impõe e eu desperto para o que estava acontecendo e me ponho a ajudar.

  Empurramos a maca até o elevador e todos abrem passagem. Zabdiel aperta o botão ligeiramente e a porta se fecha.

  - Não podemos nos deixar levar, entenderam? Sei que acabaram de conhecer o paciente, na obstetrícia, que se sensibilizaram com a história dele e tudo mais. Eu então... nos conhecemos desde pequenos. Eu nem deveria estar aqui, pra não me influenciar tanto, mas só eu estou de plantão. Então, somos os médicos, entenderam? O que importa é ele, não nossos sentimentos! - Ergue o tom. - Se for pra sentir alguma coisa, sinta vontade de salvar uma vida!

  Respiro fundo, fechando os olhos por uns segundos, o tempo do elevador parar e a porta se abrir. A multidão do lado de fora se organiza rapidamente para que passemos entre ela. Christopher aparece com outros da equipe e abre a porta da sala de cirurgia.

  Tudo é incrivelmente organizado e mágico, exceto pelo fato de ser Erick na mesa de operação. Por esse motivo, todos estavam sérios e calados, tornando a atmosfera do lugar pesada demais para mim, fazendo minhas mãos tremerem.

  - (S/N), venha se lavar, vai me instrumentar. - O doutor me chama, para irmos até as torneiras, numa sala separada.

  Vamos até lá e realizo o processo que aprendi na faculdade, dando graças por ter prestado muita atenção em todas as aulas das lições mais "fáceis". Meus olhos estão vidrados em Brian, como sempre, mas os seus não estão em mim com aquele verde lindo e brilhante. Observo através do vidro que separa essa sala da SO, e vejo que o anestesista já está fazendo seu serviço e terminando de apaga-lo.

  - Ei, não se deixe abalar. Preciso da sua total concentração e fé. Acredita em Deus? - Zabdiel me desperta e eu o olho, concordando com a cabeça. - Ótimo, então confie Nele. Erick me falou de você, falou muito bem.

  Meu coração se aperta e eu engulo em seco, olhando para um canto qualquer.

  - Acredite, eu não ia te deixar entrar nesse caso, mas tem se destacado e, como não é nada sério... ou é?

  - Não, não é nada sério. - Fecho a torneira e ele também. - Obrigada por me deixar entrar e instrumentar. - Ele assente e pressiona, com o cotovelo, o botão para abrir a porta da SO novamente.

  Christopher e Dani trazem as luvas para o doutor e para mim, respectivamente, e as colocam em nossas mãos, depois que vestimos os trajes esterilizados. Colocamos as máscaras e nos aproximamos da mesa.

  Uma luz forte iluminava o tórax de Erick e outra o seu rosto, agora pálido e com arranhões e um hematoma. Sacudo a cabeça e aperto os punhos, me concentrando e afastando todos os sentimentos e pensamentos ruins.

  - Está pronta? - Ergo meu olhar para o médico e assinto.

  Antes de começarmos, observamos os chefes da Cardiologia e Neurologia entrarem. Cada um se posiciona onde deve e então inicia-se a cirurgia. A minha primeira cirurgia. A cirurgia do Erick.

  - Bisturi, por favor. - Zabdiel estende a mão e eu lhe entrego o objeto.

***

Mi Medicina •EB•Onde histórias criam vida. Descubra agora