— Porque vamos vencer esse tumor!
Erick
Chego em casa entrando a passos fortes no piso de madeira, com o barulho da porta batendo atrás de mim. Que vontade de jogar tudo no chão! As coisas estão embaçadas e girando; minha cabeça dói e meu estômago está embrulhado. Não penso em nada com total clareza, as coisas parecem não fazer sentido algum. Sinto muito frio, como se um forte vento soprasse aqui na sala, mas todas as janelas estão fechadas. Cambaleio pelo corredor — aparentemente mais estreito — até chegar no meu quarto, onde entro já esbarrando no guarda-roupas. Neste, pego uma jaqueta de couro e me visto com as mãos e os lábios trêmulos. Forço-me a ir até a cozinha e bebo um copo de água com dificuldade.
Meu celular vibra na sala e eu arfo só de pensar na distância que nos separa. Nem ao menos consigo supor quem esteja me ligando. Christopher? Zabdiel? Ricardo? Jessica?!
— Jessica! — Exclamo e me levanto rapidamente da banqueta do balcão. Rápido demais. Meu estômago reclama absurdamente e minha boca se enche de saliva. Ponho as mãos na boca e corro para a lixeira ao lado da pia, dentro da qual vomito tudo o que meu corpo expele. Quase nenhuma comida no estômago antes. Nenhuma agora. Passo as costas da mão pela boca e me ergo com dificuldade, confiando nos meus joelhos para que não vacilem.
Retorno à sala dando ombradas pelas paredes no caminho. Respiro fundo e caminho lentamente. A sala está muito mais distante que o habitual. Daisy precisa arrumar isso, não está certo.
— Maria! Maria, cadê a minha mãe?! — Viro o rosto para trás e aperto os olhos fechados para gritar alto, esperando que a empregada me ouça. — Ninguém mais trabalha nessa casa? Fechem as janelas! Desliguem esse ar condicionado ou vamos morrer de frio! — Inconformado em não obter resposta, volto o rosto para frente e finalizo a caminhada ao me jogar numa poltrona. Meu celular toca do meu lado e eu sinto meu coração pulando, deve ser Rose.
(S/N)
Saio da sala de RM e ando distraída em direção ao refeitório. Cumprimento alguns funcionários pelo caminho, me controlando para não pensar no Erick. Espera, já estou fazendo isso. Droga!
— Boa tarde, Doutora. — Samuel, um senhor da limpeza, me cumprimenta ao passar do meu lado empurrando um carrinho com produtos e objetos de faxina.
— Boa tarde, Samuel. Já mediu a pressão hoje? — Como nenhum de nós pra de caminhar, ambos nos curvamos para mantermos o contato visual enquanto conversamos. Ele faz um gesto me pedindo para deixar isso de lado, mas eu o repreendo com um olhar sério. — Passa lá na enfermaria agora. — Aponto para o fim do corredor, indicando a direção da ala e ele me dá as costas após um "tudo bem" quase inaudível. Balanço a cabeça e sorrio com o seu gesto, enquanto apalpo meus bolsos à procura do celular.
Ao encontrá-lo no bolso de trás da calça, ignoro as reprovações da minha mente e busco o contato do Erick na agenda. Clico em "ligar" sem pensar duas vezes, mas, passados alguns segundos, o anúncio da caixa postal me frustra.
— Precisa parar com isso, (S/N). Às vezes, ele tá ocupado com os problemas e você só tá atrapalhando. — Digo pra mim mesma e paro em frente ao elevador, apertando o botão sem paciência nenhuma. Cogito descer as escadas, mas desisto quando ouço um apito avisando a abertura da porta prateada a minha frente, movimento que acompanho com o olhar. Desloco os olhos para silhueta que é revelada dentro do elevador e nossos rostos expressam surpresa simultaneamente.
— Joel. — O cumprimento e adentro o ambiente em uma passada larga, causando um pigarreio e um ajeitamento de postura no homem.
— Doutora. — Sou correspondida no mesmo tom. Aperto o botão do térreo e reparo que o do quinto andar já está aceso. — Desculpe, não avisei que estava subindo.
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Mi Medicina •EB•
Fanfiction(S/N) estuda medicina; deu tudo de si durante 4 anos dentro de uma faculdade e, agora, finalmente vai começar o internato. Junto a suas 3 melhores amigas: Dani (a mais próxima), Maya e Eloá, ela passará pelo tudo ou nada de sua futura profissão; a p...