Transferência

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- Ele já dormiu de novo?

Estava sentada novamente, ainda terminando de escrever o relatório de Erick, quando Christopher entrou perguntando, portanto levantei apenas meus olhos, porém permanecendo com a cabeça abaixada. Com um breve movimento, eu respondi sua pergunta concordando.

- E você? O que tá fazendo aí? - Aproxima-se com as mãos nos bolsos e para ao meu lado, esticando o pescoço e semicerrando os olhos para ler. - Você aumentou a dose de morfina?! - Olha-me com os olhos arregalados.

- Fica quieto! - Dou um pulo da cadeira e suas sobrancelhas se erguem. - Ele estava com dor. E outra: eu estou passando pro documento, não tem nada de errado.

- Então por que quase me bateu quando eu disse? - Agora só uma das sobrancelhas está erguida.

- Porque... - Penso um pouco e a cabeça dele pende sobre ombro. - Porque ele pode acordar. Agora vê se fala baixo.

- Claro, Dr. (S/N). - Ironiza e meus olhos giram nas órbitas. - Vai escrever que você deu um beijinho pra sarar a dor também? - O fuzilo com os olhos. - Eu estava vendo lá de fora. - Aponta para as persianas abertas. - Pensou que ninguém veria, né? - Ri zombando.

- Foi realmente pra sarar. - Dou de ombros. - Ele estava dizendo cada coisa por causa da droga... o beijo foi o de menos. - Percebo o que estou dizendo. - Ai, Christopher! Vai dar uns pontos em alguém, vai! - O empurro de leve com uma mão, enquanto volto a escrever com a outra.

Escutamos um pager apitar e eu sorrio vitoriosa ao perceber que era o dele. Assim que lê o chamado, o enfermeiro aponta dois dedos e os movimenta entre seus olhos e o meu rosto, indicando que eu estou sob sua observação. Balanço a cabeça e rio com seu gesto.

Alguns minutos se passam e eu finalizo o relatório, me espreguiçando assim que largo a caneta. Troco minha posição na cadeira e coloco meu braço no encosto da cadeira, sobre o qual apoio minha cabeça; e fico ali observando Erick dormir. Já disse o quanto ele é lindo? Não é possível que eu nunca vou me conformar com isso. O meu coração salta só de pensar em abraçá-lo, beijá-lo... meu corpo está começando a pedir por ele, mas eu não posso permitir. Um suspiro desprende-se de meus lábios e uma voz me tira de meus pensamentos.

- (S/N)? - Ergo-me na cadeira e encontro Daysi e ambas sorrimos. - Posso entrar?

- Claro, venha. - A chamo e ela adentra o cômodo. - Ele está dormindo há uns trinta minutos.

Observo-a passar as mãos pelos cabelos negros do filho, sem desmanchar seu sorriso. Vejo que ela trouxe um vaso de flores e me disponho a ajudá-la, colocando o objeto em cima da cômoda que fica em frente à cama. Enquanto faço isso de costas para os dois, ela inicia:

- Ele sempre diz que eu ponho flor em tudo. - Ajeito o vaso e viro, apoiando-me na cômoda de madeira. - Desde que entrou na faculdade, só fala em construir uma casa enorme pra mim, com um jardim bem grande para todas as minhas flores. - Posso ver seus olhos brilharem enquanto ela fala, por isso um sorriso surge automaticamente em meu rosto.

- São lindas. - Daysi me olha e eu volto a dizer: - Morei um tempo com meus avós, enquanto meus pais viajavam a serviço. Aprendi muito sobre plantas e principalmente sobre flores, porque eu sempre amei.

- Então você entende disso? - Assinto e ela se anima. - Precisa ir um dia lá em casa, quem sabe o Erick não te leva. - Ao ouvir isso, sinto que minhas bochechas coram. - Ele já te pediu em namoro?

- Não, nós não... Não temos esse tipo de relação. - Ela parece ficar desapontada.

- É uma pena, porque ele gosta muito de você. Formam um belo casal. - Mordo o lábio e olho para Erick.

Mi Medicina •EB•Onde histórias criam vida. Descubra agora