Pesadelo

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  "– Levanta, garota!
 
  Meu cabelo é puxado fortemente e meu corpo desliza pelo colchão e cai no cimento gelado do chão. Recebo um chute nas costas que faz-me contorcer. Nada sai de minha boca; tudo isso já havia acontecido. Meu olhos se enchem de lágrimas e eu me encolhi, abraçando meus joelhos e os apertando contra meu peito.

  – Eu não sustento vadiazinha vagabunda! Me entendeu? — Sua voz ecoava pelo grande quarto vazio e cinza, de paredes com mal acabamento a um concreto rude. Algumas gotículas de saliva caem sobre mim, vindas de sua maneira grotesca de gritar.

  Minha cabeça ainda doía das pancadas de ontem à noite, meus ouvidos também. A cada palavra gritada, sentia como se uma agulha atravessasse meus tímpanos.

  – Pare de machucar a menina, ela não tem culpa de nada! — A voz feminina soa no mesmo tom, desta vez vinda da direção da porta. Meus olhos, que antes estavam estagnados nos pés do homem, deslizaram pelo chão até os pés da mulher e ali ficaram.

  – Agora chegou a vadia mãe, han? — Ele solta um riso nasalado e abaixa o tom, deixando o som das palavras mais sombrios ao saírem de seus lábios. — Volte para o seu quarto antes que eu machuque de verdade a sua filhinha.

  Mas os pés dela nem sequer se mexeram. Os dele, porém, se mexeram, e então seus dedos apontavam em direção à mulher na porta. Ele está de frente para ela. Meu olhar sobe um pouco pelas pernas dela; vejo alguns hematomas nas canelas e chego nos joelhos machucados, com a pele ralada e cortada, ainda com o sangue por cima das feridas.

  Ele dá o primeiro passo e os joelhos dela estremecem. Sinto uma lágrima rolar sobre minha bochecha. Os passos são acelerados e meus olhos sobem até o pescoço da mulher, que está sendo apertado brutalmente por uma das mãos grossas do homem. Fecho meus olhos com força. Não consigo me mexer; não consigo dizer nada.

  Os sons dos passos e dos movimentos soam baixo para mim. Meu ouvido direito dói e ouço um zunido constante e minha cabeça lateja como se fosse explodir com tanta pressão. Mais pelas pancadas de ontem — principalmente a que foi contra a parede — do que pelo puxão de cabelo ou pela gritaria.

  – Eu disse vá para o quarto! — Ele grita ainda mais alto do que antes e eu ouço apenas o golpe que provavelmente foi de seu punho contra o olho dela. Um grito estridente soa."

  (S/N) se debate na cama e Daniela tenta segurar seus braços, observando aterrorizada a cena. A segunda havia acordado com os gritos da primeira e veio correndo até o quarto dela, encontrando-a em meio a um... ataque? Dando fortes socos no colchão. Aproximou-se e ouviu alguns sussurros pedindo por ajuda. A amiga estava com a testa suada e alguns cabelos grudados ali. Mas um pesadelo.

  – Ei, (S/N), está tudo bem. Eu estou aqui. — Diz em um tom calmo, se segurando para não chorar, enquanto pressiona os punhos fechados dela contra o colchão, sessando os socos.

  Daniela sabia como agir nesse caso. Havia tempo que esses pesadelos não aconteciam. Ela sabia muito bem que tudo que podia fazer nessas situações era acalmar (S/N), e não acordá-la aos gritos. Pode-se dizer que, ao ver o surto da menina no hospital, todos aqueles sintomas que a levaram a agir daquela forma estranha, já não eram surpresa. Bem, em partes talvez, ainda mais por voltarem tão de repente. Mas ela se lembrou e por isso soube o que fazer com a amiga. Daniela sabe o que está acontecendo e precisa fazer algo a respeito.

(S/N) arregala os olhos em direção ao teto. Quando percebe tudo o que acabou de acontecer, sua cabeça tomba para o lado e o olhar das duas se encontra. Sua respiração descontrolada e seu olhar pedem uma confirmação à amiga, que balança a cabeça afirmando com uma expressão triste e compreensiva.

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