Dopado de morfina

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- Preciso voltar. - Falo enquanto levanto, após olhar o relógio e me surpreender com a hora.

- Mas você acabou de comer. - Eloá segura meu pulso. - Precisa descansar um pouco.

- Depois você vê o seu amor, agora senta aí antes que a gente te arraste até o quarto e te tranque lá. - Dani aponta para a cadeira e eu sento de novo.

- Mas já está na hora, Zabdiel me confiou esse caso. - Indico o relógio. - Depois de atualizar os sinais, eu vou dormir. - As três cruzam os braços e me olham como quem diz "uhum, sei"; até parece que foi ensaiado. - É sério. - Reviro os olhos e elas permanecem do mesmo jeito, então me levanto. - Fiquem aí perdendo tempo, enquanto eu me torno a melhor interna. - Digo com as mãos apoiadas na mesa, flexionando meu corpo para olhar no fundo dos olhos delas. Mesmo assim, não recebo nenhuma reação de volta e por isso me retiro.

- Quanto tempo mais demora pra ela ter um colapso e a gente cuidar dela enquanto estiver internada? - Dani.

- Mais algumas horas. - Maya.

As três balançam a cabeça, rindo com a brincadeira.

***

- Vol— Paro assim que entro no quarto e percebo que Erick está sozinho a olhar para a janela. Quando ele me ouve, se vira para mim e um lindo sorriso se abre em seus lábios, os quais agora já estão com sua cor rosada de antes.

- Aí está você. Não para nunca? - Aproximo-me enquanto ele fala.

- Se eu parar, quem vai cuidar de você? - Passo minha mão por sua bochecha e ele me encara sem piscar. - Como se sente? - Olho para o monitor e vejo que sua frequência está levemente alterada, o que me faz sorrir e o olhar novamente.

- Pedi para desligarem o som. Ainda não aprendi a controlar isso. - Indica o local de seu coração. - Mas, já que perguntou, estou me sentindo muito bem. Bom, tirando a parte em que uma enfermeira veio ver o meu xixi, está tudo ótimo.

- Quer que o Chris faça isso? - Rio e ele nega com a cabeça. - Vamos lá, tenho que colher uma amostra de sangue. - Ele estica o braço para mim e eu ponho as luvas. Enquanto isso, ele observa cada movimento meu e morde o lábio. - O que foi?

- Você é uma médica muito sexy.

- Estão te dando muita morfina. Mas eu até gosto disso. - Amarro um elástico em seu braço e busco uma veia.

- É errado eu me excitar te vendo bruxar uma veia minha? - Ergo meu olhar e enrugo minha testa, porque estou com a cabeça baixa.

- Eu não diria errado, diria peculiar. - Ele sorri sem mostrar os dentes, o que dá um aspecto angelical ao seu rosto.

Tiro três tubos de amostra e desamarro o elástico, colocando um adessivo de curativo por cima.

- Vou buscar um lanche, tirei muito sangue de uma pessoa tão magrinha. - Ele faz uma careta. - Além do mais, já está na hora de comer.

- Eu ouvi "comer"? - Christopher aparece na porta com uma bandeja. Esse garoto é o melhor amigo que eu já vi. - Está na hora da sua primeira refeição normal. - Entra e coloca o objeto sobre o criado mudo.

- Chris, não fica mimando ele, ok? Deixe que coma sozinho. - Pego os tubinhos com o sangue e me ponho a sair do quarto, mas Erick me chama e eu me viro.

- Quando volta?

- Depois que comer tudo. - Pisco um olho.

- Parece minha mãe.

- Sou sua médica.

Finalmente vou descansar! Tenho três horas até a aula de trauma. Vou deixar as amostras no laboratório e ir direto pro quarto.

Mi Medicina •EB•Onde histórias criam vida. Descubra agora